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quarta-feira, 13 de novembro de 2024

O fim de uma era no NCIS[1].

Ou a retirada melancólica do Agente Especial Leroy Jethro Gibbs. (Atenção: Não contém spoilers!).

Para os fãs da série “NCIS – INVESTIGAÇÃO NAVAL”, exibida pelo canal pago AXN, o quarto episódio da décima nona temporada, representou o fim de uma era; a era do Ex-Fuzileiro Naval, o sargento de artilharia Leroy Jethro Gibbs chegava ao fim após tanto tempo à frente de uma equipe que, periodicamente se renovava, porém, tendo como mentor a figura do homem de poucas palavras, com ar solitário e sempre obcecado pelo trabalho que não media esforços e dedicação na busca incessante pela solução dos crimes que envolviam militares ou seus parentes. Figura que tornou-se carismática para quem acompanhou a série desde seu primeiro episódio não tanto pelos casos que investigava, mas principalmente por seu drama pessoal, o tormento de um homem que cometera um crime para vingar a morte de sua esposa e filha por um membro de um cartel mexicano de drogas.

Após esse processo de autocatarse, o homem pensou ter se livrado do peso que arcava sobre seus ombros; todavia, o que aconteceu foi justamente o contrário; Gibbs viu-se preso à sua própria consciência, evitando a redenção e trancando-se no interior de si mesmo, criando uma espécie de “casca” onde o que importava era o seu trabalho e nada mais; ele tornou-se a essência de seu próprio trabalho chegando a confundir-se com ele; por conta da influência da falecida esposa ele não apenas passou a seguir regras, como ele próprio as criou como um meio de alienar-se do que estava fora do universo criado por essas regras.

Gibbs, então, tornou-se um homem obcecado não em desvendar crimes, mas sim de punir os culpados, seja de uma forma ou de outra; nessa trilha tortuosa ele preenchia seu vazio construindo barcos em seu porão; essa construção era apenas uma tarefa para preencher a solidão que o cercava quando ele não estava no trabalho com sua equipe buscando respostas, preocupando-se com inocentes e cuidando de sua vida dia após dia. Foi dessa maneira que o NCIS tornou-se sua segunda casa e seus agentes os filhos que ele jamais teria; as ex-esposas eram apenas outras maneiras de fugir de si mesmo, procurando nelas algo que jamais encontraria.

O trabalho em equipe, sob o seu ponto de vista, consistia em exigir o máximo de sua equipe até que eles fossem capazes de lhe mostrar aquilo que ele não vira, determinar o caminho a seguir quando ele também não sabia para onde ir. Ou seja, Gibbs era o Gibbs quando em companhia de sua equipe, pois só ele era apenas um ex-fuzileiro naval, scout sniper, viúvo, solitário que buscava redenção em todos os dias de sua vida; uma autorredenção que fosse capaz de aplacar seu sofrimento e também sua fúria, conduzindo-o em direção à almejada paz interior que ele buscava através da construção de barcos em seu porão.

E tudo começou a mudar na décima sexta temporada quando ele abandonou a regra dez (jamais se envolva em um caso); a partir desse momento, Gibbs passou a preocupar-se não apenas com seu trabalho e sua equipe, mas também com as pessoas nos casos que se apresentavam; isso ficou evidente no último episódio da décima sétima temporada intitulado “O Arizona”, onde têm-se uma atuação magistral de Christopher Lloyd como um atormentado sobrevivente do ataque à base naval americana em Pearl Harbour, e que leva o agente especial do NCIS repensar sua vida e sua carreira militar. Temos aí o início do fim da era “Gibbs” com um homem procurando não mais a redenção, mas apenas a paz interior, preparado para enterrar seus fantasmas e tentar viver sua vida longe de tudo e de todos.

Todavia, porque nos interessa um personagem fictício de uma série de televisão norte-americana? O que ela tem para nos mostrar? Creio que em primeiro lugar ela veio para nos sensibilizar quanto à importância de enfrentarmos nossos fantasmas e deixá-los em seus lugares desacorrentando nossas almas da dor do passado que aflige nosso presente e envolve em brumas nosso futuro. Ao mesmo tempo, vemos nele a importância de valores como honra, dignidade, fraternidade e entrega pessoal, valores esses que encontram-se demasiadamente esquecidos nos dias atuais com a maior parte das pessoas preocupadas em como são vistos em suas mídias sociais e de como transmitir notícias de caráter duvidoso ao maior número de pessoas, operando uma verdadeira contaminação cibernética.

O investigador do NCIS não era perfeito; aliás, ele nunca pretendeu sê-lo; o que ele queria e ansiava do fundo de sua alma era encontrar sua paz interior que frequentemente era obstada por um ato injusto que o levava a procurar exercer a justiça pelas próprias mãos; e mesmo sabendo que isso não era o correto, ele já não sentia qualquer remorso em promovê-la cultivando inimigos em todas as esferas de poder e passando a agir como o verdadeiro cowboy americano sempre solitário e soturno. Há quem pense que Gibbs representava o ideal norte-americano de justiça feita pelas próprias mãos, enquanto outros acham que ele é apenas mais uma horrorosa manifestação do “American Way of Life”; acredito que Gibbs, para além do personagem é um homem cheio de mágoa, de dor e de saudade; saudade da esposa e filha perdidas, do pai que ele apenas conheceu melhor muito tardiamente, da mãe que pediu para morrer em seu leito de morte acometida de câncer terminal.

E quantos de nós não são assim? Talvez a única diferença resida no fato de que não saímos por aí de arma em punho caçando marginais, mas lidamos com os mesmos fantasmas, os mesmos temores, os mesmos arrependimentos e a mesma solidão que abalou o sargento de artilharia ao longo de sua vida. É justo que ele permaneça impune encontrando sua paz interior no distante estado do Alasca? E de que resolveria trazê-lo à barra dos tribunais, julgá-lo e condená-lo se ele próprio já fizera isso centenas de vezes ao longo de sua vida? O melhor para ele seria ver sua vida escoar o mais lentamente possível, permitindo que ele pudesse desenvolver uma autocomiseração por meio da paz interior que ele jamais conseguiu ter ao longo de sua vida.

Mesmo se tratando de apenas um personagem fictício de um drama também fictício, Gibbs deixou lições inesquecíveis, alguns exemplos de valor e umas poucas mensagens que precisam ser ponderadas; acima de tudo isso, ele nos ajudou a ponderar valores filosóficos como justiça, honra, verdade, dignidade e coragem. Jamais desistindo dos membros de sua equipe e sem perceber valendo-se deles para conservar sua lucidez, ele dedicou-se a cumprir uma missão a cada dia, a essência do fuzileiro naval norte-americano, que também é a essência do soldado, sentindo-se realizado quando um caso era solucionado ou quando um dos integrantes de sua equipe encontrava significado em seu trabalho.

Por fim, creio que o maior legado deixado por Leroy Jethro Gibbs sejam as suas regras, não apenas por seu conteúdo, mas principalmente porque elas revelam uma verdade real: regras existem para serem quebradas sempre em prol de um bem maior que é servir ao seu semelhante e nele reconhecer a si mesmo. E no período histórico conturbado em que nos encontramos, onde é mais fácil burlar a regra do que rompê-la, distorcê-la que revê-la, percebemos como a ação individual na busca do que seja melhor não para si mesmo, mas para a coletividade serve como um bastião que ainda resiste à mentira, a ilusão, a desonestidade e a desonra. Finalizo com um resumo das regras que orientaram a carreira do fuzileiro naval e posteriormente do agente do NCIS.

AS REGRAS DE LEROY JETHRO GIBBS

1: Nunca deixe os suspeitos se sentarem juntos. Essa regra foi mencionada pela primeira vez em um episódio intitulado ‘Yankee White’, que foi ao ar durante NCIS Primeiro episódio da primeira temporada.

Outra regra 1: Nunca estrague seu parceiro. Gibbs tem duas regras número 1. Este envolve ter o seu parceiro de volta. Gibbs mencionou essa regra pela primeira vez durante um episódio intitulado ‘Blowback’ (Episódio 14, Temporada 4).

Regra 2: Sempre use luvas na cena do crime. Gibbs é muito rigoroso em garantir que os membros de sua equipe fiquem seguros ao investigar uma cena de crime. É por isso que ele exige que todos usem luvas. A regra 2 foi mencionada durante ‘Yankee White’ (Episódio 1, Temporada 1).

Regra 3: Nunca acredite no que lhe disseram. Dupla verificação. Esta é uma boa regra para o trabalho e a vida em geral. Gibbs estava pensando em algo aqui. Ele mencionou essa regra pela primeira vez durante ‘Yankee White’ (Episódio 1, Temporada 1).

Outra regra 3: Nunca seja inacessível. Gibbs quer garantir que os membros da equipe sempre possam entrar em contato. É por isso que ele insiste que ninguém é inacessível. Esta regra é mencionada pela primeira vez em ‘Deception’ (Episódio 13, Temporada 3).

Regra 4: Melhor maneira de manter um segredo. Guarde para si. Segundo melhor, conte a outra pessoa – se precisar. Não há terceiro melhor. Gibbs e segredos andam de mãos dadas (até recentemente, isso é). Ele acredita que a melhor maneira de manter um segredo é contar apenas a um grupo seleto de pessoas. Esta regra é mencionada pela primeira vez durante ‘Blowback’ (Episódio 14, Temporada 4).

Regra 5: Você não desperdiça bem. Seja o que for, se algo é bom, não o desperdice. Esta regra é mencionada pela primeira vez em ‘Baltimore’ (Episódio 22, Temporada 8).

Regra 6: Nunca peça desculpas. Pode parecer rude, mas Gibbs acredita firmemente em manter a palavra “desculpe” fora do seu vocabulário. Esta regra é mencionada pela primeira vez em ‘Carne e Osso’ (Episódio 12, Temporada 7)

Regra 7: Seja sempre específico quando você mente. Se você vai mentir, seja específico. Esta regra é mencionada pela primeira vez em ‘Reveille’ (Episódio 23, Temporada 1).

Regra 8: Nunca tome nada por garantido. Ninguém sabe melhor do que Gibbs que você nunca sabe quanto tempo vai ter alguém ou alguma coisa. Esta regra é mencionada pela primeira vez em ‘Probie’ (Episódio 10, Temporada 3).

Regra 9: Nunca vá a lugar nenhum sem uma faca. Gibbs sempre garante que ele tenha uma arma. Esta regra é mencionada pela primeira vez em ‘One Shot, One Kill’ (Episódio 13, Temporada 1).

Regra 10: Nunca se envolva pessoalmente em um caso. Gibbs recomenda se separar de um caso, para que você possa permanecer objetivo. Esta regra é mencionada pela primeira vez em “Obsessão” (Episódio 21, Temporada 7).

Regra 11: Quando o trabalho estiver concluído, vá embora. Gibbs não recomenda considerar um caso fechado. Esta regra é mencionada pela primeira vez em ‘Sempre Fidelis’ (Episódio 24, Temporada 6).

Regra 12: Nunca namore um colega de trabalho. Gibbs não gosta do romance do escritório. Esta regra é mencionada pela primeira vez em ‘Enigma’’ (Episódio 15, Temporada 1).

Regra 13: Nunca envolva advogados. Gibbs também não gosta de advogados. Esta regra é mencionada pela primeira vez em ‘Dano Colateral’‘ (Episódio 7, Temporada 6).

Regra 14: Dobre a linha, não a quebre. O agente Gibbs é a favor dos membros de sua equipe que estão um pouco confusos, mas ele não quer que eles sejam longe demais. Esta regra é mencionada pela primeira vez em ‘Anonymous Was A Woman’ (Episódio 4, Temporada 11).

Regra 15: Trabalhe sempre em equipe. Para Gibbs, o trabalho em equipe faz o sonho funcionar. Esta regra é mencionada pela primeira vez em ‘Salto de fé’’ (episódio 5, temporada 5).

Regra 16: Se alguém pensa que está na mão superior, quebre. Como você pode ver, Gibbs não tem medo de um pequeno confronto. Esta regra é mencionada pela primeira vez em ‘Pirâmide’’ (Episódio 24, Temporada 8).

Regra 18: É melhor buscar perdão do que pedir permissão. Até agora, a regra 17 não foi revelada. A regra 18 é mencionada pela primeira vez em ‘Guerra de Prata’’ (Episódio 4, Temporada 3).

Regra 20: Sempre olhe abaixo. Você nunca sabe o que (ou quem) pode estar escondido embaixo de algo. Esta regra é mencionada pela primeira vez em ‘The Artful Dodger’ (Episódio 17, Temporada 12).

Regra 22: Nunca, nunca incomode Gibbs em interrogatório. O homem não gosta de ser incomodado quando interrogar suspeitos. Esta regra é mencionada pela primeira vez em ‘Fumado’’ (Episódio 10, Temporada 4).

Regra 23: Nunca mexa no café de um fuzileiro naval se quiser viver. Gibbs é bastante sério sobre sua xícara de café da manhã. Esta regra é mencionada pela primeira vez em ‘Entrada Forçada’’ (Episódio 9, Temporada 2).

Regra 27: Duas maneiras de seguir alguém. Primeira maneira, eles nunca notam você. Segunda maneira, eles só notam você. Se você vai seguir alguém, não seja óbvio – ou muito óbvio. Esta regra foi mencionada pela primeira vez em “Jack-Knife” (Episódio 15, Temporada 7).

Regra 28: Quando precisar de ajuda, pergunte. Este conselho pode salvá-lo no trabalho. A regra 28 de Gibbs foi mencionada pela primeira vez em ‘Blood Brothers’ (Episódio 10, Temporada 13).

Regra 35: Sempre observe os observadores. Gibbs é paranoico? Não sabemos, mas essa regra parece funcionar para ele. A regra 35 foi mencionada pela primeira vez em ‘Baltimore’ (episódio 22, temporada 8).

Regra 36: Se parece que você está sendo tocado, provavelmente está. Esta regra pode ser seguida no amor e na vida. A regra 36 foi mencionada pela primeira vez em ‘Natureza da besta’’ (episódio 1, temporada 9).

Regra 38: No seu caso, você é o líder. Gibbs tem tudo a ver com a posse do seu trabalho. A regra 38 é mencionada pela primeira vez em “Bounce” (Episódio 16, Temporada 6).

Regra 39: Não existe coincidência. Gibbs não acredita em coincidência. A regra 39 foi mencionada pela primeira vez em ‘Obsessão’’ (episódio 21, temporada 7).

Regra 40: Se parece que alguém quer te pegar, eles querem. Não ignore seus instintos. A regra 40 foi introduzida pela primeira vez na “Regra Cinquenta e Um” (Episódio 24, Temporada 7).

Regra 42: Nunca aceite um pedido de desculpas de alguém que te deu um soco. Este faz sentido. Por que você confiaria em alguém que tentou machucá-lo? A regra 42 foi introduzida em ‘Psych Out’ (Episódio 16, Temporada 9).

Regra 44: Primeiramente, oculte mulheres e crianças. Gibbs é sobre proteger mulheres e crianças. A regra 44 foi introduzida em ‘Patriot Down’ (Episódio 23, 7ª Temporada).

Regra 45: Deixou uma bagunça, eu tenho que limpar. Gibbs não gosta de bagunça. A regra 45 foi introduzida na “Regra Cinquenta e Um” (Episódio 24, Temporada 7).

Regra 51: Às vezes você está errado. Gibbs não se desculpa, mas reconhece quando está errado. A regra 51 foi introduzida na “Regra Cinquenta e Um” (Episódio 24, Temporada 7).

Regra 62: Sempre dê espaço às pessoas quando elas descerem do elevador. Desejamos que mais pessoas sigam essa regra. A regra 62 foi introduzida em “Double Back” (Episódio 13, Temporada 11)

Regra 69: Nunca confie em uma mulher que não confia em seu homem. Apostamos que Gibbs está falando por experiência própria. A regra 69 foi introduzida em ‘Devil’s Triangle’ (episódio 7, temporada 9).


[1]https://www.adorocinema.com/series/serie-133/

Autor:

Antonio J. Trovão

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