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terça-feira, 23 de julho de 2024

O documentário “Fama, progresso represado”, produzido pela UNIFAL-MG, será exibido e lançado na 5ª Mostra de Cinema de Fama, no sábado (08/09), na Praça Central da cidade. A produção faz parte do Projeto de Extensão “Histórias de quando a água chegou”, iniciado em 2015, com o objetivo de estudar formas de trazer ao conhecimento da comunidade as memórias de pessoas que vivenciaram o período de construção da Represa de Furnas. Esta edição, que conta a história da chegada de Furnas em Fama-MG, começou a ser produzida em 2019 e tem duração de, aproximadamente, 33 minutos.

Profa. Flaviane Faria Carvalho, do Instituto de Ciências Humanas e Letras da UNIFAL-MG. (Foto: Arquivo Pessoal)

Sob a direção da professora Flaviane Faria Carvalho, do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL/UNIFAL-MG) o documentário foi desenvolvido, na época, pela bolsista Joyce Larissa de Souza Pereira, com a colaboração dos discentes Bruno de Souza, Giovanna Manfrinato e Fernanda Bernardes. No período, eles eram estudantes do curso de Letras da UNIFAL-MG.

Segundo a Profa. Flaviane Carvalho, é a primeira vez que o documentário é selecionado pela Mostra de Cinema de Fama. O curta faz parte da categoria competitiva “Mostra Mineira”, ao lado de outras obras sobre a cultura de Minas Gerais. De acordo com ela, a proposta do projeto foi contemplar cidades próximas à UNIFAL-MG que foram afetadas pela inundação provocada pela construção da represa de Furnas. Nesse sentido, a equipe escolheu as cidades Carmo do Rio Claro, Alfenas e Fama.

Bastidores da entrevista com Guilherme Prado, na casa do entrevistado, em Paraguaçu. (Foto: Arquivo Pessoal/Flaviane Carvalho)

Citando o pesquisador Antônio Ferreira Colchete Filho, a docente destacou: “Fama foi um dos municípios da região que mais sofreu prejuízos em termos sociais, econômicos e culturais resultantes da construção da Represa de Furnas. Vale sublinhar que 18,81% da área total do município, precisamente grande parte da sua área urbana, foi inundada”.

Além disso, a pesquisadora salientou que a proximidade geográfica com Alfenas – cidade onde fica a sede da UNIFAL-MG e na qual acontece a produção dos documentários – também foi um aspecto favorável para a escolha de Fama, já que algumas questões de logística, como deslocamento e custo de viagem, foram mais propícios para a realização das entrevistas, obtenção de materiais e captação de imagens da cidade.

Durante o processo de produção do documentário, a equipe seguiu algumas etapas. Primeiramente, os integrantes fizeram uma pesquisa para buscar nomes e contatos de pessoas que poderiam contribuir com depoimentos. Assim, com uso da pesquisa de arquivos e contato com pessoas ligadas de alguma forma com a história e cultura da região de Fama, o grupo chegou aos sete nomes que iriam compor o material do documentário por meio de testemunhos.

Bastidores da entrevista com Angelo Saksida (in memorian), na casa do entrevistado, em Fama. (Foto: Arquivo Pessoal/ Bruno de Souza)

Feito o contato com cada entrevistado, eles se deslocaram até o local de realização da entrevista, geralmente nas próprias residências dos entrevistados, promovendo, assim, um ambiente em que o entrevistado se sentisse à vontade e propiciando uma situação de maior confiabilidade para os entrevistados revelarem suas memórias.

No local da entrevista, o equipamento de captação de imagem e áudio foi montado e a entrevista foi conduzida de acordo com as perguntas a respeito dos pontos importantes para o tema central do documentário: como era a cidade de Fama antes da represa, o processo da inundação e outros pontos julgados relevantes pela equipe.

“Com os vídeos dos depoimentos em mãos, foi de suma importância a realização da decupagem como uma das etapas do processo. Dessa forma, foram selecionados os trechos mais significativos referentes à temática explorada para a montagem do documentário”, explicou. 

A coordenadora do projeto, professora Flaviane Carvalho, com o entrevistado José Lino (in memorian). (Foto: Arquivo Pessoal/Flaviane Carvalho)

De acordo com ela, a partir dos depoimentos, foi possível estabelecer os pontos mais relevantes conforme a recorrência com que eram citados, bem como o nível de detalhamento do relato e a forma como os fatos eram mencionados dentro de uma ordem cronológica em todas as entrevistas.

Feita a decupagem dos vídeos, o próximo passo foi montar a “colcha de retalhos”, encaixando os trechos das falas na ordem estabelecida de acordo com o conteúdo dos relatos. Uma vez montado o “corpo” do documentário, a etapa seguinte foi fazer a transcrição das falas de forma digital, que futuramente foi integrada ao vídeo na forma de legendas, muito importantes para a compreensão plena dos depoimentos por parte do espectador.

Professora Flaviane Carvalho com o entrevistado José Órfão (in memorian). (Foto: Arquivo Pessoal/ Flaviane Carvalho)

Depois de organizados os trechos de vídeos com os depoimentos devidamente legendados, a equipe preparou a edição final, que serve como um acabamento do produto final do projeto. Essa edição contou com a inserção de imagens para ambientação, trilha sonora, fotos, efeitos sonoros, observações escritas, tratamento de imagem e créditos finais, a fim de contribuir para a aproximação do espectador com o universo abordado pelo documentário. Além disso, a professora chama a atenção para a participação da escritora Isa Musa de Noronha, que narrou trechos de sua obra “Uma vida na linha”, de 2005, no início e no fim do documentário.

Segundo a docente, com relatos da chegada das águas de Furnas na região de Fama, o grupo aprendeu sobre como era a vida social e econômica conduzida pela navegação a vapor às margens do Rio Sapucaí. “Conhecemos o drama deste município, onde boa parte de sua área urbana foi inundada, perdendo seus acessos e suas fábricas – mergulhando, assim numa profunda condição de desemprego e, consequentemente, abandono”, relatou.

A bolsista do projeto, Joyce Souza, no restaurante do entrevistado Mauro Rocha, ao lado de esposa. (Foto: Arquivo Pessoal/Flaviane Carvalho)

“Nos emocionamos com a perda de parte da identidade e da memória afetiva de centenas de pessoas, já que nossa identidade também se constrói a partir das relações que estabelecemos com o espaço onde nascemos e fomos criados”, completou a docente.

Na oportunidade, a professora contou que a equipe planejou o lançamento do documentário para 2020, mas suspendeu o evento por conta do início da pandemia. “Para a nossa tristeza, três entrevistados faleceram e não puderam assistir ao documentário finalizado: José Maria Lino, Ângelo Henrique Saksida e José Órfão. Acredito que, para a família deles, assistir ao lançamento deste documentário na 5ª Mostra Fama terá um significado ainda mais especial”, destacou.

A pesquisadora salientou, ainda, que o registro dessas histórias e a disponibilidade do acervo visual à comunidade acadêmica – por meio do canal do Youtube “Histórias de quando a água chegou” – poderá contribuir para futuros estudos nas áreas da literatura, história, sociologia, antropologia, geografia e para o desenvolvimento de novas linguagens, bem como outras ações de pesquisa, ensino e extensão.

Como contribuição à comunidade externa, a docente acredita que a produção desse registro ajuda a evitar que o passado e a identidade cultural de Fama e região sejam ainda mais apagados como o são até os dias de hoje. “Com essa contribuição para a cultura e história do município, podemos também colaborar para a preservação da memória de nossa região e para a formação da identidade social e cultural dos indivíduos pertencentes a ela”, frisou.

Para finalizar, a pesquisadora destacou a seleção do documentário para ser exibido e lançado na 5ª Mostra Fama como uma oportunidade de divulgação, para um amplo número de pessoas, de ações de extensão de qualidade desenvolvidas com o apoio da universidade pública.

Sobre o Projeto de Extensão

A construção da usina de Furnas, durante o governo JK, foi considerada por muitos fundamental para a industrialização do Brasil, que demandava o aumento da capacidade de produção de energia elétrica. Apesar disso, como consequência, a represa formada ao longo da década de 60 inundou cerca de 1.400 Km² de terras em 34 municípios do Sul de Minas Gerais. Desde então, o acontecimento tem gerado revolta, causando prejuízos às atividades econômicas desenvolvidas na região e transformando radicalmente a vida de centenas de mineiros.

Diante da necessidade de estudar formas de trazer à tona e ao conhecimento da comunidade as memórias de pessoas que vivenciaram o período de construção da Represa de Furnas, foi criado o Projeto de Extensão “Histórias de quando a água chegou”.

O projeto teve início em 2015, desenvolvido pelo egresso do curso de Letras, Paulo César de Carvalho, sob a orientação do professor Ítalo Oscar Riccardi Leon, do ICHL. Um dos resultados foi o documentário Antônio Adauto e os Índios, lançado em 2016, com enfoque em Carmo do Rio Claro.

A partir de 2017, o projeto passou a ser desenvolvido pela bolsista Joyce Larissa de Souza e coordenado pelos professores Flaviane Carvalho e Ítalo Leon. Em 2018, foi lançado o documentário Alfenas e suas memórias submersas, em comemoração aos 150 anos da cidade. A produção, que foi resultado do processo de Concessão de Bolsas a Programas e Projetos de Extensão – PROBEXT, contou com a colaboração dos docentes Eloésio Paulo, Marcos de Carvalho, Jéssica Frutuoso Melo e Wellington Ferreira Lima, do ICHL, assim como das então discentes do curso de Letras, Fernanda de Souza Fernandes, Maria Luiza Destro Silva e Anna Eliza Ananias Reis.

Finalmente, em 2019, teve início a produção do documentário Fama, progresso represado. O conteúdo completo está no canal do youtube “Histórias de quando a água chegou”. Até o momento, os documentários já foram assistidos por mais de 5 mil pessoas.

A 5ª Mostra de Cinema de Fama acontecerá de 6 a 9 de outubro. Confira a programação completa do evento, disponível no site: https://mostrafama.com.br/

Autora:

Jaíne Reis Martins é estagiária da Diretoria de Comunicação Social da UNIFAL-MG

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