No início de 2020, o mundo se deparou com o ineditismo de uma situação que viria a mudar a forma das relações sociais em todo o mundo. O espírito de Gaia, a mãe terra, como chamavam os gregos na antiguidade, se viu frente a frente com uma pandemia de Coronavírus.
De repente tudo ficou mais cinza: cessaram-se os abraços, as festas, as saídas para os bares entre amigos/as no final do expediente e os finais de semana na praia. Adotaram-se medidas severas de distanciamento social recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O mundo ficou silencioso. Cada um e cada uma que podiam, ficavam em suas casas, reclusos. Lá fora somente o vento sibilando e as pessoas que precisavam se expor ao vírus mortal para trabalhar em serviços essenciais. Pelo menos no início foi assim.
Diante de tal cenário dantesco, surge uma situação social virginal e as incertezas sobre ela: eis que emerge o ensino remoto. A priori, a ideia, mesmo que de caráter paliativo, não é ruim. Alunos/as e professores/as em casa, assistindo ou ministrando aulas na segurança de seus lares. Tudo certo. Será?
Basta um olhar mais acurado para perceber que não demoraria muito para que o ensino remoto evidenciasse as diferenças sociais no país. E evidenciou. Os problemas começaram a surgir: e as crianças sem acesso à internet? A solução: as escolas disponibilizariam material impresso para que as atividades fossem realizadas em casa. Até aí tudo bem, não fosse o triste detalhe de que o Brasil possui 11 milhões de analfabetos, segundo uma recente pesquisa do IBGE, de 2020.
Ora, por uma questão de lógica olhando através deste número alarmante, não é de difícil constatação que existe uma enorme quantidade de mães, pais e responsáveis que não sabem ler e/ou escrever. Quem auxiliará as crianças na realização das atividades escolares? Como que um adulto que não domina a norma culta da língua e não sabe decifrar os códigos escritos irá ensinar sobre ditongo, tritongo e hiato?
Obviamente que, para quem possui boas condições financeiras e certa estrutura familiar, o problema não é de difícil solução, porém o ensino remoto é um tapa na cara de quem já sofreu a vida toda com a subalternização das classes populares e a falta de compromisso com a educação. Resumo da ópera: nada de novo sob o sol. Hoje, um ano e meio de pandemia no Brasil e mais de 568 mil mortes depois, o ensino remoto segue. Mas para quem?
Autor:
Anderson Gonzalez, pedagogo e mestrando em educação.
Infelizmente o ensino remoto tem os dois lados da moeda… uma pena para crianças que não possuem muito acesso e até mesmo pais com pouco estudo e/ou pouco tempo para auxiliar… O que será destas crianças?