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sexta-feira, 19 de julho de 2024

Clássico que cruzou décadas, os caquinhos e maxi-cacos ganham novos contornos em uma ode à sustentabilidade

Escritório Plantar Ideias resgatou a referência e apostou no estilo para a realização do ambiente Sol:.ar, presente na 35ª edição da CASACOR São Paulo

Os maxi-cacos ganharam destaque no ambiente realizado pela Plantar Ideias, na 35ª edição da CASACOR São Paulo | FOTO: Salvador Cordaro
A arquitetura é um potente mecanismo para o reconhecimento de tendências que passaram, daquelas que virão e dos caminhos que nossa sociedade percorreu ao longo dos anos. E, entre essas mudanças, gerações foram marcadas e criaram memórias afetivas sobre cada espaço que viveram suas histórias. Nesse contexto, os caquinhos e maxi-cacos fazem parte da lembrança de muitas pessoas que andaram por esses pisos revestidos dos fragmentos de cerâmica.

Sol:.ar, ambiente criado e projetado pelo escritório Plantar Ideias, dos arquitetos Felipe Stracci e Luciana Pitombo, revela uma praça, em plena, CASACOR São Paulo, onde os caquinhos e maxi-cacos roubam a cena do décor. “Quando conhecemos o espaço do Conjunto Nacional, nos apaixonamos com a história e as possibilidades de trazer um conceito que criasse um espaço de convivência mais aconchegante, tropical e leve“, explica Felipe sobre o que despertou sua atenção para unir o local em que a mostra está acontecendo e o material tão tradicional. “Buscamos materiais que trouxessem estas características e sensações e o piso cerâmico se encaixava perfeitamente neste conceito“, completa o arquiteto.

Sobre a proposta do ambiente, que é uma fonte de inspiração para projetos outdoor, o estilo foi mais do que essencial. “Como estamos em um ambiente fechado e coberto, buscamos um revestimento mais rústico e orgânico. O maxi-caco preenche todas estas demandas de um ambiente externo, além de trazer uma nova leitura do caquinho que está dentro de nossas referências afetivas“, analisa Luciana, trazendo uma nova roupagem para a peça que foi uma figura presente em inúmeras residências no passado. 

Os maxis-cacos da Lepri compreendem toda a extensão do Sol:.ar e servem de base para que todas as topografias criadas pelos arquitetos possam brilhar! O grande sol de vidro furta-cor reflete as luzes diretamente no piso e a sensação de afeto proporcionada pelo revestimento aterra os visitantes ao momento presente, transformando o espaço em um verdadeiro ponto de descompressão, em pela Avenida Paulista | FOTO: Salvador Cordaro
Parte da História da arquitetura
As raízes dessas referências afetivas acerca dos caquinhos datam do final do século XIX, quando, em solo paulistano, aconteceu o boom da industrialização, processo que foi se solidificando entre os anos de 1920 e 1950, quando as indústrias cerâmicas se instalaram na região. Com a popularização da produção, as peças tingidas de vermelho se tornaram comuns entre a classe média e seus fragmentos também foram se popularizando, uma vez que muitas peças acabavam se quebrando durante a produção, transporte e manuseio, o que favoreceu a utilização do material pelos operários e suas famílias.

No ambiente Sol.:ar, os formatos irregulares das peças despontam como um dos grandes charmes desses fragmentos de cerâmica, sendo possível criar composições durante a aplicação do item no solo. A popularização dos caquinhos está intimamente ligada com o processo de industrialização do Brasil e as fábricas de cerâmica que se instalaram em São Paulo | Foto: Divulgação
Versatilidade em cada fragmento
Um dos destaques desse revestimento é sua imensa versatilidade e possibilidade de aplicação em diversos tipos de projeto. “Este piso é um coringa, pois ele conversa muito bem com o cimento queimado e tem uma outra grande qualidade: a de poder ser aplicado em áreas com pequenos desníveis e fazer recortes, inserindo e conversando com outros pisos existentes“, destaca Felipe. “Sendo assim, eles mostram toda a sua versatilidade, tanto na forma como na textura“, acrescenta o arquiteto que ressalta a viabilidade dos cacos para aplicação tanto em ambientes internos, como externos: “Com ele, conseguimos adicionar um estilo rústico ou contemporâneo. Sem dúvida, é um clássico da arquitetura brasileira“, complementa. 

Com a utilização dos caquinhos é possível vencer algumas irregularidades do terreno, além de criar um espaço que brinca com os elementos rústicos, clássicos ou mesmo mais modernos no décor. | Foto: Divulgação
Reutilizando, reciclando e economizando 
A atemporalidade da peça não se dá somente devido a sua importância ao passado, mas também por sua capacidade de conduzir uma arquitetura cada vez mais consciente e que não abuse do desperdício de materiais e que crie problemas quanto à sustentabilidade.

Afinal, é plenamente possível utilizar e reaproveitar sobras de obras e de outros pisos para fazer uma mescla própria de caquinhos e maxi-cacos, favorecendo o meio ambiente e sendo um item funcional para aqueles que gostam de se aventurar em projetos DIY (faça-você-mesmo). Com a irregularidade das peças é possível construir mosaicos, abusar da variação de tonalidades e dos diferentes formatos que os cacos possam apresentar, deixando a criatividade fluir por entre as peças para a criação de um revestimento pra lá de original e personalizado!

Esta é uma ótima proposta e muito contemporânea e versátil. Devemos apenas nos atentar para que as espessuras dos pisos sejam semelhantes, garantindo assim uma boa instalação e acabamento“, orienta Felipe.

Sobre o escritório Plantar Ideias     
Plantar Ideias iniciou suas atividades em 2016 com atividades destacadas pelas diferentes escalas do design para as áreas externas e o propósito de criar objetos e lugares que promovam o bem-estar e contato com a natureza. Na busca do escritório, peças, lugares e cidades devem o equilíbrio entre a criatividade e a técnica, vem como a harmonia, leveza e a tropicalidade – seja no meio urbano ou natural, público ou privado.

O desenvolvimento do design dos projetos é único e leva em si a assinatura da tropicalidade brasileira combinada com a devida compreensão das necessidades e desafios que cada projeto se propõe. Na Plantar Ideias, acredita-se que definir o futuro de um lugar envolve um exercício coletivo, contextual e orientado por valores.

Através dos projetos, são afirmadas diversas perspectivas, disciplinas combinadas, intercâmbio aberto, profundo envolvimento com clientes e comunidades, comprometimento com a história e o contexto, curiosidade sobre novas formas de pensar e a criação com base em dados e tecnologias emergentes, que levam a um design mais forte.

Fundada por Felipe Stracci e Luciana Pitombo, os arquitetos uniram suas expertises de conhecimento técnico de projetos de arquitetura e elaboração de grandes projetos urbanos com know-how botânico e de paisagismo, desenvolvendo uma maneira de planejar e executar traduzida em abordagem mais sensível e apurada sobre as questões do meio natural e a construção da paisagem, seja ela por meio de um mobiliário, um jardim ou uma cidade. O desejo é o de conceber melhor espaços de convivência, lazer, descanso e aprendizado para as pessoas.

Autor:

Lucas Janini

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