Era o melhor que a cidade já vira, era comprometido em ser mímico, não falava nunca, só gesticulava e o entendiam. Era genial, sempre que se apresentava deixava todos que o viram
impressionados, usava a maquiagem de Pierrot, parecia que havia saído das ruas de Veneza e parado lá. Um homem muito inteligente que se recusava a falar, se comunicava com gestos,
maravilhando as pessoas, era o Zanni querido do povo. Se apresentava apenas de noite, era quando as pessoas estavam mais aptas ao proveito, estavam ali com vontade, queriam ver o que
Le Mime havia preparado para hoje, era tão único quanto Marceau, ou ao menos tentara. Mesmo amando a falta de linguagem verbal dele, queriam ouvir sua voz, era um desejo e um medo ao
mesmo tempo, queriam conhecer o homem por trás do mímico, mas sabiam que ele não permitiria, era um mistério que não queria ser resolvido. Era, em todos os aspectos, um homem dedicado
a sua arte, sua casa parecia um teatro popular, não era grande, mas cabia tudo que precisara, suas roupas eram todas em preto e branco, o máximo de cores que tinham era tons variados
de vermelho, usava-o como um parisiense. Ele se apresentava num ponto central da cidade, onde tinha os restaurantes mais movimentados e onde a luz alaranjada vinda das lamparinas refletia
no pavimento que, no horário da apresentação, receberia um pequeno palco onde o jogo de luzes e os gestos de Mime se tornariam uma mistura hipnotizante para os que lá passariam.
Quando chegou a noite, as pessoas já haviam se reunido nas ruas e nos restaurantes, foi quando o show começou. Quando avisaram que ia começar, as luzes se apagaram, porém voltaram
gradualmente, apontando à pequena plataforma onde Mime estava, parado e com um sorriso dócil, o que rendeu aplausos e aclamações da plateia, se reverenciou e começou seu espetáculo.
Fazia caretas e as tirava com a mão, como se fossem máscaras, brincou com a plateia e contou uma história inteira somente gesticulando, tudo isso com uma bandinha tocando no fundo, expressando
a emoção com violinos e violoncelos, acompanhando os movimentos do mímico. Quando o show acabou, se curvou ao público e as luzes apagaram novamente, ovacionado foi o artista e assim desceu do
pedestal. Quando recolheu suas coisas e voltou para casa, teve que organizar tudo para o que faria na próxima semana, queria sempre inovar. Ao se preparar para dormir, como de costume, se
limpou e tirou sua maquiagem, aí foi onde entendi o porquê de sempre usá-la, não havia nada debaixo da pintura feita em seu rosto, ele era o mímico.
Autora:
Layla Azoubel