Estive pensando seriamente sobre identidade em um dia desses, em como estamos perdendo uma essência necessária, não falo de uma essência como algo espiritual, mas falo de singularidade, temos nos perdido em uma série de bombardeamento midiático de normas e moldes de como devemos parecer e nos comportar diante das questões sociais.
Penso em como temos deixado de lado alguns fatores primordiais de funcionamento individual para nos portarmos em uma sociedade indiferente, onde nos deparamos com uma igualdade de rostos e ideias, pois pensar diferente dos outros ou nos vestirmos diferentes dos outros é quase como um crime performático. Sim, estamos vivendo constantemente presos em uma performance de coeficiente, que entrega o roteiro de alimentação, regras de cancelamento, normas de conduta e forma física.
Performarmos um sorriso pré-moldado, um rosto estigmatizado e feito a partir de procedimentos estéticos para se parecer com o de determinada pessoa, me assusta pensar que aquele livro estava certo ao pontuar que vivemos numa sociedade moldável, liquida. Viemos ao mundo transparentes, mas diferente de um processo empírico não somos ensinados a viver empiricamente e formar uma opinião, desejamos que despejem sobre nós um liquido mais coerente e de determinado tom para enfim não aprendermos a pensar, mas apenas reproduzir estaticamente argumentos prontos e feitos por outras pessoas, com outras experiências, o que nos leva ao infame descontentamento com o agora.
Eu chamo de descontentamento com o agora a forma como nunca estamos satisfeitos com a nossa realidade, mas não pensamos em como mudar isso, pois alguém já apresentou uma fórmula pronta de como devemos deixar de ser descontentes, que normalmente requer falar de tal modo, parecer com tal pessoa, ter o determinado bem ou ler o determinado livro. Isso faz com que além de descontentes com o agora nos tornemos inimigos do futuro, pois o futuro que poderia promover uma melhora ou maior qualidade mediante nossas ações está longe demais, nós precisamos mudar o agora pelo hoje, mesmo sem ter meios, conhecimento ou criticidade suficiente, afinal ninguém quer isso, queremos a forma mastigada que nos é bombardeada nos perfis mais hypados em nossas redes, diariamente.
E por essa necessidade de buscar algo com imediatismo, um hoje que não é nossa realidade, vemos os mais níveis de apatia identitária, uma sociedade anêmica, que não tem força e muito menos vontade de viver uma realidade palpável buscando uma forma de colocar o seu eu em suas conquistas e planos, vivemos colocando as nossas buscas em ser tal pessoa, pensar como tal pessoa, viver como tal pessoa, mas por que não buscamos viver como nós? Isso me lembra uma época em que eu frequentava a igreja e se não me engano li que Paulo, um apóstolo, dizia que não queria ouvir de Deus que só se alimentou de leite pois não estava pronto para um alimento mais sólido, e isso na época me deixou pensativo e nos dias de hoje vejo pessoas se alimentando de leite que é ofertado por pessoas que só consomem leite e damos início a um ciclo que não temos intenção de sair, pois é mais fácil, mesmo que achemos que estamos caminhando por uma trilha árdua e difícil.
Isso me deixa preocupado, preocupado com as produções futuras, com o medo de vivermos um boom de linearidade, digo isso pensando em que não serão pensados em novos problemas e o pior, não haverá novas reflexões, apenas cópias parafraseadas, pois ninguém vai se preocupar com uma singularidade, estamos bem perto de viver a retrotopia que Bauman propôs.
Autor:
Jônatas Cavalcante Ribeiro