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sábado, 20 de julho de 2024

O que somos capazes de fazer…Caso: BRUMADINHO

A simpática cidade de Brumadinho foi surpreendida no dia 29 de janeiro de 2019, por uma onda de lama, com mais de doze milhões de metros cúbicos de rejeitos de uma mina de ferro, descendo rio abaixo, após o rompimento da barragem.

A Barragem de Brumadinho (controlado pela VALE), na verdade é a barragem da Mina do Córrego do Feijão considerada de “baixo risco” que ficava no ribeirão Ferro-Carvão, na região do Córrego do Feijão (Município de Brumadinho).

O rompimento da barragem de Brumadinho foi seguramente, até então, a maior tragédia do Brasil, comparando-se a outros rompimentos, a exemplo do da Barragem Rio verde, em Macacos em 2001; em Catacazes em 2003, em Miraí (Rio Pomba) em 2007, em Herculano Mineração em Itabirito (2014 com três mortes), e ao rompimento da barragem em Mariana (2015, com dezenove mortes).

As dimensões do rompimento foram tão grandes que, em poucos minutos, centenas de vidas humanas foram ceifadas, sem chances de sobreviver. Esse desastre causou a morte imediata de 272 pessoas (há controvérsia, pois, oficialmente alegam que foram 270 mortes, pois desconsideram os dois fetos igualmente atingidos).

Brumadinho é considerado o maior acidente de trabalho na história do Brasil e, no que se refere a desastres ambientais de mineração, somente foi inferior ao rompimento da barragem de Mariana, também em Minas Gerais e pelos relatórios disponíveis, ainda existem centenas de barragens no Brasil com potencial de serem rompidas: Isto é só uma questão de tempo.

Cerca de três dias após o rompimento da barragem de Mariana, não resisti e convidei Alberto e André, dois amigos, para irmos de carro, sentir, in loco, o impacto do desastre.

O que foi visto é de causar um choque a qualquer um. “…Como, em sã consciência, um rompimento desse pode acontecer?…” Independente das justificativas técnicas, os olhos se recusavam a acreditar, no que víamos. Isso, porque restringimos a nossa visita a Bento Gonçalves, sem ter acompanhado a catástrofe no Rio Doce abaixo até o mar, onde a lama de rejeitos atingiu, não só Abrolhos (Ilha localizada mar a dentro) mas principalmente, todas as margens do rio, as lagoas marginais e o manguezal.

Ingenuamente chegou-se a acreditar, na época do desastre de Mariana, que este exemplo motivaria os Órgãos Ambientais, bem como as próprias mineradoras, a tomar todas as providencias necessárias, implantando medidas técnicas eficientes e severas para evitar a repetição do ocorrido.

Ledo engano.

Três anos depois    acontece Brumadinho.

Aqui em Brumadinho inclusive, os impactos sociais imediatos foram bem mais dramáticos. Ceifou-se a vida, de muitas pessoas, mas, indiretamente o impacto social foi ainda maior, pois tratou-se da perda da identidade das famílias afetadas; sua vida social; sua sobrevivência e, a contaminação crônica que continua a fazer vítimas “menos espetaculares sob o ponto de vista jornalístico”, mas igualmente desastrosas à nível pessoal e familiar.

As indenizações recebidas, estão longe de uma verdadeira compensação, de trazer um novo sentido, embora tenham dado um “sopro suave” no sofrimento das pessoas que, enterraram seus entes queridos. Mas, para aquelas famílias que, infelizmente ainda vivenciam o desaparecimento

de seus entes, até hoje não localizados, o sofrimento é ainda maior, pois não tiveram como se despedir dignamente dos seus familiares.

Nas minhas caminhadas na região e conversando com inúmeras famílias, pude sentir a tristeza e principalmente desesperança naquelas pessoas, que além da ausência dos seus familiares, não têm o direito de serem indenizadas, de começarem uma vida nova em algum outro lugar.

Aqui, na minha opinião, jaz outro drama.

Para onde estes atingidos vão? Que identidade levam consigo? Como superar o trauma sofrido? Dá para simplesmente mudar de cidade e recomeçar? E o vizinho amigo, onde ficou? E o pessoal da rua, por onde anda? Eles recebem assistência psicológica? Enfim, esse drama invisível. “…certamente está longe de ser apagado com as indenizações…”. Esta não parece ser a visão dos empreiteiros indenizadores pois certamente eles estão com suas consciências aliviadas, pelo menos é o que parece.

No meio deste drama, pude encontrar pessoas, famílias resilientes, que querem recomeçar sua vida no próprio local.

Fiquei admirado com a garra e disponibilidade desse pessoal e me causou uma profunda impressão de “pertencimento”. Palavra nova para mim, neste contexto, mas de grande significado.

Essas pessoas e essas famílias, se bem orientadas e assistidas, terão chance de recomeçar a vida e agora, com mais consciência, mais garra, para lutar pelo que é seu, pelo que lhe pertence e pelo que lhes foi tirado e que, por direito, deve lhes ser devolvido.

Muitas lições ainda serão aprendidas. Registro aqui o meu mais profundo desejo de muito sucesso a cada um.

Quem sabe, aqui com uma pitada de ironia, com toda esta vivência, estas pessoas poderão consolar as famílias que serão futuramente afetadas, pelo rompimento de outras barragens que “só estão esperando o tempo”, para se romperem e daí… a história se repetirá….

Que triste sina.

A ganância é tão grande que não há espaço para a responsabilidade com os humanos mortais. Imaginem a responsabilidade ambiental, ecológica? Quem se importa? Talvez na contabilidade geral sejam mais propícios embutir os cálculos dos prejuízos e indenizações. Certamente assim deve rezar a cartilha….

Quais lições tirar de toda situação?

Para mim, conhecendo Mariana e Brumadinho a aprendizagem é enorme, me recarregou as energias morais, éticas e técnicas e o compromisso de fazer algo, de concreto, por menor que seja, independente de saber que teremos mais umas 400 barragens esperando providencias….

Temos que entender que, embora nos julguemos “sapiens”, estamos longe de honrarmos esse título!

Autor:

Prof. Biólogo Geraldo G.J.Eysink

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