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quarta-feira, 24 de julho de 2024

Relembremos a Batalha da Sé

Existe um mito de que o Brasil é um povo pacífico, amigável e alegre. Mas isto se faz principalmente por anos de proposital ignorância dos inúmeros conflitos, revoltas e guerras internas que marcam a nossa história.

Um destes episódios que acho importante relembramos é a Batalha da Sé, também chamada de Revoada dos Galinhas Verdes. Em 7 de outubro de 1934 a Ação Integralista Brasileira organizou uma marcha nas ruas de São Paulo para demonstrar sua força política. Contudo tal manifestação acabou por resultar em uma troca de tiros entre os integralistas, grupos antifascistas e a polícia. Após a debandada dos integralistas, o saldo final foi de 7 mortos e 30 feridos.

Para entendermos as causas e o significado deste evento histórico precisamos entender o que é a Ação Integralista Brasileira. O integralismo surge no final do século XIX como um movimento interno da Igreja Católica, de grupos de reacionários católicos que rejeitavam a separação entre o poder temporal e o poder espiritual. Os integralistas defendiam uma integração entre os valores tradicionais religiosos e as ações políticas.

No Brasil o Integralismo ganha força no Golpe de Estado de 1930, tendo como seu principal líder Plínio Salgado. E por influência do que aconteceu com os integralistas europeus, em especial italianos, a Ação Integralista Brasileira se organiza de modo muito similar aos camisas pretas de Mussolini. O principal lema do integralismo brasileiro? Deus, Pátria, Família.

Os camisas verdes, como eram chamados os membros da Ação Integralista Brasileira, se organizavam de forma paramilitar, com treinamento, hierarquia e armas. E antes da Batalha da Sé já haviam ocorridos vários incidentes armados entre os camisas verdes e os grupos de esquerda, anarquistas e comunistas. Não custa lembramos que nesta época havia também o Partido Nazista no Brasil, o maior Partido Nazista que já existiu fora da Alemanha. Um Partido Nazista legalizado no Brasil e que chegou a ter membros em 17 estados.

A Batalha da Sé acaba por marcar o início da decadência da Ação Integralista Brasileira. Após o episódio, Getúlio Vargas coloca o grupo na ilegalidade. E não apenas isto, a moral da tropa, por assim dizer, ficou severamente abalada. Os integralistas fugiram em desespero no meio do conflito, mostrando que a disposição a violência ficou mais no discurso que na prática. O Barão de Itararé, jornalista e humorista da época, apelidou o evento de Revoada dos Galinhas Verdes. A pecha de valentões acovardados ficou e por décadas os integralistas foram chamados de galinhas verdes.

Mas a Ação Integralista não morreu. Diminuiu em números e em influência política, mas continua presente até hoje. Plínio Salgado chegou a ser Deputado Federal durante a Ditadura Militar. Após a redemocratização a Ação Integralista Brasileira quase desapareceu, mas começou a retornar durante o governo Bolsonaro.

Grupos integralistas sempre tiveram proximidade com o clã Bolsonaro. Citando apenas um episódio, em 2015 Marcos Antônio Santos, membro do grupo, foi convidado a discursar na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro em apoio ao programa Escola Sem Partido. Ele apareceu na Câmara travestido de Hitler, com o bigode e cabelo característicos e uma vestimenta simulando uma farda militar alemã. E não, não foi preso por apologia ao nazismo.

Após a eleição de 2018 os integralistas ganham espaço e influência no PTB, partido de Roberto Jefferson. A estética integralista nos discursos de Roberto Jefferson são nítidas. E até mesmo o lema “Deus, Pátria, Família” foi ressuscitado pelo próprio Bolsonaro.

Nesta última eleição para presidente chegamos a ter um candidato integralista lato sensu a Presidente da República, o Quase Padre Kelmon. O suposto sacerdote já foi palestrante no IV Congresso Nacional do movimento integralista, que ocorreu entre os dias 4 e 5 de fevereiro de 2012, em São Paulo.

Neste momento, após a vitória de Luis Inácio Lula da Silva estamos testemunhando um movimento organizado de bloqueios simultâneos em centenas rodovias federais, ameaçando a liberdade de ir e vir do cidadão, bem como o abastecimento de suprimentos, alimentos, medicamentos, etc. E qual é a principal revindicação deste movimento? Que as Forças Armadas anulem pela força o resultado das urnas, implantando um Estado de Excessão. Em resumo, defendem um clássico Golpe de Estado. Tal método ameaça a economia, a saúde pública e a vida de pessoas vulneráveis.

Isto acontece conjuntamente aos diversos atos de violência política, inclusive homicídios, que ocorreram durante a recente campanha. E lembremos também que duas grandes lideranças políticas, Roberto Jefferson e Carla Zambelli, usaram de armas para fazer a lei com as próprias mãos. Por fim, tivemos também uma manifestação em Santa Catarina (mesmo estado onde o Partido Nazista no Brasil tinha maior número de filiados) onde centenas de manifestantes cantavam o Hino Nacional enquanto faziam a saudação romana, gesto típico dos nazistas alemães.

Acompanhado disto existe a cultura entre estes extremistas de direita que “ordem absurda não se cumpre”, ou seja, que o cidadão teria o direito de desobedecer decisões das autoridades legalmente constituídas caso considere esta ordem injusta, ilegal ou imoral. Alguns se veem no direito até de usar armas para tanto.

Felizmente os extremistas da atualidade poderiam muito bem ser chamados de galinhas verde- amarelas. Torcidas organizadas de futebol, desarmadas e em pouco número, conseguem dispersar os bloqueios nas rodovias, sem violência. Quando as tropas de choque das Polícias Militares agem para dispersar os grupos, o uso mínimo de força é mais que suficiente. Até o momento apenas Roberto Jefferson, Carla Zambelli e alguns lobos solitários se utilizaram de armas para tal.

A covardia dos galinhas verde-amarelos começa no seu grande líder, que sequer tem a coragem de aceitar ou negar o resultado eleitoral, se colocando de forma dúbia e apostando que seus seguidores estejam dispostos a sacrificar a vida em nome da liberdade, conforme jurado no evento de lançamento de campanha.

Mas temos que agir antes que estas galinhas verde-amarelas queiram cantar de galo. Já há no mínimo uma atitude de complacência, quando não de apoio, de parte das forças policiais a estes atos. Lembrando que são atos que almejam o fim da democracia brasileira, e usam de um método que ameaça vidas e a economia.

É necessário que tranquemos estas galinhas verde-amarelas no devido galinheiro. Que os líderes recebam todo o peso da lei. Multas, prisões. E também repúdio público. Se agirmos de modo conciliador, correremos o risco de que a mentalidade de “ordem absurda não se cumpre” se una com as armas dos “cidadãos de bem”. E que o lema “Deus, Pátria, Família” acabe por revelar sua face histórica.

Autor:

Aniello Olinto Guimarães Greco Junior

1 COMENTÁRIO

  1. Amigo, você não sente vergonha de publicar um texto horrível destes? Mentiroso, cheio de viés, de falácias. Saiba você que o integralismo está vivo, e aumentando cada dia mais. Vocês são covardes, se escondem atrás de bordões ensaiados, e retórica assobiada por papagaios.

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