O futebol e a economia têm em comum uma coisa maravilhosa: ambos permitem ser objetos de previsões retroativas, de forma recorrente e numa profusão como pouco se vê em outros assuntos.
Se a economia de um país vai mal, não faltam opiniões em que se escorar que dão conta de o problema ter sido aquilo, isso, ou mesmo aquele ou aquela. Inflação? Culpa do governo que mexeu errado nos juros? Gasolina barata? O governo tá certis, tem de baixar mesmo. Recessão? Culpa da guerra. Agora, o melhor: bolsa performou bem? Foi a fala do presidente eleito. Bolsa em queda? Culpa da fala seguinte do mesmíssimo presidente eleito. É sempre assim, sempre depois. Se perguntam o que acontecerá amanhã, a resposta é um mar de precauções e indefinições, uns gatinhos. Agora, leite derramado, vêm não apenas as grandes opiniões, mas os juízos pontifícios. É a natureza humana dos tempos em que se cobra a produção de algo pra falar, que se há de fazer.
Nisso me permito alterar o ditado: de técnico de futebol e economista, todo brasileiro tem um pouco. Se me demorei um pouco no contexto monetário, no da pelota a introdução é completamente dispensável pela naturalidade com que o assunto compõe o dia a dia do brasileiro; e o mar de opiniões que nos provê a internet em vídeo não me permitiria falar outra coisa.
E nesse oceano de thumbs contendo expressões faciais de susto, raiva, clarividências e certezas, ladeados por cortes de texto impactantes, mergulhei pra tentar dar um pouco de orientação ao meu sentimento depois daquela sexta-feira. É de luto, fato, mas ainda persigo a esperança de passar pelas respectivas fases da forma menos dolorosa possível e, se possível, sem sequelas.
No fundo, todas as tentativas são de buscar uma racionalidade que não há, devo admitir. Não dá pra julgar as decisões de um técnico e suas orto ou heterodoxias sem um resultado. Tite errou na ordem do pênalti? Sim porque perdeu. Por outro lado, Felipão errou em não levar Romário em 2002? Não, porque ganhou a copa. Que me perdoem os comentaristas profissionais e seu trabalho, mas há algo de fundamentalmente caótico no futebol. Em cada momento de posse de bola, vejo ali um ser humano, avaliando mil coisas ao mesmo tempo, percebendo mais ou menos do que está em volta, e cuja decisão é encadeada com a do próximo, e a do próximo… O volante roubou a bola, ok. O que ele vai fazer nos próximos 5 segundos? Quem soubesse esse tipo de resposta seria literalmente rico. Aquilo que vemos no placar é o resultado de uma equação composta de uma quantidade alucinante de variáveis, até porque convenhamos: planejamentos não costumam durar muito quando postos em prática.
Resta que o futebol é encantador porque deliciosamente imprevisível. É um vício prever o imprevisível, ansiar uma reviravolta épica de cada revés; amar e odiar alguém em intervalos de minutos repetidas vezes. E depois dos gritos e expectativas frustradas, ficamos com um mundo de infinitos “e se” quando o jogo acaba e o resultado não é bem o que esperamos. Mais: não importa o quão estóico ou humilde de opiniões seja um torcedor, nenhum brasileiro normal estará imune àqueles cinco minutos finais, vencendo, com o time todo avançado.
Autor:
@mariojpj