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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

A literatura de Lucas Dolher

Na minha cidade, a saudade é minha dor. Subo a rua de São José do Barreiro, atrás das lembranças do menino sapeca, e, à medida que subo, mais chego perto do campo das cruzes, onde dormem despedaçados, a mamãe e a bisavó.

A grande tarefa de mamãe era sentir saudade. E da bisavó era rezar.

Até lá rondo os muros, e em qualquer parte da cidade oriento-me pela mão estendida do anjo de cera branca, pousado no muro do cemitério, Joaquim Maia Souto.

No cemitério é bom de andar, entre túmulos e réplicas. A vida perde o sentido, o mau cheiro ampara-nos das dúvidas. A cruz de madeira. Que se encontra na tumba da bisavó. Ossos que andaram, e ainda andam, apontaram e apontam, e voltaram e voltam, a cabeça, e sustentaram a língua e os olhos e fizeram o arcabouço para a voz dos mortos, santa saudade, era choro dos que sofrem de saudade, na beira rio do remorso. Santa saudade, é a voz de quem grita de saudade na beira da tumba da bisavó e da mamãe.

A morte não me assusta… pois certos símbolos tem erros, e no túmulo de Geralda, que morreu de saudade; e seus pedidos maiores não foi atendido.

As velas e flores, a ilusão e o frio são as suas únicas companhias.

A vida e a morte são uma só. A saudade virou minha comadre.

E se domingo raiar e eu chorar, será tanta a saudade que eu irei planar pelos becos de São José do Barreiro. Planar na casa de tia Madalena, e regar suas orquídeas.

Ressurgirei. Por isso o campo da saudade é planado de cruzes.

Autor:

Lucas Dolher.
Poemas Inacabados/ Lucas Dolher
São José do Barreiro, 2021. Coluna: a literatura de Lucas Dolher

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