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terça-feira, 23 de julho de 2024

As invencionices da Conmebol

Com a aproximação da Copa do Mundo, singularmente disputada entre os meses de novembro e de dezembro, os campeonatos que envolvem os clubes brasileiros estão finalizando. Na última quarta-feira, o virtual campeão Brasileiro, o Palmeiras, não ganhou de direito e de fato o título em virtude da vitória, suada e de virada, do Internacional sobre o Ceará. Mais importante do que se manter vivo na busca pelo mais que improvável tetracampeonato brasileiro, o clube gaúcho, desacreditado no início da competição, garantiu sua décima quinta participação na Copa Libertadores da América no próximo ano.

Até o início da rodada, matematicamente, ainda havia mais um postulante ao título, o Corinthians. Os paulistas atuando em casa perderam para o Fluminense. Se a atuação do tricolor não foi tão vistosa, como o Dinizismo já proporcionou ao longo do ano, ela foi muito consistente. O clube carioca cadenciou o ritmo do jogo, envolveu o oponente com toques rápidos, fazendo-o correr atrás da bola e contou com os gols do cirúrgico Germán Cano.

Na próxima quarta-feira, feriado de Finados, o Palmeiras enfrentará o Fortaleza no Allianz Parque e poderá conquistar em casa o seu 11º campeonato nacional. Se uma equipe ganha um campeonato é campeão, dois campeonatos é bicampeão e quando ganha onze campeonatos, como ela deve ser chamada? Há duas formas corretas de se referir a alguém ou a um time onze vezes campeão, uma grega e outra latina, você pode escolher: hendecampeão ou undecampeão.

Conversando com o Professor Gilson, expert na área de TI, afirmei que mesmo que os alienígenas resolvessem abduzir todo o time do Palmeiras, inclusive as suas categorias de base, nas próximas quatro e derradeiras rodadas, ainda assim, as chances dos palestrinos não se tornarem hendeca ou undeca é remotíssima. O Internacional teria, obrigatoriamente, que vencer todos os jogos restantes. Se vencer 3 partidas e empatar uma, contabilizará os mesmos pontos da equipe paulista, mas ficará com uma vitória a menos.

Na última quarta-feira, enquanto falava de Montesquieu e Alexis de Tocqueville, o meu aluno Guilherme anunciou de forma catártica e com um certo maldoso prazer que o Bragantino havia empatado com o Botafogo. Envolvido pelo conteúdo da aula e sem muita noção do horário, entendi que a partida havia terminado e o alvinegro carioca, fato comum neste campeonato, deixou escapar mais alguns pontos atuando em casa.

Finalizada a aula e já no retorno para casa, vi uma mensagem no Whatsapp, do cruzeirense Leonardo, congratulando a vitória botafoguense e a possibilidade de o alvinegro disputar a denominada de Pré-Libertadores no próximo ano. Minha vontade, na hora, juro para vocês, era reduzir a média final do meu querido aluno no mesmo número de gols feitos pelo Botafogo, ou seja, em 2 pontos.

Resta um campeonato em aberto, a Copa Libertadores da América. No sábado, dia 29 de outubro, conheceremos o campeão continental que será rubro-negro. O Athletico Paranaense e o Flamengo são dois clubes que se organizaram, estruturaram e são duas forças do futebol sul-americano. O favorito, para mim, é o Flamengo, exatamente por ter uma força financeira superior ao do seu adversário, ele conta com um elenco mais poderoso. No entanto, dentro de suas possibilidades e sempre de forma muito responsável, o clube paranaense se notabilizou por montar grupos fortes e competitivos.

O jogo único também se caracteriza por reduzir, em certa medida, o favoritismo. Uma jogada equivocada, como ocorreu na final do último ano, ou uma tarde pouco inspirada pode, para o time que conta com atletas mais gabaritado, representar a perda do título. A imprevisibilidade em apenas 90 minutos se acentua.

O vira-latismo sul-americano nos fez copiar um modelo exitoso na Europa, mas de difícil aplicação no contexto local: a final única em campo neutro. Vamos pensar inicialmente na logística. Ao contrário do continente europeu, que conta com um complexo, eficiente e tentacular sistema de transporte, a América do Sul é muito mal conectada o que dificulta o deslocamento dos torcedores até os locais das disputas. Os diversos clarões nas arquibancadas do Estádio Mario Kempes, em Córdoba, vistos na final da Copa Sul-Americana entre São Paulo e Independiente del Valle comprovaram a fragilidade do modelo equivocadamente importado por estas bandas.

A final da Libertadores será disputada em Guayaquil, no Equador. Por curiosidade, resolvi verificar o que um brasiliense, que conta com um dos aeroportos mais movimentados do Brasil, teria que fazer para ir até a cidade que abrigará a final. Inicialmente, será necessário ter uma conta bancária recheada, as passagens de ida e volta estavam variando, nas datas próximas da final, entre R$ 8.000,00 e R$ 10.000,00; sem as taxas de embarque.

Depois, sendo o intrépido viajante um trabalhador, será fundamental negociar com o seu chefe o tempo que ficará ausente das atividades laborais. Não há voos diretos para Guayaquil e o torcedor terá que enfrentar longas viagens de, no mínimo, 24 horas. Curiosamente, o voo mais barato é também o mais “rápido” e o périplo começa, em Brasília, na noite de quinta-feira, dia 27 de outubro. Serão realizadas conexões em Belo Horizonte e Cidade do Panamá, para, enfim, desembarcar em Guayaquil às 17h29 da sexta-feira, dia 28 de outubro. O retorno, lamento dizer, levará um pouco mais de 28 horas, com saída prevista para o final da tarde de domingo e chegada em Brasília na madrugada de terça-feira. Se a leitura já lhe cansou, imagina toda a viagem.

Os custos, é importante ressaltar, não se limitam às passagens, mas o torcedor gastará, no mínimo, com a hospedagem, com a alimentação e com os ingressos para a final que foram comercializados pela Conmebol entre R$ 750 e R$ 1.300 aproximadamente.

Ganhamos, em média, salários menores do que os europeus, contamos com modais de transporte pouco eficientes e muito inferiores ao do Velho Mundo, mas queremos copiá-los sem nos atentarmos para o contexto social, econômico e geográfico que nos envolve. A “genialidade” dos dirigentes “recorte e cole” do futebol sul-americano afastará muitos torcedores do estádio na partida mais importante da competição e o slogan para as novas decisões será: “Final para ver pela TV”.

Distante da paixão pelo Flamengo ou Athletico, eu optaria por assistir in loco um clássico europeu, afinal os valores que terão que ser desembolsados nos permitiriam viajar para a Europa, na metade do tempo que se despende para chegar em Guayaquil, e assistir um confronto entre Real Madrid e Barcelona, entre Liverpool e Manchester City ou até um “joguinho” da Champions na fase eliminatória, tipo PSG e Bayern em Paris. Por favor, senhores dirigentes sul-americanos, chega de invencionices, nós queremos o nosso futebol de volta!

Autor:

Luiz Henrique Borges

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