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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Dia dos Namorados

No escritório a mesa de Maria era a última, e a única de frente para a entrada. Para chegar até ela era preciso passar por outras doze, sendo seis de cada lado formando um corredor. Era a funcionária mais antiga, só havia ela de mulher, e dentre os funcionários a única que não era casada, embora esse fosse o sonho de sua vida. Todos seus irmãos, inclusive, haviam se casado há muito tempo.

De nossa parte, ela tinha toda a torcida para que isso acontecesse, pois a estimávamos muito, como pessoa e companheira de trabalho. Havia alguns meses Maria fizera um cadastro num site de relacionamentos buscando conhecer alguém para um relacionamento sério, e recentemente alguém entrara em contato com ela. Trocaram mensagens, e-mails, telefonemas, e se conheceram pessoalmente.

Faltava apenas um “sim” do pretendente para formalizarem o namoro. Naqueles dias, Maria não conseguia disfarçar a ansiedade, e àquela altura nem nós que passávamos muitas horas do dia juntos. Estávamos felizes por ela e também queríamos que ele fosse alguém que se importasse, confiável, um homem bom e é claro, romântico como ela.

Mas por que ele estaria demorando tanto para se declarar? Talvez ainda tivesse alguma dúvida sobre se seria feliz ao seu lado; ou haveria algo que tentava esconder, ou ganhar tempo? Não o conhecíamos e não deveríamos ficar imaginando coisas, mas não queríamos vê-la magoada, pois que não merecia. Qualquer que fosse sua decisão, esperávamos que fosse sincero.

Chegou o Dia dos Namorados. Eram dez horas, e Maria já sabia o que havíamos comprado para nossas esposas, onde iríamos jantar ou ambas as coisas, enquanto ela continuava aguardando uma resposta, mas já deixando transparecer seu pessimismo, evitando o assunto, e aparentemente se desfazendo de seus sonhos.

Foi aí que o veículo de uma floricultura estacionou em frente ao escritório. Talvez pelo colorido do furgão ou pura coincidência mesmo, todos nós paramos o que fazíamos para olhar a porta. Alguns poucos minutos depois o motorista desceu, abriu a porta de trás e pegou o maior buquê de flores que eu já havia visto. Eram, pelo menos, três dúzias de rosas vermelhas com flores do campo e ainda algumas outras divinamente misturadas, num arranjo digno de foto.

Não era uma atitude bonita ficarmos olhando, mas era inevitável. Aquelas flores só poderiam ser para ela, e aquele era o “sim” tão esperado, àquela altura por nós também. Um sentimento de alívio contagiou a todos e estávamos literalmente felizes. Claro! Ele havia aguardado por aquele dia para que tudo fosse inesquecível.

Na primeira mesa o funcionário da floricultura confirmou com o papel de entrega em mãos o nome de Maria. Não era possível ouvir, mas a leitura labial não deixara dúvida. Meu colega de trabalho indicou com o dedo onde estava, e de imediato dirigiu-se à sua mesa. Ele não era simplesmente um entregador. Conduzia as flores com honra, como se ele próprio as houvesse plantado, cuidado, colhido e trabalhado na composição do arranjo. Fez parecer que as flores foram merecia. Qualquer que fosse sua decisão, esperávamos que fosse sincero.

Chegou o Dia dos Namorados. Eram dez horas, e Maria já sabia o que havíamos comprado para nossas esposas, onde iríamos jantar ou ambas as coisas, enquanto ela continuava aguardando uma resposta, mas já deixando transparecer seu pessimismo, evitando o assunto, e aparentemente se desfazendo de seus sonhos. Foi aí que o veículo de uma floricultura estacionou em frente ao escritório. Talvez pelo colorido do furgão ou pura coincidência mesmo, todos nós paramos o que fazíamos para olhar a porta. Alguns poucos minutos depois o motorista desceu, abriu a porta de trás e pegou o maior buquê de flores que eu já havia visto. Eram, pelo menos, três dúzias de rosas vermelhas com flores do campo e ainda algumas outras divinamente misturadas, num arranjo digno de foto.

Não era uma atitude bonita ficarmos olhando, mas era inevitável. Aquelas flores só poderiam ser para ela, e aquele era o “sim” tão esperado, àquela altura por nós também. Um sentimento de alívio contagiou a todos e estávamos literalmente felizes. Claro! Ele havia aguardado por aquele dia para que tudo fosse inesquecível.

Na primeira mesa o funcionário da floricultura confirmou com o papel de entrega em mãos o nome de Maria. Não era possível ouvir, mas a leitura labial não deixara dúvida. Meu colega de trabalho indicou com o dedo onde estava, e de imediato dirigiu-se à sua mesa. Ele não era simplesmente um entregador. Conduzia as flores com honra, como se ele próprio as houvesse plantado, cuidado, colhido e trabalhado na composição do arranjo. Fez parecer que as flores foram dedicadas a Maria desde quando sementes no campo, como algo predestinado.

Enquanto se aproximava ela levou as mãos lentamente ao rosto. Estava emocionada e as lágrimas não foram mais contidas. Com toda classe ele se identificou e confirmou seu nome. Não, não era a Maria à quem deveria entregar as flores. Desculpou-se pelo mal entendido e sensibilizado, escolheu do buquê uma rosa e lhe deu. Ela agradeceu e retirou-se para ficar só. Não sabíamos o que fazer, ou o que dizer. Checamos com o entregador; ele havia errado de endereço, e o nome havia sido coincidência.

Pensamos em entrar em contato com o pretendente e sabermos dele qual era sua decisão. Não queríamos prolongar aquela espera, ainda mais depois do ocorrido. Alguém se ofereceu para conversar com ela a sós. Estava constrangida e não permitiu que fizéssemos contato com ele. Ela o esperaria como haviam combinado, e nos agradeceu pela preocupação e amizade.

O sujeito nunca lhe disse o “sim”. Aliás, nunca lhe disse nada, mas como não descobrimos sua identidade jamais pudemos lhe falar. Ah, a Maria? Sua mesa continua sendo a última do escritório. Para chegar a ela é preciso passar por outas quatorze, sendo sete de cada lado. É a funcionaria mais antiga, a única mulher dentre os funcionários, casada e muito feliz, porque realizou o sonho de sua vida. Romântica, não há um dia em que sua mesa esteja sem flores. E tudo começou com um equívoco e uma rosa, no Dia dos Namorados.

Autor:

Miguel Arcangelo Picoli é autor do livro Momentos (contos) e Contos para Cassandra (em homenagem à escritora Cassandra Rios).

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