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segunda-feira, 2 de setembro de 2024

O amor é assim e depois

Existe a máxima: “na natureza nada se perde, tudo se transforma”. E se eu trocasse a natureza por sentimentos e emoções ainda seria válido? A raiva pode passar como um fogo que se apaga lentamente, ou pode-se jogá-la em outra coisa/pessoa e a floresta inteira ser queimada? A alegria e a euforia podem desaparecer como os riachos do inverno seco do serrado que deixam apenas o fundo lodoso culposo, ou ficam elas guardadas nas nuvens na espera dum novo desabar de chuva contagiante? Vejam só. A vítima pode se valer da positividade tola coauchiana – que é um empacotamento mercadológica do amor fati de Nietzsche – e transformar toda tristeza, dificuldade e tensão em oportunidades. Todavia, se ela não contempla tal destino amargo e esburacado pode se tornar ressentida com tudo ou numa vontade excepcional de vingança contra todos.

Só faço essa introdução para falar do que realmente importa: o amor. É o tal do amor. Ele se perde ou se transforma? Depende. No meu caso ele se perdeu, se transformou e depois se manteve. Eu explico. Primeiro, a pessoa que eu amei morreu. Calma. Na verdade, ela continua vivíssima, mas o que eu quero dizer é que ela não é mais a mesma pessoa que eu me apaixonei. Vejam só. Ela não existe mais como existia e eu, possivelmente, também não. Ou seja, é um amor impossível de se repetir, visto que somos seres humanos que deixamos de ser os seres únicos que fomos um dia e que devido ao destino se encontraram e se apaixonaram. A verdade que esse encontro nunca mais acontecerá entre aqueles seres, é único e singular da história. Perdeu-se. E, por favor, não venham com espiritismo barato para tentar amenizar a situação. É assim mesmo, é um tanto triste.

Apesar de certa melancolia, prestem atenção que eu disse que esse amor se perdeu e não acabou. Na verdade, depois do término, ele se desprendeu dos corpos e foi para outro plano. É certo que ele jamais regressará como antes, porém é quase impossível ele se perder da memória. Por isso ele ainda se mantêm. E isso quer dizer que você vai continuar amando essa pessoa para sempre? Não e sim. No mundo das coisas e dos toques, ele pode se configurar em outra forma de afeto, como amizade, escuta, admiração, raiva e tantos outras. No entanto, o fato dele se encaixar em outros moldes não quer dizer que sua forma original foi execrada por completo das mossas cabeças. Parece que algumas pessoas até conseguem essa proeza, não é o meu caso.

O meu caso é complicado. Acho que porque eu sou complicado também. Em alguns momentos, tipo quando escuto aquela música, parece que eu consigo a proeza de sentir a alegria e o prazer, especificamente, daquele dia com ela. É normal isso doutor? É tipo como se fosse aquela lembrança boa da infância? Sim, tipo brincar na rua e comer fruta no pé, saca? Sim, e dizem que ter boas lembranças é uma das regras da felicidade. E qual tipo de felicidade essas regras trazem? Pergunto por que essas lembranças me trazem nostalgia e desejo. É assim mesmo que funciona? Mais ou menos. Deve ser tipo a natureza e seu jeitão.

Autor:

Rafael do Valei

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