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domingo, 23 de fevereiro de 2025

Homônimos, sósias, vinho e sexo

Não existe atitude mais nobre do que ajudar o próximo. Mesmo que modesta, a ajuda faz bem a quem recebe e lava a alma de quem pratica. Não importa se é por caridade, compaixão, quebra-galho, anônima ou a um amigo ou parente. Se é desinteressada, é válida! Conheço pessoas que sempre ajudaram o próximo, cada qual a seu modo. É o caso de Giuseppe Ascari e seu primo Giuseppe Ascari. Calma! Não há erro nos nomes. Vou explicar a origem da coincidência.

Seus pais são filhos de Giuseppe Ascari. Complicou? Na região da Itália de onde vieram, há uma tradição: se o primeiro filho é homem, terá o nome do avô paterno. Foi o que aconteceu com os primogênitos de Pietro e de Paolo. Nasceram com 30 dias de diferença, em São Paulo, mesma maternidade e ambos receberam o nome do avô. O filho de Pietro nasceu bem maior que o de Paolo. Para diferenciar, um é Pepe e o outro Pepino. Aos 3 anos, o peso e a altura se igualaram. Como se não bastasse o nome igual, eram tão parecidos que passariam por gêmeos idênticos.

Essas coincidências causaram embaraços na escola, no clube, na igreja e entre os amigos de Pepino. Pepe quase não tinha amigos. Era muito aplicado, excelente aluno, nerd, Q. I. altíssimo, criativo, porém desajeitado com as garotas. Pepino era o oposto. Não estudava, não lia, mas era popular, esportista e namorador. Sempre foram muito próximos e sempre se ajudavam. Pepe fez várias provas no lugar de Pepino, se não ele jamais teria concluído o colégio. Pepino arrumava encontros duplos para apresentar garotas ao Pepe, mas ele arruinava tudo pela ausência de bom papo e jogo de cintura zero.

O gênio fez faculdade no Vale do Silício, Califórnia, e ficou por lá. Montou uma Startup que virou unicórnio. Pepino parou no Colegial e trabalha como ajudante de cozinha na Cantina do pai. Engravidou a filha de um cliente e duas garçonetes.

Pepe convidou o primo para visita-lo na Califórnia e envolve-lo no negócio, pois o tio anda muito doente e quer fechar a cantina. Sabe que na mão do filho vai à falência em meses. Na viagem até Los Angeles, uma linda mulher sentou-se ao lado de Pepino. Ele se apavonou, usou as mais variadas técnicas de cantada, mas a bela loira se esquivou. Após a decolagem, Sofia pegou a revista de bordo e leu: Conheça Giuseppe Ascari (o Pepe, claro) – O jovem multibilionário da Internet e o solteiro mais cobiçado do momento.

Sofia insinuou-se discretamente, mostrou a revista e perguntou se é ele na capa. Pepino exibiu o passaporte, sorriu e a conversa rolou solta. Ela é modelo fotográfico e namora o filho de um rico fazendeiro, mas caipira rico é uma coisa e multibilionário é mil vezes melhor. No desembarque, insistiu com o suposto Pepe para que fosse ao seu apartamento antes de seguir viagem até a sede da “sua” empresa. Pepino aceitou o convite, passou a tarde com Sofia e somente à noite foi para a casa de Pepe. Preocupado com a demora, o primo quis saber o que aconteceu.

  • Você deveria ter chegado pela manhã!
  • Então – disse Pepino – aconteceram coisas. Vou começar pelo embarque. Um mulherão, uma verdadeira deusa, capa de revista, sentou ao meu lado no avião. Claro que joguei todo meu charme, mas ela fez doce.
  • Fez o quê?
  • Fez doce! Fez de difícil. Ô primo, você precisa se ligar nesses termos.
  • Tá bom. Depois você me explica. Continue. 
  • Eu já ia desistir quando ela pegou a revista de bordo. Quem ela viu? Eu! Ou melhor, você, mas somos tão parecidos que ela achou que fosse eu.
  • Sério? Você não disse que somos pessoas diferentes?
  • Que nada. Mostrou a revista, apontou para mim, mostrei o passaporte, ela viu a foto, leu o nome, somou 2 mais 2 e sorriu.
  • Por que você fez isso? Ela vai pensar que eu sou você!
  • Por isso mesmo. Você sempre me ajudou na escola, mas nunca saiu com uma bela garota. Aí, pensei: tá na hora de ajudar o Pepe. Vou ganhar a mina pra ele. Depois a gente vê o que faz.
  • Gostei! Obrigado. E o que aconteceu?
  • Rolaram altos papos. Sei tudo sobre você, ela leu a entrevista e caiu direitinho. Até tiramos uma selfie a bordo. Olha só!
  • Poxa! Lindíssima, primo! Quando vou conhecê-la.
  • Calma! Teve um probleminha. Ela pediu para ir até o apartamento porque tinha muita bagagem. Mentira. Só duas malas. Insistiu para subir e descansar um pouco. Aí abriu 2 garrafas de Opus One. Disse que é o melhor vinho da Califórnia.
  • É, sim, excelente e caríssimo! Tenho uma caixa aqui.
  • Tomamos 2 taças cada e fomos para o chuveiro. Ela é muito linda, mas fiquei preocupado. Como posso inaugurar a futura namorada do primo? Mas, pensei, se ela acha que eu sou você, então não tem problema. Dou o trato inicial e depois passo a bola. Saí do banho e fui para a cama enquanto ela secava o cabelo. Eu me empolguei e enxuguei a segunda garrafa do vinho. Só para desinibir, sabe?
  • Você, inibido? Você é um cara legal e não me importo por ter testado a Sofia, mas conta logo o desfecho. Quero saber como eu me saí na cama.
  • Então. Ela citou um escritor inglês, um tal de William Shakira ou coisa assim.
  • William Shakespeare, o maior escritor em língua inglesa. O que ela disse?
  • Falou que o William escreveu que “O bom vinho é um camarada bondoso e de confiança, se tomado com sabedoria. Em quantidade, compromete o desempenho.”
  • Tá, essa frase eu conheço. Mas quero saber como é que eu fui no sexo?
  • Primo, lamento dizer, depois de tanto vinho, você broxou!
Laerte Temple
Laerte Temple
Administrador, advogado, mestre, doutor, professor universitário. Autor de Humor na Quarentena (Kindle) e Todos a Bordo (Kindle). Crônicas de humor toda sexta-feira, às 10h.

4 COMENTÁRIOS

  1. Hahahaha!
    Laerte, você brilhante como sempre. A gente viaja na estória.
    Tornou-se um vício. Fico esperando a publicação para aliviar a tensão para o fim de semana.
    Obrigado por nos presentear com essas pérolas.

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