Hoje tenho quase quarenta e um…falta pouco para 41 anos e sou obrigada a confessar que não me sinto inteiramente confortável.
Onde foi que me perdi?
Quando foi que o GPS parou de funcionar?
Como não pude notar?
Será que foi na Avenida Paulista ou na Beira-Mar?
Cheguei aqui tão rapidamente que mais parece que fui lançada. Olho para trás e vejo o caminho percorrido tão fora de ordem, tão labiríntico que mal posso acreditar.
A minha irmã certa vez me falou que o problema foi a falta de planejamento, me levando à réplica imediata – ora pois, se o que mais fiz durante todo esse tempo foi planejar!
Planejar é ótimo, mas muitas (ou diversas) vezes as coisas saem dos trilhos feito um trem desgovernado (já ouviu essa expressão!?) e, quando isso acontece, só lhe resta segurar com toda a força, até que ele consiga parar.
Acredito que o descompasso dos meus passos tenha se dado logo após os vinte anos, quando entrei numa rua estreita de mãos dadas com um rapaz que eu havia acabado de conhecer. Desde aquele dia, as demais ruas e vielas tornaram-se extremamente confusas. Me vi num emaranhado tão grotesco que mal consigo me recordar.
Às vezes me sinto como se vivesse dentro de um sonho. O senhor já teve essa sensação? Imediatamente me lembro do filme “Matrix” e do quanto ao longo da minha vida já tomei as pílulas vermelhas e azuis, confesso que muito mais as azuis, que fazem analogia à ignorância abençoada. Se eu pudesse voltar atrás, optaria sem dúvida alguma, pelos comprimidos vermelhos, deixando que me mostrassem a verdade na sua totalidade.
Quando eu era criança ouvia dos adultos que eu “devia aproveitar pois, rapidamente ia passar”. Eu não entendia muito bem aquela frase, e também não procurava entender, afinal, faltava uma eternidade até que eu chegasse à idade deles.
ETERNIDADE?
Hoje me pergunto quanto dura uma eternidade. Se for o tempo que passou desde a minha infância até o momento presente, sou tristemente obrigada a declarar que essa e-ter-ni-da-de passou num piscar de olhos. E eu volto com a pergunta: onde foi exatamente que me perdi para chegar até aqui?
Continuo a caminhada com esse questionamento latente. A diferença daqui em diante é que caso o GPS venha a falhar e eu siga desnorteada por algumas ruas, tenho a destreza de recalcular a rota, afinal, já foram muitos anos de becos sem saída e estradas sem sentido.
Hoje, eu não tenho mais medo. Hoje, eu recalculo a rota quantas vezes for necessário. “
Autoria:
Fê L.