20.1 C
São Paulo
domingo, 1 de setembro de 2024

Com paciência, a primavera voltará!

– Olá, pode entrar, não precisa bater. Têm chá. Ah! – digo com empolgação- as bolachas estão em cima da mesa, pode comer.

Tá bom – diz ele.

– Abre as cortinas para o sol poder entrar. Se quiser, pode sentar no sofá – volto a falar enquanto estendo as roupas.

O pego distraído olhando para minha varanda amarelada da luz do sol numa tarde de quinta-feira.

– Gostou? Pendurei as plantas na varanda semana passada, estão verdinhas e amorosas, sinto que são agradecidas; gosto delas nesse cantinho. É bom ter um verde para olhar de vez em quando, além da luz que vejo em seus olhos.

Ele sorri.

– Sei bem que não tem sido fácil, que a vida está pesada, mas com paciência e uma boa xícara de chá, você conseguirá regar seu coração com amor.

– Sei não – Ele resmunga desanimado.

– Parece impossível pensar na ideia de voltar a ter uma visão mais otimista da vida – sou tomada pela pausa obrigatória para espremer uma peça de roupa-, mas sabe, libera, joga para o universo, muda de foco,  quando estiver sentindo essa angústia no peito que parece que vai partir seu coração ao meio, lembra que existem tantas coisas bonitas no mundo. Se for difícil, põe aquela música que você tanto gosta, que ainda te faz bem, ou lembra daquele sonho bom que teve aquele dia.

Com os bolsos da camisa cheios de farelo de biscoito, ele lambe os dedos e cata cada um com a ponta do polegar. Termino o que estava fazendo e volto a falar:

– Também sei que está cansado. Vem, vem comigo – me aproximo dele -, segura nas minhas mãos, vou te levar para o quarto. 

Aponto para minha cama, que está sendo atravessada por um raio de luz quentinho, e digo:

– Deita na cama, sente o sol que te abraça; repara, lavei os lençóis hoje, está com um cheiro bom, né? Aproveita que é lavanda. Isso – digo sussurrando -, fecha os olhos, o vento quer te dá uns beijos. Aproveita que o dia está calmo, se encolhe, quer se embrulhar? Põe a meia, está frio hoje.

Passando as mãos pelos seus cabelos, continuo a falar: 

– Às vezes, observar o céu, o sol; olha, olha, bem ali, o passarinho na janela, lindo – mudo de foco, mas logo volto -; o que eu estava falando mesmo? Ah, lembrei! Às vezes, só parar e observar o que a vida quer te dar, já é uma boa ideia.

De olhos fechados, ele sente meu carinho e escuta minhas palavras:

– Tua vista está turva, tuas dores estão te cegando – dou uma pausa para respirar – mas está tudo bem, continue nesse caminho, mesmo que pareça demorado ou difícil, esse colírio vai fazer efeito e vai te permitir voltar a enxergar beleza nas coisas, na vida, no teu sorriso.

O sol começa a se pôr, os pássaros a cantar, o tráfego dos carros a se acalmar:

 – Ah, sabia que teu sorriso é o mais lindo que eu já vi? Se você sorrir para vida, tenho certeza que ela vai sorrir de volta – falo baixinho-; isso, fecha os olhos.

Enquanto embrulho seus pés com o lençol cor de pêssego, digo:

– Eu entendo, sei exatamente como se sente, pode parecer impossível, mas você vai ter tempo para se reconstruir.

Autora:

Juliana Sena, Redatora Publicitária – Escritora no blog: O Mundo de Ju Wix. Gosta de escrever crônicas sobre o seu mundo: onde tudo é possível e toda dor é sublimada. Siga seu trabalho nas redes sociais através do Instagram: @juprimavera_

1 COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Leia mais

Patrocínio