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sábado, 1 de março de 2025

A interconexão que desconecta

Mais uma vez a palavra “Luto” tomou conta das redes sociais.

Acordamos com o sangue de nossas crianças entrelaçado aos fios invisíveis da conexão – que nos desconecta.

Qual a relação dos massacres que vêm ocorrendo nas escolas com a interconexão? O que tem por detrás de todo esse cenário macabro?

Observo e observo muito, nós, todos nós (me perdoem a redundância), a nossa sociedade, cada vez mais distante da conversa “olho no olho”, do toque, do abraço. Dessas coisas que acalentam a alma e que dão aconchego. Vejo – o tempo todo – pessoas conversando, sem prestar atenção no que está sendo realmente falado, simplesmente porque estão com olhos e cabeça voltados e muito mais atentos para a tela do celular.

Vejo pais que não enxergam os filhos e vice-versa.

Esses dias dentro do ônibus, voltando do trabalho, uma jovem na faixa dos vinte e seis anos, me chamou atenção. Durante o trajeto de aproximadamente quarentena minutos, ela não tirou os olhos do celular, mas não foi isso que me deixou pasma, até porque posso dizer com muita convicção, que noventa porcento dos passageiros estavam com os olhos vidrados na tela. O que me deixou perplexa e preocupada foi o conteúdo que chamava atenção da moça. Ela estava na famosa rede social (Instagram) clicando nos stories (o dedo dela não parava), assistindo postagens de inúmeras pessoas. O bombardeio de informações (sem informação) era tão grande que eu tenho certeza que ela voltou para casa duas vezes mais cansada do que chegaria se não estivesse fixada no celular.

Durante todo o percurso que o coletivo fez, até descer no ponto, ela não viu o que estava acontecendo ao redor: quem entrou e saiu do ônibus, se as ruas estavam movimentadas ou se choveu.

Pois bem, volto ao ponto inicial deste texto, antes que eu me aprofunde ainda mais e você desista da leitura, e faço a pergunta: o que a interconexão tem a ver com os atentados nas escolas?

Eu te respondo que tem TUDO A VER. Acrescento que não é um fato isolado, que somente o fato de ficarmos conectados dia e noite, vai nos tornar assassinos. Absolutamente não! Isso no mínimo nos deixa mais estressados e com sobrecarga de informação inútil.

O que acontece de fato é que pessoas com desvio de comportamento, com problemas psicológicos, mergulhadas no submundo da internet (sim, existe um universo obscuro interligado entre os fios invisíveis), essas pessoas são uma verdadeira bomba relógio, prestes a explodir a qualquer momento. São criados grupos de seres já doentes psicologicamente, que se unem e se tornam ainda mais doentes. Dentro desses clãs, uns incentivam aos outros a cometerem crimes de todas as espécies, com direito a lugar no pódio e premiação.

O resultado disso não poderia ser diferente do que vem acontecendo.

Acordamos com a notícia do sangue de nossas crianças e adolescentes escorrendo dentro das escolas, local onde os pais se sentem, aliás, se sentiam seguros, para deixar os filhos enquanto vão ganhar o pão nosso de cada dia.

Somado a tudo isso, vejo alguns veículos de comunicação noticiando até a última gota de sangue, o que torna um gatilho para que mais pessoas façam o mesmo. Mas isso eu deixo como assunto para outra pauta.

Seria muito bom se pudéssemos parar e refletir sobre como estamos vivendo. Seria ótimo se passássemos a ter o discernimento do quanto os “fios invisíveis da interconexão” tem consumido o nosso tempo. Seria grandioso se vivêssemos com mais atenção às pessoas que estão à nossa frente e/ou ao nosso redor. Mas isso não é possível, a mensagem no WhatsApp grita, as fotos nas redes sociais brilham e o que eu consigo prever é um caminho sem volta.

Não se surpreenda se amanhã você acordar com a notícia de mais um massacre numa escola.

E antes que você me ache uma pessimista, eu te digo que o caos social é tão maior do que imaginamos que mal temos tempo para parar e refletir, afinal, estamos mergulhados dos pés a cabeça, numa outra vida, dentro das telas.

Autora:

Fê L.

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