Me parece surpreendente que o encantamento com a vida se apresente nos sujeitos em uma intensidade inversamente proporcional às suas idades. Quiçá isso ocorra em razão da novidade dos primeiros contatos dotar até os mais insignificantes detalhes da vida (e, principalmente, da vida do outro) de um entusiasmante mistério. Ah!…É também, pois, e o digo como escritora, muito mais fácil traçar começo excepcional do que manter uma construção medíocre com desenvolvimento e conclusão. Assim é o amor da adolescência.
Pode ser que a precocidade me tenha envelhecido o caráter, como um perfume que se exala sozinho e perde a fragrância, e tal fato me leve a olhar com certo desapreço a banalidade da vida humana. O que vejo (ai!) é como o que se vê ao voar de avião: insignificantemente pequena, vejo ainda menores os que não voam comigo. É isso profundamente egoísta. Contudo, perante o vazio das horas que passam num mundo terrificantemente ipsum quid est, a opinião de um sujeito representa muito pouco diante do coletivo.
Tenho também um apreço por isso que escrevo -não digo amor-, pois há um sabor amadeirado na vida blasé. Citando Raquel de Queiroz, é meu pessimismo o que evita que eu me desaponte com a vida.
Malgrado tudo isso, há dez metros de mim, que caminho cinco centímetros acima da minha altura, amparada por um scarpin branco, dois adolescentes juram um para o outro o amor eterno.
Autoria:
Ariel Von Ocker é escritora, psicanalista, poliglota e acadêmica de Letras e História. Também já trabalhou no teatro como dramaturga e atriz. Autora com cinco livros publicados, atua desenvolvendo pesquisas na área da psicanálise, literatura sob perspectivas historiográficas e estudos de gênero.Atualmente se dedica também às artes plásticas através da iniciativa Projeto Simbiose, no qual atua no núcleo de direção em parceria com Michelle Diehl e Cristina Soares, além de ser editora chefe da Revista Ikebana.Contato: @ariel_von_ocker
