A quaresmeira, tipo de jacatirão que tem esse nome porque floresce na quaresma, está em plena florescência, uma temporada especialmente colorida, talvez para compensar os tempos cinzentos pelos quais todos passamos nos anos anteriores, com a pandemia que eclodiu no inicio de 2020. Haverão mais abraços e mais beijos, nesta Páscoa, pois quase todos estão vacinados e quem é acometido pela covid 19 tem a doença mais branda. Só está tendo complicações com a “nova” covid quem se recusou a tomar a vacina.
Mas falemos das flores. Elas, as quaresmeiras, o jacatirão do outono, as flores da Páscoa, estão aí para nos lembrarmos que a vida continua, para nos lembrarmos de um Menino que nasceu e morreu para nos trazer esperança e fé e que essa esperança e essa fé é que podem nos dar alento para enfrentar o que nos fere. E agradecer o que dá cor e luz a nossas vidas.
Em Rancho Queimado, na grande Florianópolis, há um trecho da 282 que está uma beleza, tingido de vermelho e vinho dos dois lados da estrada. Na serra gaúcha também há muitos deles, principalmente nos jardins, e a quantidade de flores é um espetáculo à parte.
Este tipo de jacatirão, a quaresmeira, tem as flores menores do que o jacatirão nativo, que floresce na primavera/verão, mas é mais colorido, tem cores mais vivas, mais vibrantes. Então não dá pra não notar uma quaresmeira fechada de flores. O manacá-da-serra, outro tipo de jacatirão que floresce no inverno, é mais parecido com o nativo.
Fico encantado com as manchas vermelhas que as quaresmeiras deixam na mata, nos jardins, nas beiras das estradas. Mas não é um encantamento comum, simples, é um encantamento mágico, pois meus olhos são atraídos pelas cores das pétalas vermelhas e lilazes, no meio do verde, e meu olhar flutua em direção a elas, como se minha alma seguisse com ele em direção às cores. E então meus olhos brilham, como faróis, e o raio de luz é o canal de ligação com meu coração.
É assim que me sinto encantado com a generosidade das flores do jacatirão, encantamento que envolve meu olhar, minha alma, meu coração. Assustado com este tempo de pandemia que tivemos, nutro-me do encantamento das cores do jacatirão de Páscoa. Mas a pandemia está controlada com a vacina e as cores dos jacatirões continuam a colorir nossas vidas em todas as épocas do ano.
E parte deste encantamento, ainda, é o porquê de eu chamar a quaresmeira de “flor da Páscoa”. Acho que ele é a flor de Cristo, também, porque o jacatirão nativo está florescido em dezembro, quando nasce o Menino Jesus para todos nós. E uma variedade desse mesmo jacatirão, a quaresmeira, está florescida na Páscoa, quando aquele Menino, feito homem, é crucificado e sobe aos céus. O jacatirão está presente tanto na chegada quanto na partida do Menino, filho do Pai. Não é uma flor divina?
Pois a Páscoa não é simplesmente ovos e coelhos de chocolate. A palavra Páscoa vem do hebraico e significa “passagem”. Os judeus comemoravam esse dia antes mesmo do nascimento de Cristo, desde há muito tempo, então com outro sentido: o de liberdade, ou seja, a libertação de anos de escravidão no Egito. Para os cristãos, a Páscoa passou a celebrar o renascimento de Cristo, a passagem dEle deste mundo para o Pai.
Páscoa, então, é renascimento, renovação, a festa da libertação. Época de repensar a vida e renová-la, de refletir sobre o Menino que se tornou homem, morreu e ressuscitou, elevando-se ao céu, provando aos homens que há uma força divina, maior, regendo nossos destinos.
De maneira que Páscoa é fé em uma força maior que rege nossos destinos e é também jacatirão, a flor que anuncia o Natal e enfeita a Páscoa, que anuncia a chegada e a elevação do Menino filho de Deus. Então vivamos a Páscoa, pois estamos vivendo um renascimento, que pode ser a libertação de tudo que nos abate.
Autor:
Luiz Carlos Amorim
Fundador e presidente do Grupo Literário A Ilha em SC, com 42 anos de atividades e editor das Edições A Ilha, que publicam a revista Suplemento Literário A Ilha, a revista ESCRITORES DO BRASIL e mais de 100 livros editados. Eleito Personalidade Literária de 2011 pela Academia Catarinense de Letras e Artes. Ocupante da cadeira 19 da Academia Sul Brasileira de Letras. Editor do portal Prosa, Poesia & Cia. (Http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br ) e autor de 35 livros de crônicas, contos, poemas, infanto-juvenil, três deles publicados no exterior. Blog: http://luizcarlosamorim.blogspot.com
Parabéns pelo artigo, muito bom!