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quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Valsa do adeus

Adeus, amor, eu vou partir
Ouço ao longe um clarim
Mas onde eu for irei sentir
Os teus passos junto a mim 
(Robert Burns/Alberto Vieira / João de Barro)

A canção escolhida para hoje tem um significado todo especial para mim. Mesmo porque a primeira vez que ouvi a melodia, não foi com a letra original. Não. Na verdade, foi uma versão escrita por não sei quem, que cantamos no encerramento do ano letivo… na verdade, na nossa “formatura” do curso de admissão ao ginásio… sim, eu sou do tempo em que você, ao terminar o curso primário, tinha que prestar o vestibular para ser admitida no ginásio… hoje, o segundo ciclo do curso fundamental, ou Fundamental II. Outros tempos… 

Nos dias de hoje a educação é inclusiva, na minha época de estudante era excludente. Você só seguia em frente com seus estudos se realmente estivesse preparada para tal. Não estou dizendo que isso era melhor… não. Estou dizendo que, enquanto você realmente não aprendesse as matérias que eram ministradas durante as séries letivas, você não era promovida e ponto final. E isso se iniciava já no primeiro ano primário. Você tinha seis meses para ser alfabetizado e já ser introduzido no mundo da leitura. Claro que alguns não conseguiam e ficavam pelo caminho. Mas a ênfase da escola era dar atenção àqueles que avançam através dos desafios impostos e, mesmo aos trancos e barrancos, chegavam até o ponto desejado. As professoras davam seu melhor, na tentativa de conseguir que todos os seus alunos atingissem o grau de excelência exigido pela Secretaria da Educação. Não era um trabalho fácil. Todo mês era aplicada uma prova aos alunos, para verificar o seu grau de aprendizado. No final do primeiro semestre, uma prova mais rigorosa, que serviria para separar já em um primeiro momento os melhores daqueles que necessitariam uma atenção maior, da professora e dos pais. e, finalmente, no final do ano, a prova final, ministrada pelo Estado, onde a mestra não tinha licença para acompanhar seus alunos, visto quer vinham inspetores da Secretaria para ministrar o tão temido teste… pois você tinha que atingir uma média de cinquenta pontos, no mínimo, para conseguir passar para  a próxima série….  

Quando você passava para o segundo ano já começava a aumentar o número de livros para você… Ciências, Matemática e História, além de Língua Portuguesa, faziam parte do currículo.  Em história, você ia aprender sobre o país, desde a “descoberta” até os dias atuais… é claro que não assim… devagar, um passo por vez. Em matemática, você começava com as tabuadas… e como era difícil aprender, meu Deus… mas você aprendia. Pois tudo o que você iria ver mais para frente dependia de você conhecer o básico, que eram as quatro operações… Em ciências, as primeiras noções sobre o que era o mundo, as reações químicas, essas coisas… e em Português, além de muita leitura, a introdução no mundo dos verbos e advérbios… 

Acho que em Português as aulas que eu mais gostava eram as de redação.  Pois eu sempre gostei de escrever. Era como eu me realizava. Soltar a imaginação, viajar pelo espaço-tempo, me sentir em outro mundo, o meu mundo… sim, pois quando você está escrevendo alguma coisa, você está vivendo em um mundo paralelo a este, você tem o poder de dar e de tirar a vida de seus personagens… Você está brincando de ser Deus… já havia pensado sobre isso? Eu, já… inúmeras vezes…

Bem, como eu disse acima, uma vez por mês a professora aplicava uma prova para sua turma… via quem estavas mais atrasado, tentava ajudar a criança a evoluir, chamava os pais para conversar… afinal, na prova oficial ela nada poderia fazer…

Como algumas pessoas dizem nos dias de hoje, o maior terror da criançada era quando a mestra aplicava uma prova surpresa. Ela entrava na sala, mandava guardar o material na carteira e deixar sobre a mesa apenas um lápis, uma caneta e uma folha de papel… nossa, a gente passava maus bocados. Mas a maioria consegui se sair bem. E assim a gente ia evoluindo, até chegar no fim do primeiro ciclo, que era o quarto ano primário. Se você tirasse uma média de oitenta e cinco pontos, estava garantida sua vaga na próxima etapa, que era o ginásio. Menos do que isso, tinha que prestar o vestibular e ser um dos primeiros classificados, para poder ficar com uma das vagas que sobrassem, após a matrícula dos alunos que haviam passado direto para o ginásio. Se você não se sentisse confiante em prestar a prova, faria o curso de “Admissão ao Ginásio”, um ano revendo todas as matérias, se preparando para a tão temida prova…

A minha turma do curso de admissão era uma turma muito bacana. Não me lembro de ninguém, além da professora, mas era um pessoal muito legal, como todas as crianças são, afinal… O meu primeiro livro de verdade, li quando fazia esse curso. Foi o ano em que os astronautas pisaram pela primeira vez na lua, e a professora pediu que escrevêssemos sobre isso. Foi o que eu fiz, afinal havia lido uma história em quadrinhos um pouco antes e as ideias sobre o assunto estavam bem frescas em minha cabeça. Depois que corrigiu as redações, a professora me chamou de lado e perguntou se eu lia muito livros, pois tinha achado minha redação excepcional. Expliquei que nunca tinha lido um livro, além dos escolares, e que todo o meu contato com a leitura vinha das revistas em quadrinhos, principalmente da linha Disney… ela ficou surpresa. No mesmo dia, emprestou-me dois livros de Monteiro Lobato, “Reinações de Narizinho” e “Don Quixote”… simplesmente amei a leitura. A partir daí, sempre que possível, passei a ler livros, também…

No encerramento do ano letivo, cantamos “A Valsa da Despedida”, claro que com outras letras. E nunca me esqueci desta, nem da Dona Olga, minha professora do quinto ano, que me iniciou no mundo da literatura…

São sete horas e quarenta minutos desta quinta feira linda que estamos vivendo! Fiquem com Deus e que Ele nos proporcione o mais belo dos dias que já tivemos em nossas vidas…

Autora:

Tania Miranda

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