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terça-feira, 4 de março de 2025

Fazendo as pazes com a fala e a leitura

Aldo era um homem muito criativo e tinha a atenção de todos quando chegava em qualquer lugar pela forma cordial e amistosa como tratava todo mundo.

Ele circulava em todos os grupos e tinha o respeito e o carinho de quem o cercava.

Sua desenvoltura em saber entrar e sair de qualquer lugar era admirável. Alguns amigos brincavam com ele, insistindo para que ele estudasse sobre a possibilidade de entrar para a política por ele ser um entusiasta de primeira linha, mas ele, mesmo amando falar sobre política, sempre levava na esportiva aquelas brincadeiras, apesar de ter, em sua rotina diária, o costume de estar por dentro dos fatos do cotidiano, principalmente os mais relevantes, como a política.

Mas, por mais conhecimento e conteúdo que ele tivesse em sua bagagem, sua comunicação era de difícil compreensão para quem convivia com ele.  Sentia que os seus pensamentos eram muito rápidos e ele tinha verdadeira dificuldade de concluir uma conversa, o que o deixava muito desapontado. Ele percebia isso quando as pessoas falavam para ele justamente o que ele “pensou” ter dito e não entendia porque a pessoa repetia o que ele havia “pensado que tinha falado”. Até que confidenciou isso a um amigo muito próximo e o amigo deu uma resposta que ele nunca imaginou escutar: Aldo não concluía o seu raciocínio e sempre falava mais de um assunto ao mesmo tempo, nunca concluindo o primeiro.  

Ao ouvir aquilo do amigo, agradeceu, mas isso foi se arrastando ao longo dos anos.

Frustrado, passava longe dos livros, até que ingressou na faculdade de Direito. Desde que se entendia por gente, tinha o sonho de se tornar um grande advogado e amou aquela profissão desde o primeiro dia de aula. Mas, claro, encontrou o seu maior desafio: o hábito da leitura e concentração.

Certo dia, cansado de sentir a frustração do dia a dia, procurou ajuda médica e foi diagnosticado com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).

No início, ele ficou confuso, sem saber ao certo do que se tratava aquele diagnóstico, mas quando ele começou a pesquisar mais sobre o assunto, ficou chocado: tudo, enfim, começou a se encaixar e começou a compreender tudo o que girava ao seu redor em relação às  dificuldades de concentração.

Ele, enfim, depois de quarenta anos, conheceu a si mesmo e compreendeu que sua dificuldade na comunicação, concentração e na rotina do dia a dia nada mais eram os sinais evidentes de uma pessoa com TDAH.

Lembrou-se, então, que quando era adolescente foi questionado sobre qual livro ele estava lendo e ele lembrou da resposta que dera: “Nunca li um livro.”. Aquele resposta amargurou ele por todos aqueles anos e ele nunca entendia o real motivo dele não conseguir fazer a leitura completa de um livro. As palavras não faziam conexão para ele e a concentração passava longe dele e ficava apenas a derrota de não conseguir concluir uma leitura.

Pesquisou muito a respeito da doença e buscou ajuda com exames neuropsicológicos, medicamentosos e percebeu que seu pesadelo cessaria e ele, enfim, sorriria, de fato, para a vida.

Ele lamentava por não ter buscado ajuda profissional antes, mas ficou extremamente feliz e agradeceu por estar, finalmente, se conhecendo e tendo total acesso à leitura de um livro, seja de autoajuda ou científico.

Finalmente sua vida desabrochou e ele pode ficar em paz consigo e com as palavras ditas e lidas.

Autora:

Patricia Lopes dos Santos

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