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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Experiência imersiva e política marcam a intervenção urbana “Florestania”, da diretora Eliana Monteiro, na 15ª Quadrienal de Praga, na Europa

Em 2022, o projeto foi selecionado pelo júri internacional do festival, que acontecerá de 08 a 18 de junho de 2023

A encenadora, cenógrafa e performer Eliana Monteiro, do Teatro da Vertigem, apresenta a intervenção urbana inédita “Florestania”, a partir de 08 de junho de 2023 (quinta-feira), durante a 15ª Quadrienal de Praga, na República Tcheca, na Europa. Serão instaladas 13 redes divididas em 3 pontos estratégicos da cidade de Praga – cidade sede do festival que convidou a diretora para integrar uma mesa de discussão sobre povos originários de diversos países, em que apresentará vídeos produzidos por indígenas brasileiros.

A experiência imersiva do público de deitar nas redes, observar o céu e sentir o vento e o tempo é completada por sons registrados na Amazônia, reproduzidos em fones de ouvido e vídeos gravados na floresta.

As redes foram produzidas por mulheres de diferentes etnias indígenas brasileiras, como Noke Ko’í, Honi Kuin e Kalapalo, com participação também de Txawa, Meto, Nawa Itxa, Vari, Kai, Mashe e Nai. As peças representam os 13.235 km quadrados de árvores da Amazônia brasileira que foram devastadas em 2021.

Uma busca por reconexão

A ideia da instalação surgiu em agosto de 2019, quando o céu de diversas cidades do país, incluindo São Paulo, ficou cinza às 15h devido às queimadas em áreas de florestas, algo recorrente nos últimos 4 anos. Naquele dia, quando “o dia virou noite” devido à fumaça das queimadas, e junto com uma quantidade infinita de notícias na imprensa nacional e internacional sobre o descaso com o meio ambiente, a artista Eliana Monteiro começou a conceber seu projeto, que denuncia a situação vivida nos últimos anos e anuncia uma saída através da reconexão com os povos indígenas e com a natureza.

Repensar as relações

A ideia central é que a ocupação urbana pelos povos originários brasileiros durante a 15a Quadrienal de Praga chame à atenção o repensar das relações que estão sendo construídas com o tempo e o espaço e as sociabilidades futuras; desaceleração e descolonização, visto que essa população tem se esforçado

nesses mais de 520 anos de descoberta/invasão do Brasil para mostrar aos homens brancos o respeito à natureza e outras possibilidades de humanidades.

O conceito FLORESTANIA, criado pelo cronista Antonio Alves, consiste na desmistificação do antropocentrismo moderno e na proposta de integração homem-natureza. O conceito induz o estabelecimento de novo pacto social: um “pacto ecológico”, baseado no reconhecimento e resgate de toda a contribuição indígena com o enriquecimento do solo e cobertura da floresta, por seus cultivos alimentares diversificados, para atingirmos o equilíbrio de nossas ações e relações com o ambiente em que vivemos.

Outro objetivo da intervenção é promover uma reflexão afetiva: como despertar a Florestania para uma reconexão com a floresta e ressignificação da natureza?

Nesse sentido, a experiência de deitar-se em redes confeccionadas por indígenas utilizando matérias próprias de seus territórios proporciona, por si só, que o público esteja em contato com o meio ambiente, possibilitando que esse seja o fio condutor que estabelecerá a conexão com a floresta.

A confecção das redes envolveu pessoas de diversas etnias indígenas do Brasil, como a Noke Ko’í, da Aldeia Viñoya, terra indígena Rio Gregório, em Tarauacá, Acre. Nessa aldeia, a anciã Rave Varinawa e sua filha Mema, ambas artesãs, deram oficina de confecção de redes a outras mulheres, homens e crianças, com organização do Cacique Pero e de Luandra.

Sobre o evento

A Quadrienal de Praga é mundialmente conhecida como um evento de duas semanas que ocorre a cada quatro anos desde 1967 em Praga, República Tcheca. Este modelo foi evoluindo. Mais e mais designers agora entendem o PQ como uma plataforma: um fluxo contínuo de atividades e colaborações acontecendo em todo o mundo com muitos parceiros diferentes, profissionais criativos, artistas, pesquisadores e teóricos. Cada festival local do PQ é agora o ponto culminante dos esforços dos 4 anos anteriores: uma celebração e uma oportunidade para profissionais de artes cênicas de todo o mundo virem a um lugar e compartilharem seus trabalhos, ideias e pensamentos durante o quadriênio do festival.

Ao celebrar as diversas formas de design/cenografia de performance em todo o mundo, a Quadrienal de Praga se esforça para apresentá-la como uma forma de arte preocupada com a criação de ambientes de performance holísticos, não apenas fundos decorativos; esses espaços performativos respondem criativamente às questões atuais do nosso mundo, fazem perguntas importantes e nos convidam a participar de momentos únicos. A cada quatro anos, o conceito curatorial central do PQ molda o festival e oferece a seus participantes um novo olhar sobre a reflexão artística de nossos tempos em projetos de performance e cenografias.

A Quadrienal de Praga é iniciada e financiada pelo Ministério da Cultura da República Tcheca e organizada pelo Instituto de Artes e Teatro.

Quadrienal de Design de Performance e Espaço de Praga: PQ – Quadrienal de Praga

Ficha Técnica

Direção e concepção artística Eliana Monteiro

A encenadora integra o Teatro da Vertigem desde 1998. Dirigiu “A última palavra é a penúltima” na Bienal de São Paulo de 2014, a intervenção urbana “Marcha à Ré”, em 2020, e assina a direção de outros espetáculos como “Na Solidão dos Campos de Algodão, 2022, e Estilhaços de Janela Fervem no Céu da Minha Boca, em 2021, pelo qual ganhou o prêmio APCA na categoria especial. Co-dirigiu os espetáculos Bom Retiro 958 metros e Agropeça, no qual assina também a cenografia em parceria com Willian Zarella; participou como diretora de cena e assistente de direção dos espetáculos: BR-3, O Paraíso Perdido, O Livro de Jó, Apocalipse 1,11, no Brasil e em festivais internacionais, Dire ce qu on ne pense pas dans des langues qu’on ne parle pas (Festival D’Avignon); e nas óperas Dido e Enéas e Orfeo ed Euridice. Foi indicada ao Prêmio Shell de Teatro 2006, na categoria especial, pela direção de cena e logística de apoio à cena do espetáculo BR-3. Foi curadora nos seguintes festivais: Mostra de Teatro do Maranhão, Festival Internacional de Rio Preto, Festival Nacional de Teatro de Presidente Prudente.

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dramaturgismo: Bruna Menezes e Patricia Montanari

direção de arte: Eliana Monteiro

direção musical: Tomé de Souza e Igor Souza

cenografia: Rafael Bicudo

colaboradores indígenas: Povo Noke Ko’í

direção de produção: Leonardo Monteiro e Leo Birche

teaser do projeto: https://tinyurl.com/ybv7kh4f

redes sociais

Quadrienal de Praga @praguequadrennial
Teatro da Vertigem @teatrodavertigem_
Eliana Monteiro @lili.moonteiro

Autor:

Erico Marmiroli

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