Marrocos é, país do Magrebe arabe, independente da França, 1956, e Saara marroquino da Espanha, 1975, enquanto Angola, pertencente a África Austral, o último país africano a conquistar a sua independência sob ocupação portugués, 1975, sensível às ideias revolucionárias e aos princípios de libertação popular,
Ultimamente Marrocos e Angola conheceram aberturas e aproximação de pontos de vista, mantendo as relações diplomáticas com os demais países ibéricos, espanha e portugal, a evoluir na direção da questão da integridade territorial de Marrocos, levando, por sua vez, Angola a posicionar claramente sobre a sua posição, com respeito às relações mútuas, de cooperação, de desenvolvimentos de parcerias, comerciais, educacionais, e energéticas, apesar da dúvida que paira sobre tal reconhecimento dos separatistas da Polisario, reivindicadores de um estado arabe saharaui, em Tindouf, sudeste da Argélia.
Tais movimentos revolucionários, matéria da guerra fria, e dos regimes militares, continuam a levantar interrogações, sem resposta, sobre alguns conceitos base dos movimento de libertação, da guerra fria, das ideologias e separatismo, bem como dos interesses da independência colonial, da polisario, dos movimentos revolucionários defensores da Argélia, 75, em detrimento da soberania de Marrocos e seu território saariano.
Salientando, desde há anos, que as relações entre Marrocos e Angola conheceram altas e baixas, devido ao diferendo do Saara. Mas, após os dois últimos encontros entre Sua Majestade o Rei Mohammed VI e Presidente angolano João Lourenço, novembro de 2017 em Abidjan e em abril de 2018 em Brazzaville, os dois países começam repensar suas estratégias, intensificando seus contatos, diplomáticos, parlamentares, ministeriais, bem como do embaixador itinerante, como vontade de reforçar e diversificar a cooperação.
Em mês de de Maio de 2022, a visita do Embaixador Itinerante da República de Angola, Bernardo Mbala Dombele a Marrocos, abrindo uma nova fase nas relações, consequência da mensagem do Presidente João Lourenço, levada ao Rei de Marrocos, Mohammed VI.
Ontem, 11 de julho 2023, mais uma vez Marrocos e Angola mantiveram a terceira Comissão Mista, enquadrada na mesma lógica e augúrio em prol do futuro das relações entre Rabat e Luanda.
Tal estratégico país da África Austral, Angola, considerado o último da África a reconquistar a sua independência de Portugal em 1975, foi sensível às ideias revolucionárias e aos princípios de libertação popular.
Este comportamento traduz, sem dúvida, a ideia do Estado Angolano, a hesitação em relação ao grupo separatista da Polisario e seu reconhecimento, numa temática do respeito à autodeterminação dos povos, a errada e falsidade posição de manipulação em relação à integridade territorial de Marrocos e apoio aos movimentos de libertação.
Qual é então o comportamento da Angola em relação a tudo isto?
Angola, historicamente, após as independências e movimentos de libertação mantém uma certa posição cautelosa em relação a alguns grupos separatistas, manipulados e politizados por razões diferentes, caso da Polisario, suportado por Argélia, face à integridade do Saara marroquino.
Angola compreende esta situação do Marrocos, razão pela qual o país começa a mudar, mas numa posição lenta, avançando de forma inexorável.
O comunicado da República de Angola, ontem 11 de Julho 2023, em Rabat, sobre o diferendo do saara marroquino, entre Marrocos, polisario e Argélia, foi num contexto de uma solução política, do compromisso e consensual sobre a disputa artificial do Saara, prolongada por mais de quatro décadas.
Na margem do comunicado conjunto publicado no final dos trabalhos da terceira sessão da Comissão Mista de Cooperação, o chefe da diplomacia angolana sublinhou que o seu país saúda os esforços do Secretário-Geral das Nações Unidas e do Enviado Pessoal, Staffan de Mistura , no sentido de encontrar uma solução política justa, duradoura, mutuamente aceitável pelas partes, com respeito e compromisso.
Esta retórica da independência surte efeitos políticos e econômicos sobre o quadro de transformações de relações num novo quadro de cooperação e novo tom em linha política sem ser fruto do acaso ou fortuito.
Tal reconhecimento da entidade fantoche, frente da polisario, não impediu em consequência disso, Marrocos a desenvolver suas relações com o Estado angolano, numa estratégia de longo prazo e de parceria ganha-ganha, sem portanto mudar de posição ou aderir a certas atitudes equívocas, e ideologicamente obsoletas.
Recorde-se que o Marrocos, na procura de angariar Angola a esta questão nacional, não partiu de nada, mas sim de uma série de requisitos do suporte forte deste país, durante os anos da luta a independência ou de suporte aos ideais históricos que unem os dois estados pela filosofia política, paz, harmonia e estabilidade.
Nas relações internacionais, como disse, os símbolos contam, mas o realismo pesa muito mais.
Esta é a razão pela qual Marrocos entende plenamente o rol de desenvolver projetos socioeconômicos e parcerias mutuamente benéficas.
Tal intensificação das relações entre Rabat e Luanda só pode ter uma explicação, conduzir à retirada definitiva do reconhecimento do grupo da Polisário, apoiado por Argel, contra a marroquineidade do saara.
Diante disso, Marrocos e Angola estudam possibilidades de multiplicar esforços e contatos, parcerias e intercâmbios de forma intensa, com base num melhor conhecimento das realidades históricas e das questões políticas, com base nas certas posições mais lúcidas e pragmáticas.
Os expertos, professores e investigadores universitários, especialistas em questões geoestratégicas, acreditam que todos os critérios e condições são reunidos para Angola retirar o seu reconhecimento à frente da Polisario.
Esta terceira comissão conjunta Marrocos-Angola, realizada ontem, obviamente, tem por objetivo chamar atenção e converter a causa deste país da África Austral, num atributo denunciantes dos principais da Polisário, separatismo, em África.
A interrogação é sobre estas cartas de Marrocos, poder influenciar o processo?
Deve-se precisar sobre esta primeira vista entre as partes, podendo ser tocante às relações históricas, ao respeito mútuo, bem como do Agostinho Neto, um dos fundadores do movimento de descolonização e libertação de Angola, sob o jugo da ocupação portuguesa, beneficiando-se de um forte apoio de Marrocos, Fevereiro de 1961, em favor da luta e defesa de libertação nacional.
Com base nesses fatos históricos e relações de aproximação diplomática, iniciadas desde muitos anos, os dois países optaram por manter o ritmo de reuniões de altíssimo nível, base de estratégias comuns e respostas às ambições e desafios mútuos.
Outras posições que esses dois países vão adotando face às questões regionais e internacionais, a exemplo da Comissão Mista (CM), como oportunidade para avançar nos projetos estratégicos, estreitamento dessas relações políticas e económicas durante a segunda comissão mista CM, realizada em Luanda em 2013.
Anotando a importância de realçar a posição da região sul, na qual Angola desempenha um papel de destaque, sobretudo como membro activo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).
Finalmente, Marrocos e Angola são dois países atlânticos, em relação ao Norte e Sul, dadas especificidades geográficas abrindo novas perspectivas de cooperação e parceria.
Em termos de cooperação energética, o Reino de Marrocos e a República de Angola manifestam mutuamente um forte interesse em colaborar no vital domínio da energia.
Marrocos, detentor de eminentes conhecimentos na área das energias renováveis, visão do gasoduto, Nigéria-Marrocos, ( envolvendo 12 países africanos), podendo compartilhar e atirar atenção da Angola, além do precioso conhecimento e saber, em termos de recursos petrolíferos.
Para Luanda, Marrocos é um modelo de vanguarda em várias áreas de interesse da estratégia angolana. Aproximação dos países mediterrânicos passa por Rabat, uma vez que as relações privilegiadas com a margem norte deste espaço podem ser objeto de cooperação nas áreas de comércio, de formação e agricultura.
Tudo isso envolve a cooperação, caminho da mudança nas posições geopolíticas.
A questão que persiste é se Angola vai retirar o reconhecimento à Polisário, num futuro próximo?
A dinâmica internacional e da ONU, em relação a essa disputa geopolítica entre Marrocos e Argélia. Tem repercussões e resulta das resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, 2414, 2440 e 2654, cuja iniciativa de autonomia foi proposta pelo Reino de Marrocos, 2007, a secretaria da ONU, como solução realista e alcançável.
Este crescente apoio internacional de países importantes e influentes, como Estados Unidos, Espanha, Itália e Alemanha, entre outros, à Iniciativa de Autonomia Marroquina, ilustrando ainda a preeminência da visão marroquina.
Referindo as principais cidades do saara, Laâyoune e Dakhla, abrigando mais de trinta consulados gerais, seja 84% dos Estados Membros da ONU, face aqueles que ainda não reconhecem a entidade separatista, dado desenvolvimento económico e social nestas províncias do Sul, elucidando a situação altamente positiva e dinâmica. Levando a responder às condições a nível pragmático e político em favor da Angola, a retirar o seu reconhecimento à Polisario.
O que Angola ganha reforçando suas relações com Marrocos?
Angola pode ganhar muito com relações marroquinas.
Em primeiro lugar, as alavancas geoestratégicas de Marrocos são uma oportunidade para Luanda, e Marrocos, tornando países, capazes de constituir um importante eixo da política atlântica africana, cristalizada em favor do desenvolvimento.
A nível económico e comercial, o Marrocos continua a ser um país estratégico para as empresas angolanas, dada a proximidade geográfica de Marrocos à Europa Ocidental, bem como a política marroquina no Mediterrâneo.
No domínio da luta contra o terrorismo, tráfico de drogas, imigracão ilegal e intercontinentais, injustiça, direitos humanos, o Marrocos procura uma posição como membro, observador, no seio da comunicade de Lingua portuguesa CPLP, bem como no eixo Brasil-Mercosul, Marrocos-Angola, versus Magrebe árabe-Marrocos (UMA), a titulo de parceriais e cooperacão bilateral e multilateral, aproveituosas para Marrocos e Angola, bem como para os paises da CPLP.
Realçando ainda mais o Marrocos, considerado como um país importante, procurando estreitar as relações com a CEDEAO, Angola, parte da Comunidade dos Estados da África Ocidental, e Marrocos, país dos países da África Ocidental.
Tal abordagem é capaz de reforçar o trabalho comum em diversos domínios, investimento triangular e energias renováveis, ??além de alinhar a posição de Angola nos eixos estratégicos de dimensão internacional. Uma vez que esta estratégica entre os dois países só pode ser benéfica para o continente africano, e a aliança atlantista ( Norte e Sul) entre os diferentes países africanos.
Autor:
Lahcen EL MOUTAQI
Pesquisador universitário-Rabat, Marrocos