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segunda-feira, 26 de agosto de 2024

“Gênero neutro”e a linguística

Tenho visto algumas matérias sobre a “neutralização” do gênero na língua portuguesa, no Brasil, algumas contra e algumas a favor. Digo no Brasil, porque em outros países não vejo isto. O que também não tenho visto é alguém usar essa novidade, nem em jornais, nem em revistas, nem na televisão. Tá certo que tenho mais de sessenta anos, mas tenho muitos jovens nas minhas páginas em redes sociais, pois sou professor e escritor. Importante frisar que leio meia dúzia de grandes jornais brasileiros todos os dias.

Mas vamos ver primeiro o que é o “gênero neutro”, que alguns insistem que são de emprego corrente, atualmente: “uso de feminino marcado no caso de substantivos comuns de dois gêneros – exemplo: ” a presidenta” – pergunto: vai ser “a estudanta”, também?; emprego de formas femininas e masculinas, sobretudo em vocativos, em vez do uso genérico do masculino – exemplo: alunos e alunas, ao invés de Alunos!; inclusão de novas marcas no final de nomes e adjetivos, como “x” e “@” – exemplos: “amigx, amig@” (que coisa absurda, não? Isso não é linguística, nem gramática: o símbolo @ nem ao menos é uma letra); ampliação da função de marcas já existentes, como a terminação “e” – exemplo: “amigue”; e alteração na base de pronomes e artigos – exemplo: “ile”, “le” (outra vez: que absurdo, nunca vi nada disso). Querem bagunçar ainda mais a nossa língua, que já é tão vilipendiada.

De novo: não vi, ainda, em lugar nenhum esses disparates como “amigx”, “amig@”, “ile”, “nile”, “dile”, “aquile”, etc. Essa não é uma questão linguística, pois essas novidades não são de uso comum, não são de uso geral, pelo contrário, é de uso bem restrito. Línguística é o estudo da língua como ela é falada, mas o presente caso da “neutralização” de  gênero está se constituindo mais em uma imposição de escrita, por que não é de uso geral. Para que querer fazer mudanças na língua – mudanças que não são relevantes, nem inteligentes, nem necessárias – numa época tão difícil, quando precisamos priorizar a educação, que está falida em nosso país? Tivemos dois anos sem aula nas nossas escolas, infelizmente, devido à pandemia, a educação já vem sendo sucateada de há muito tempo, o abandono do ensino no Brasil é flagrante, então por que querer fazer mudanças, bagunçando ainda mais o sistema linguístico? Não temos obrigação de saber a preferência sexual de cada um e nem todas as pessoas homo querem ser identificadas, porque o que fazem na vida privada é direito de cada um, não interessa a mais ninguém. E se não soubermos isso, como usar as “neutralidades”?

Então o tratamento para as pessoas do  “terceiro” gênero é uma questão de educação, de novo, para não esquecer. E de respeito. Precisamos tratar com respeito todas as pessoas, para merecermos que sejamos tratados com respeito também. Se nos tratarmos com respeito, não é preciso inventar palavras novas para identificar o “gênero” de uns e de outros.

Precisamos parar de dar destaque a debates sobre assuntos que não são prioridade geral e dar importância a temas prementes, como o resgate da educação no Brasil. E quando falo educação estou falando de ensino, conforme reza o dicionário português. Ensino,  coisa tão menosprezada em nosso país. Há que se estruturar o ensino para que tenhamos um povo que possa escolher o que realmente é prioridade e assimilar, se for o caso, uma nova atualização na língua, desde que linguisticamente amparada, é claro. Porque a mudança que querem fazer parecer necessária é uma imposição arbitrária e descabida, beirando o ridículo. Respeito quem acha que ela é necessária, mas respeito também a grande maioria do povo brasileiro que nem sabe do que se trata. Que as mudanças sejam usadas entre as pessoas que querem usá-las, tudo bem. Se o uso se generalizar, o que duvido muito, quem sabe será o caso de voltar a discutir a sua inclusão?

Autor:

Luiz Carlos Amorim

Fundador e presidente do Grupo Literário A Ilha em SC, com 42 anos de atividades e editor das Edições A Ilha, que publicam a revista Suplemento Literário A Ilha, a revista ESCRITORES DO BRASIL e mais de 100 livros editados. Eleito Personalidade Literária de 2011 pela Academia Catarinense de Letras e Artes. Ocupante da cadeira 19 da Academia Sul Brasileira de Letras. Editor do portal Prosa, Poesia & Cia. (Http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br ) e autor de 35 livros de crônicas, contos, poemas, infanto-juvenil, três deles publicados no exterior.  Blog:  http://luizcarlosamorim.blogspot.com

5 COMENTÁRIOS

  1. O texto diz: “Não temos obrigação de saber a preferência sexual de cada um […] porque o que fazem na vida privada é direito de cada um […]” Vê-se que o autor não conhece a diferença entre orientação sexual e identidade de gênero. A orientação sexual é, de fato, privada (e sai do armário só quem quiser), mas a identidade de gênero (que é o tema do texto) é pública se a pessoa assim o quiser. Uma pessoa não binária, por exemplo, pode lutar para ser vista como não binária pela sociedade. Tão luta diz respeito a um aspecto de sua vida que ela entende como PÚBLICO, SOCIAL, e não privado. Para conversar sobre esse tema, é necessário primeiro entender a questão e informar-se com quem tem lugar de fala.

    • O autor cita “A Linguística” pra tentar mascarar sua completa ignorância no tema do gênero neutro, e não cita uma fonte bibliográfica propriamente linguística! O senhor por acaso sabe que já existem diversos trabalhos tratando do gênero neutro no PB, que inclusive já tem livro de revisão bibliográfica (muito bom, aliás)? Que retoma Mattoso Câmara e tudo mais? Basicamente: se as pessoas usam, existe. Simples assim. Não adianta espernear.
      Tenha um pouco de decência, meu senhor. Não é porque o senhor é velho, branco, sulista e cisgênero que deve se sentir autorizado a publicar um texto ruim desse. E ainda em nome da “Linguística”, que o senhor claramente ignora e usa como cartada pra manter na falsa sombra do conhecimento científico seu texto de mesa de bar banhado em preconceitos e LGBTQIA+fobia.

  2. Esses defensores do gênero neutro não têm mesmo o que fazer. Eles e outros grupos cheios de ideias tolas, querem mesmo é destruir a história! A história enquanto verdadeira história da língua portuguesa! Tolos!

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