O Investimento Nessas Empresas Bateu Recorde em 2017 e Chegou a U$ 860 Milhões, Mostrando Que Há Oportunidades Para Quem Quer Empreender
O unicórnio é uma figura mitológica presente em diversas culturas e o seu chifre seria capaz de curar qualquer doença, mas apenas das pessoas de bom coração. Embora a ciência nunca tenha comprovado sua existência, eles existem – e estão em todas as startups.
O termo é usado para designar as empresas baseadas em tecnologia que valem U$ 1 bilhão e, até 2013, companhias assim eram difíceis de encontrar quanto os unicórnios.
Esse crescimento fez muita gente se perguntar se também estamos vivendo a bolha dos unicórnios, pois o valor desses negócios se refere não ao seu rendimento real, mas à especulação dos investidores que consideram o capital já investido para lhes dar o “chifre dourado”.
Conquistar o status de lenda é difícil, por isso os poucos que chegam lá conseguem atrair mais dinheiro. No Brasil, há apenas duas startups unicórnio: _ o aplicativo de transporte 99 e a fintech Nubank. O PagSeguro entra em algumas listas, mas por pertencer ao UOL não é considerado uma startup pelos especialistas.
O mercado brasileiro tem crescido e, de acordo com a Associação Americana de Fundos de Capital de Risco, os investimentos bateram recorde no ano de 2017, com 113 empresas recebendo U$ 860 milhões – três vezes mais do que no ano anterior.
Isso ocorre em função em função dos fundos que têm aplicado no Brasil e também porque investidores tradicionais passaram a ver o empreendedorismo digital como uma ótima fonte de receita. É o caso dos escritórios responsáveis em gerir a fortuna das famílias abastadas – os Family Office.
“As baixas taxas de juros trouxeram a necessidade de buscar aplicações de maior retorno e, como os fundos de venture capital têm apresentado um ótimo desempenho, os segmentos mais conservadores ficam encorajados”, diz André Barrense – diretor do Google Campus, espaço destinado a empreendedores em São Paulo. Em cinco anos o valor distribuído aos investidores do setor pulou de R$ 16,6 bilhões para R$ 37, 4 bilhões.
Os empreendedores brasileiros estão mais maduros, afastando-se daquela imagem do jovem descolado, recém-saído da faculdade que abriu uma empresa em casa e ganhou seu primeiro milhão em pouco tempo. Hoje, o dono de uma startup é alguém maduro em idade e com muito conhecimento.
“O perfil é de quem conhece o mercado, teve 2 ou experiências em negócios que deram errado, ou de executivos de grandes corporações que não conseguiram – ou não quiseram – inovar dentro dessas empresas”, afirmou Camila Betterelli – investidora da aceleradora Startup Farm, de São Paulo.
Nem Tudo é Mágico
Mesmo com um empreendedor experiente, o desafio de ter um negócio por aqui continua enorme, com lentidão e uma pesada carga tributária. O Brasil ocupa a posição 122 de um ranking com 186 países, ficando atrás de Gâmbia e Nigéria, por exemplo.
“O governo brasileiro, ao contrário de outros, não contribuiu para o crescimento desses ecossistemas nos últimos anos, pois além de faltar iniciativas de fomento, há barreiras”, diz Gilberto Sarfati – professor de Empreendedorismo da FGV.
Quem ingressa nesse setor conta com alternativas para enfrentar os empecilhos impostos pelo governo e, as universidades brasileiras, são um bom exemplo. Elas foram impulsionadas por um decreto que permite às instituições de ensino se tornaram sócias minoritárias de startups.
Elas começaram a abrigar essas empresas, ainda de forma lenta. Fora as universidades, é possível conseguir apoio em companhias tradicionais que, temendo ser substituídas por outra mais inovadora, têm investido mais a fim de se aproximar desse segmento.
Nos últimos 2 anos 130 corporações organizaram mais de 150 encontros com essas novatas tecnológicas e, o ponto positivo desse relacionamento, é que as startups podem usar a estrutura – e os recursos financeiros – das grandes companhias para desenvolver seus projetos.
É preciso cuidado para não ser engolida pelo estilo de gestão tradicional da empresa hospedeira e matar a inovação. Senão, a startup deixa de ser um negócio disruptivo, com possibilidade de crescimento rápido, e se torna somente mais uma prestadora de serviço.
Tocar uma empresa não é para qualquer um. O guru das startups (Ben Horowitz) diz que, quando era CEO de um desses negócios, dormia como um bebê; ou seja, acordava de 2 em 2 horas e chorava. A rotina é mesmo puxada e “todo mundo acha que vai montar uma startup e se tornar o próximo Mark Zuckerberg, mas poucos sabem que abrir um negócio desses requer trabalhar exaustivamente e ficar 2 anos sem receber salário”, afirma ele.
E poucas pessoas estão dispostas a diminuir o nível de conforto para aplicar dinheiro na empresa. “Alguns acreditam que investir em uma equipe ou um produto é custo, o que é um erro. Nos primeiros estágios, toda verba deve ser alocada para o empreendimento crescer” – disse Ben Horowitz.
Então, antes de achar que sua ideia é sensacional, pense se você tem o perfil de um fundador e, uma boa alternativa, é trabalhar numa delas. Uma das grandes ilusões é que basta ter uma ideia disruptiva para a empresa valer U$ 1 bilhão.
Não é bem assim, pois de acordo com especialistas, o time faz toda a diferença. “Óbvio que algo inovador faz diferença, mas se as pessoas não tiverem alta capacidade de entrega e não forem motivadas pelo projeto, nada vai adiantar”, disse Luíz Gustavo Lima, diretor da ACE aceleradora de São Paulo.
Após decidir se quer mesmo embarcar nesse projeto, você deve prestar atenção em quem o acompanhará e, dessa forma, procure profissionais com habilidades complementares às suas.
Por exemplo, se você desconhece tecnologia, busque um sócio para esse processo. Terceirizar o desenvolvimento do software costuma ser má estratégia, pois a pessoa poderá abandoná-lo na primeira proposta melhor que receber.
Outro ponto é que a ideia não precisa ser inédita, pois a capacidade de entregar o mesmo produto (ou serviço) 10 vezes melhor do que a concorrência determinará quem se destaca no mercado.
“A taxa de fracasso de empreendedores que investiram numa ideia inédita é de 70% e, para quem remodelou e melhorou algo existente, é de até 10%”, afirma Luís Lima da ACE.
Por fim, é importante também deixar de lado a mentalidade imediatista, pois o lucro deve ser uma das consequências do plano. “É preciso estar engajado e acreditar no projeto, pois somente assim a pessoa terá resiliência para superar as dificuldades e alcançar o sucesso”, disse ele.
Quem criar uma startup pensando em vende-la por bilhões, possivelmente não conquistará esse objetivo.