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terça-feira, 30 de julho de 2024

O esvaziamento e preenchimento dos símbolos.

Neste texto explicarei como o esvaziamento dos símbolos, seguido por um preenchimento novo, é utilizado como método de transformação, e de que se trata tal transformação.

Pois bem, começarei por um exemplo histórico: a Segunda Guerra Mundial. Durante este conflito, as forças ocidentais capitalistas democráticas (Aliados) e orientais comunistas ditatoriais (União Soviética) travaram uma sangrenta luta contra um inimigo em comum: as forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) comumente representadas pelo nazismo, que foi o fenômeno político-social mais violento e extremo, pelo menos em termos teóricos e ideológicos, quero dizer, chama muito mais a atenção uma ideologia que mata, extermina e escraviza por motivos étnicos raciais e preconceituosos do que o velho e há muito conhecido, até para época, imperialismo, no caso, o japonês, que apesar de não compactuar necessariamente com o nazismo, teve efeitos destrutivos similares.

Durante toda guerra, dois aspectos muito importantes e sempre presentes são a guerra de informações e a propaganda. A propaganda antinazista foi amplamente utilizada tanto pela União Soviética quanto pelos Aliados. Tendo a população em massa fixado a ideia de que os nazistas eram os vilões, por indução os Aliados e os comunistas soviéticos se tornaram os heróis, fundamentados numa visão dualística já muito bem consolidada em toda a cultura mundial.

Tendo consolidada essa ideia de “bem” x “mal”, os dois lados (Aliados x Eixo) absorveram por tabela todas qualidades de bom e ruim quase que automaticamente, se tornando símbolos.

Usarei de uma analogia para exemplificar:

Quem conhece um pouco sobre cultura pop e nerd sabe que o Super-Homem é um herói. Logo, é do bem. O Super-Homem se torna assim, um símbolo do bem. Porém, para se tornar esse símbolo de heroísmo e bondade, ele precisa de toda uma fundamentação moral. O Super-Homem não é herói porque usa uma capa vermelha, uma roupa azul e aquele símbolo em forma de “S”. Ele é herói porque suas atitudes são todas baseadas em um código moral de ampla aceitação. Ele faz coisas moralmente aprovadas pelo público, que inconscientemente associa toda essa retaguarda moral ao símbolo.

Sabendo disto, o que acontece: todo grupo político, indivíduo ou Estado, busca vestir um símbolo preconcebido como quem veste assim, os valores morais e do bem, de maneira que sua fundamentação e retaguarda teórica passam despercebidos por um público já muito acostumado a julgar automaticamente pelos símbolos imediatos. É por isso que Stalin não é um símbolo do mal tanto quanto Hitler, mesmo tendo matado ainda mais pessoas, mesmo tendo utilizado de métodos tão cruéis quanto, mesmo tendo mentido tanto quanto e tendo adotado postura e ideologias tão criminosas quanto as do ditador da Alemanha.

Nós observamos esse fenômeno atualmente em várias esferas da realidade. Por exemplo, empresas que adotem os discursos ambientalistas e de inclusão social em suas políticas de marketing tendem a ser vistas pelo público como empresas sérias e preocupadas com as ditas causas, sem que este público julgue moralmente as fundamentações, as atitudes e os impactos reais das ações dessas empresas. O mesmo acontece com políticos: terroristas, assassinos, ladrões e corruptos usam discursos e vestem camisas moralmente aprovadas pelo público, que não se dá conta de que se trata apenas do uso de símbolos desconectados com a experiência real.

Em última análise, uma elite dominante pode, e de fato faz, mudar de discurso dando a entender que se preocupam com o meio ambiente, com o bem-estar animal, com a qualidade de vida das pessoas, que por conta dos símbolos apresentados por essa elite, acreditam e aprovam, sem se dar conta de que estes não condizem com a realidade, e acreditando que essa elite é o grupo que mudará o mundo para melhor, acabam apoiando aqueles que sempre estiveram no topo da pirâmide social e que nunca ligaram para suas mazelas e até mesmo são a causa delas.

Notem: quem financia os grupos de esquerda? Quem financia as ONGs? Quem financia o MST? São os velhos e bons (maus) capitalistas. Capitalista não gasta dinheiro. Investe. Mas como agora vestem a roupinha do comunismo, previamente aprovado pelos cidadãos, passam despercebidos, longe de qualquer julgamento crítico e moral do povo.

Quando damos mais importância à mudança do que ao resultado que esta mudança trará na prática, aprovamos sem perceber uma mudança simbólica e de discurso, sem nos darmos conta de que são os mesmos de sempre, de que são os vilões, mas dessa vez vestidos com a capa dos heróis e símbolos vazios.

Autor:

Gustavo Navarro de Andrade Peres

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