Na minha terra, após a morte do amigo ou parente, todos se reúnem na casa para encomendar a alma do falecido. Os velórios até a pouco tempo, eram nas casas, pois não existiam Velório Municipal. Quando a minha bisavó veio a falecer, minha família preparou a recepção para receber os convidados para a celebração dela com chá de leão e erva cidreira; vinhos tintos como: Sangue de Boi e Gallo Rosso; pratos com diversos petiscos como: queijo cogumelo, azeitonas roxas, amendoins com alho assado; pão de batata com recheio de camarão. No final do velório, vieram os ministros religiosos da Santa Igreja benzer com água benta o corpo da minha bisavó, rezamos o terço e depois seguimos a procissão para o cemitério. Depois de enterrar ela, batíamos palmas e nos abraçávamos. De lembranças, os convidados levavam uma foto dela com a oração de Santo Agostinho.
Os velórios brasileiros têm muitos rituais. Coroas de flores, velas, fotos espalhadas pelo salão, etc… Às vezes é servido jantares típicos da época. Às vezes só cafés com biscoitos e pães. Existem velórios que não tem recepção, que é o caso das famílias carentes. Eu já fui a um velório, que foi servido de pinga e torresmo.
Nos velórios da Rússia, as famílias costumam servir muitos canapés, arenques defumados servidos em pão pretos. Coisas que tenho vontade de comer.
E nos velórios ingleses, é servido cervejas, bolos, vinhos e biscoitos no estilo de ló torrado no forno com azeite, sal grosso e alecrim para serem mergulhados no vinho. De lembranças, eles levavam um doce, parecido bem casado, envoltos em um papel com símbolo de caveira.
Já os velórios do México, é muito surpreendente. A morte é muito natural e tranquila. Este respeito e carinho que os mexicanos têm pelos mortos vem sido praticado desde a morte de SEBÁSTIAN APARÍCIO. Os fúnebres deles são feitos em suas próprias residências, são armados altares, velas votivas, fitas, flores, violinos e incensos. Muitos incensos. Os convidados têm uma recepção muito diferente que é, pão com feijão, tortilhas com macarrão, pratos especiais com figurinhas de crânios e ossos. Os enterros costumam ter esqueletos e demônios que acompanham até o mausoléu do falecido. Quem descreve muito bem esses rituais é Guadalupe e Ludmila.
Para quem gosta de ler Frida Kahlo, todo ano no dia dos finados, ela se preparava para celebrar a memória da sua mãe. Enfeitava uma mesa enorme com caveiras e esqueletos dançantes de mache. Postava nas mesas, frutas com nozes, amendoins e cana de açúcar. Ao lado, ela colocava uma imitação de túmulo com fotos de sua mãe. Durante o dia, ela servia comidas mexicanas, pães de mortos e biscoito de caveira torrada para os convidados que iam visitá-la.
No Brasil, nos dias de hoje, nós brasileiros temos o costume de peregrinar nos cemitérios. Lavar os túmulos de nossos parentes, consertar erros, acender velas e levar flores. Muitos centralizam essas histórias graças a suas religiões concedidas.
Na Bahia, segundo Jorge Amado, são oferecidos quitutes em velórios, e depois das missas de sétimos dias; bandejas com cuscuz de milho, tapiocas, pães e bules com leites. E quando o velório dura mais de 12 horas, é providenciada um almoço com uma bela peixada feita com leite de coco e azeite de dendê…
Os ritos, sejam eles profanos ou religiosos, ajudam-nos a aceitar a morte, a aceitar a dor do luto. O que não nos deixa de ser um aprendizado, principalmente culinário!
Autor:
Lucas Dolher