Ele chorou… E nem sabia o porquê!
Talvez porque não havia conseguido comprar sua luva de goleiro para os jogos da escola que começariam na semana seguinte. Também porque não teria conseguido trocar as figurinhas repetidas do álbum da Copa de 2018. Também teve que dividir a atenção da mamãe que encontrou amigos pelo caminho… E, então, na volta para casa, depois de passear por seus próprios infortúnios, papai já não estava tão paciente e lhe chamou atenção por comportamentos que em um dia mais tranquilo teriam sido apenas observados.
Foi um início de noite difícil para ele… E ele chorou! E pediu desculpas por ter perdido seu primeiro par de luvas que ganhou aos 4 anos. E pediu desculpas por não ser um filho tão perfeito como ele acha que gostaríamos que fosse. Também pediu desculpas por nos fazer acordar tão cedo para servir-lhe café e levá-lo à escola.
Ele só tinha 9 anos e esses eram seus dilemas! Eram frustrações e culpas que se derretiam por seus olhinhos, normalmente vívidos, que no instante estavam a vagar.
Crescer dói!
E enquanto enxugava suas lágrimas, eu também chorei! (Já aprendi a chorar sem lágrimas. E ele nem percebeu). Chorei porque também dói ver um filho sofrer. Chorei porque não podia colocar band aid onde ele estava machucado. Sou mãe que ‘aprendeu a compreender’ que a frustração faz parte do alicerce de uma vida mais bem resolvida, mas ainda sou mãe e preferia raptar a dor dele para mim – por isso chorei!
Foi dia de fazê-lo dormir. Foi noite de não lhe fazer muitas perguntas. Foi momento de dizer-lhe o quanto ele é mais do que pensa de si mesmo. Foi hora de compartilhar o tamanho da felicidade de tê-lo em minha vida.
Enquanto ele adormecia, também pensei nos meus dilemas: em como apoiar minha mãe que está passando por um momento delicado. Pensei no meu pai que quase não tenho acarinhado. Pensei no quanto amo e me sinto amada mesmo que ainda não consiga demonstrar plenamente este sentimento. E ao invés de chorar preferi uma conversa sincera com Deus e logo o sono chegou como um bálsamo.
No dia seguinte estávamos nós, mãe e filho, a sorrir – mais maduros, mais fortes. Seguem as rotinas: escola, trabalho…
Ao novo entardecer foi a vez de abraçar o marido para compensar o déficit da noite anterior, mesmo sabendo que já passa muito da hora de retocar a raiz dos cabelos, mas o que são os cabelos diante de uma família feliz… Contento-me com a pele boa e o coração, relativamente, em paz!!!
Autora:
Maria Auxiliadora Paula de Paiva