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terça-feira, 23 de julho de 2024

O comboio de blindados: tiros pela culatra

A semana começou agitada no Planalto Central. Aliás, a anterior já estava quente antes do dia dos pais, quando o General subordinado, em relação ao poder, mas hierarquicamente superior em relação a patente militar ao capitão — transferido por ex-ofício, previsto em lei específica para a reserva remunerada aos 38 anos de idade, quando estava sendo investigado por indisciplina e deslealdade ao exército, por sua intenção de organizar explosão de bombas em quarteis cariocas (veja link: https://veja.abril.com.br/blog/reveja/o-artigo-em-veja-e-a-prisao-de-bolsonaro-nos-anos-1980/, salvando-se de expulsão da corporação por meio de afastamento para disputa eleitoral quando se elegeu vereador no Rio no Janeiro (veja link: https://www.sociedademilitar.com.br/2020/04/entenda-bolsonaro-foi-expulso-do-exército-esclarecendo-isso-de-uma-vez-por-todas.html em 14 de dez. 2021) — expôs sua opinião sobre a questão da PEC do voto impresso dizendo que se essa fosse rejeitada no Congresso daria o caso por encerrado. 

Ao que tudo indica, o general — que desde o início de atual des/governo tem respeitado a hierarquia de poder, até pelo fato disso ser o óbvio no que tange a situação —, não se apetece da ideia do chefe, com patente inferior, aumentando o grau de indisposição entre ambos, o que demonstra, igualmente, a possibilidade de este, o general, estar representando o pensamento do Alto Comando Militar.  

Mas o Planalto Central passou uma semana tensa. Se a fogueira estava acesa com a apreciação da proposta do voto impresso, o ‘capitão presidente’, que já sabia que seu mimo seria negado, resolve — talvez seria melhor afirmar ‘organiza’ — o desfile dos blindados, apontado por observadores como ato incomum desde o fim da des/governança militarista. Portanto, a passagem desses pela Explanada dos Ministérios foi um aceno de força do chefe do executivo que a cada dia tem se acuado por conta das investigações judiciais e queda de popularidade. 

Qualquer pessoa com capacidade mental saudável tem consciência que o desfile da Marinha foi uma forma de intimidação a fim de forçar a aprovação da PEC 135/19. Mas aquela instituição justifica que a ação ocorreu para a entrega de convite para o presidente participar da Operação Formosa, em Goiás, no dia 16 deste mês. Quanto ao convite, é sabido que o presidente sempre é convidado para esse evento. Porém depois da retomada da democracia nunca fora por meio de comboio de tanques blindados. Seria a encenação uma forma de intimidar o Legislativo, já que a PEC passaria por julgamento no plenário naquele dia? 

Não há necessidade de muita inteligência para responder à questão levantada, pois o presidente tem feito acusações ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como cúmplice com falcatruas, mas não expõe amostras delas. E não é segredo suas ameaças à suspensão das eleições caso não seja adotado voto impresso. Pior: de acordo com artigo de sábado (14), o colunista da Revista Fórum Ivan Longo, informa que em entrevista à Folha de São Paulo, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), põe em dúvidas a aceitação do resultado da eleição presidencial em 2022, caso o eleito não seja ele — o atual presidente. Mas por enquanto, o caso do voto impresso está encerrado. Resta saber se o veredicto dado pelos deputados será respeitado. 

Com a rejeição da proposta da PEC 135/19, a expectativa era de que a fogueira fosse apagada. Puro engano, pois rondam na capital boatos que oficiais da reserva têm difundido a existência, nos altos comandos militares, de movimento para substituir o ‘capitão presidente’ pelo seu vice. É possível que sim, mas para que se concretize há muita lenha a ser queimada. E se esse movimento realmente estiver em andamento, com certeza o chefe do executivo já tem conhecimento. Portanto, pode ser que a fogueira seja abastecida, daqui para frente, com gasolina. Embora o preço esteja muito alto.  

A prisão do presidente do PTB, também, pode trazer agitações no campo político, considerando ser ele aliado do presidente e um sujeito que não mede o que fala.  

Por parte do ‘capitão presidente’ já se sabe que por meio de redes sociais ontem (14), cobrará do Senado instalação de processo sobre os ministros da Suprema Corte, Alexandre de Moraes e Barroso sob a alegação de que estes têm excedido na tomada de decisões, sem considerar a Constituição, o que, na prática, são acusações infundadas, pois, ‘liberdade de expressão’ não pode ser confundida como falar o que se quer sem fundamentações.  

Nesse sentido, promete organizar comitiva para caminhar do Palácio do Planalto ao Senado, a fim de pedir o impeachment dos ministros. Por sua vez, o presidente do Senado já deixou claro que esse intento será inútil. Evidentemente se sabe que a finalidade do presidente é apenas uma encenação para atrair seguidores e manter sua decisão de ataques à Suprema Corte. Portanto, perda de tempo frente ao desespero. 

A semana que se inicia promete muito fogo. E a ‘ingrisia’ — como dizia minha avó — semanal já começou com a acusação do ex-presidente da Câmara de que Bolsonaro ataca a Suprema Corte para justificar um possível golpe. Indo além, afirma serem os presidentes da Câmara e do país, um só corpo a que chama de ‘Bolsolira’    

O que se sabe é que daqui até a eleição presidencial de 2022 a fogueira política será alimentada. Talvez com gasolina. Apesar do preço tão elevado.  

Para quem não é vidente, o jeito é esperar para ver.  

Autor:

Pedro Paulino da Silva é graduado em Ciências Sociais pela FAFI Cachoeiro de Itapemirim e Mestre em Educação pela UFES. 

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