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terça-feira, 23 de julho de 2024

Glória Maria, a luz do jornalismo

“O mundo é mágico. As pessoas não morrem, ficam encantadas”, diz Guimarães Rosa. Com essa frase é possível definir a nossa pioneira brasileira, Glória Maria! 

Nascida em Vila Isabel, Zona Norte do Rio de Janeiro, Glória Maria Matta da Silva veio ao mundo em 15 de agosto de 1949 para transformar muitas vidas através do jornalismo. Se formou na Pontifícia Universidade Católica (PUC – RIO) e, sua primeira aparição na televisão foi em 1971, na cobertura do desabamento do Elevado Paulo de Frontin no Rio de Janeiro. 

Filha de Edna Alves Matta e Cosme Braga da Silva, e neta de Alzira Braga, que viveu por mais de 104 anos, Glória Maria estudou em escolas públicas e se destacou por escrever excelentes redações e textos na escola. Estudou inglês, francês e espanhol. Com 16 anos deu início ao seu primeiro emprego como telefonista na Companhia Telefônica Brasileira, onde precisava juntar dinheiro para pagar a sua futura faculdade. Com 18 anos, ingressou no curso de jornalismo da Universidade Católica. 

Seu primeiro estágio foi como radioescuta na Globo. Ela ouvia as frequências policiais para descobrir os furos de reportagem na cidade. Além disso, de vez em quando, também ligava para as delegacias, para fazer o trabalho de apuração. Glória Maria foi a primeira jornalista negra a estrear a televisão em cores. 

Em 1986, Glória Maria passou a integrar a equipe do Fantástico junto com Bial, permanecendo lá até 2007. Foi no programa dominical que a repórter começou a explodir com suas icônicas matérias de viagem e entrevistas com famosos pelo mundo afora, como Leonardo DiCaprio, Madonna e Michael Jackson. Até o Freddie Mercury, a nossa pioneira entrevistou!

Entre outros eventos marcantes da carreira de Glória Maria, a jornalista cobriu a guerra das Malvinas em 1982 e a Copa do Mundo na França ocorrida em 1988. Em 2007, entrou de novo para a história ao participar da primeira transmissão em HD da televisão brasileira, no Fantástico, durante reportagem no Alto Xingu, onde ela visitou todo aquele povo e se encantou com a sua cultura. 

Glória Maria veio a se destacar na TV, em uma época em que os negros eram preconcebidos e marginalizados, fazendo pontas como empregados e escravos em novelas. O jornalismo televisivo era formado majoritariamente por homens brancos. 

A nossa pioneira abriu as portas e inspirou muitos estudantes do jornalismo a seguirem o caminho da comunicação sem medo e com coragem. 

Em uma de suas entrevistas à Bial, Glória Maria mencionou que nunca sonhou viver a maternidade. Mas, durante uma cobertura em Salvador, a nossa pioneira conheceu Maria e Laura em um orfanato e, desde então, foi amor à primeira vista. 

Por causa da burocracia, Glória Maria teve que se mudar para Bahia em 2009 para agilizar o processo de adoção e, depois retornou para o Rio de Janeiro com suas filhas.

A nossa pioneira fez uma volta ao mundo, deixando em cada lugar, um pedaço de si, um aprendizado. Principalmente a CORAGEM, que era o seu cordão! 

Sua história no jornalismo é louvável e recíproco. Glória Maria viveu intensamente e com coragem. Confesso que, com sua história de vida, eu tirei um aprendizado: aproveitar a vida e viver ela. 

Em uma manhã de 2 de fevereiro, aos 73 anos, a nossa pioneira brasileira se encantou devido a um tumor no cérebro que descobriu em 2019 após um desmaio em casa. 

À Glória, a glória eterna!

Autor:

Lucas Dolher ?

Jornal Tribuna, 2 de fevereiro de 2023

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