É bastante útil ter uma metáfora para ilustrar a forma como podemos ver o mundo das criaturas humanas. O que imagino é a cena de um imenso teatro, onde a divisão entre palco e platéia não é clara nem é possível distinguir facilmente quem são os atores e quem são os espectadores.
Nesse teatro, todos nós estamos ora representando ora observando, admirados ou revoltados enquanto se desenrola o enredo no palco iluminado. Às vezes, sem perceber ou mesmo convenientemente, nos sentimos parte desse drama que se movimenta no tablado da história humana.
Uma impressão se destaca e é a de que ninguém ali revela sua verdadeira personalidade; todos nós estamos escondendo o eu verdadeiro em nome do interesse de empolgar a platéia, de cativá-la, de torná-la serva de nossos projetos pessoas. Vemos, esse enredo, em todas as organizações humanas, sejam elas as religiões, as facções políticas ou mesmo os movimentos sociais cheios de boas intenções.
Nesse momento podemos nos perguntar: todos nós somos atores e não pessoas reais? Ou somos apenas bipolares, divididos entre o que realmente desejamos fazer e o que precisamos vender ao público como forma de viabilizar desejos inconfessáveis? Estamos todos empenhados em nos enganarmos uns aos outros, na busca do que nos é propriamente conveniente e nem sempre benéfico aos outros? Sobreviveríamos se fossemos monistas e não dualistas em nossa personalidade? Simplificando: seria possível, a cada um de nós, mostrar a nossa verdadeira natureza e não um papel a desempenhar no teatro da história?
Será que os interesses individuais são sempre ruins aos outros, forçando nossa natureza a desenvolver uma estratégia teatral para sobreviver no mundo da luta de egoísmos em ampla batalha?
Esse debate é uma questão mais que filosófica, significa o destino do futuro da humanidade. Estamos sempre imaginando um mundo repleto de bondades mútuas, de atos não agressivos, de ambientes cooperativos e amorosos, de sociedades, enfim, educadas, pacíficas e justas a todos. Esse sonho é possível? Criamos religiões que pregam o paraíso e ideologias que lutam para implantar a justiça da igualdade e a felicidade eterna, não é verdade? Mas, enquanto isso, circulamos no palco iluminado da vida, representando um papel que é a de vender nosso evangelho aos outros como se fosse verdade absolutas. Nessa crença nos atos são sempre justificados, mesmo quando acendemos fogueiras em praça públicas par queimar hereges ou instituímos paredões de fuzilamentos em nome da conquista desse paraíso do final da história.
As vezes, ficamos imaginando que talvez o ser humano seja um animal enlouquecido pela seu cérebro exagerado, poderoso demais para dirigir os conflitos gerados por sua capacidade inesgotável de imaginar o domínio de toda a natureza, isso antes de conseguir entendê-la. Parece que estamos mais próximo da destruir toda a vida na terra do que a de implantar o paraíso.
Nos próximos capítulos aprofundaremos essa questão.
Autor:
Abel Aquino