Comumente dizemos e ouvimos dizer:
_ Por que aquele jovem se envolveu com drogas, ele tem tudo os pais o cercam de mimos.
_Aquele jovem só podia dar nisso, no caminho das drogas, olha o exemplo que tem em casa.
_Esse jovem só iria mesmo por esse caminho das drogas, olha o que vê em casa, a mãe se entupindo de remédio para dormir, a irmã de remédio para emagrecer, o pai afogando as mágoas no álcool.
_ Só podia dar nisso, se enveredar pelo caminho das drogas, a única maneira que encontrou de se sentir aceito pelos colegas descolados, desde pequeno vivia jogado ninguém dava atenção para ele..
Podemos citar inúmeros comentários a respeito deste assunto tão complicado que se comenta , até com um certo sarcasmo, desprezo, quando é com o outro, mas quando bate na sua família, na sua porta emocional o quadro se transforma e vem a pergunta:
_ Por que , o que foi que eu fiz, onde será que eu errei? Se perguntam os pais, responsáveis pelo jovem que se enveredou pelo caminho das drogas, desesperados.
E agora o que fazer?
Infelizmente só se percebe ou se admite o problema quando já se instalou dentro do seu núcleo familiar, amizades,… e então o desespero bate e as perguntas sem respostas também e principalmente a culpa de não ter percebido ou não ter dado importância aos sinais que o jovem estava dando.
Vamos a alguns sinais:
Infância deixada para terceiros cuidarem, não valorização de ações positivas que este jovem fazia e vinha mostrar aos responsáveis que simplesmente diziam :
_Ah! Que bonitinho. Não faz mais que sua obrigação, olha o seu tamanho. Você tem de se esforçar mesmo, olha a fortuna que vai herdar. Olha o seu irmão inteligente, não vai ser que nem seu pai, um cachaceiro, drogado.
_Eu tomo remédio mesmo, assim eu durmo e esqueço tudo. Tomo remédio assim fico magra e todos vão me admirar.
Os responsáveis pelo jovem ouve ele dizer sempre:
_Eu queria ser que nem aquele traficante da esquina de baixo, tem tudo, meninas bonitas, poder, todos respeitam ele. Esses responsáveis até dão risada ou acrescentam um :
_É mesmo aquele que sabe viver. Não percebendo o mal que estavam plantando com esse comentário e descaso.
O jovem chega em casa e simplesmente comunica não pede autorização aos pais, responsáveis, de classe social elevada:
_Vou dar um festão hoje, nem vão aparecer aqui, hoje a casa é minha.
Os responsáveis, acostumados com essa atitude autoritária do jovem, simplesmente dizem:
_ Vai lá, você tem de se divertir mesmo, é jovem. Tem de aproveitar a vida.
Independente da classe social esse problema é de saúde pública , o traficante e o usuário, são responsáveis por prisões, mortes por cobrança de dívidas, aliciamentos, prostituições, violências em todos os níveis, rompimentos de vínculos familiares, tornam-se moradores de rua, perda da identidade,…. Levam e aproveitam a vida, mas quando as coisas saem do controle, arrebanham quem estiver pronto a lhes ajudar, usando-as sem nenhuma piedade, o importante é pagar as dívidas, ficar bem com os “amigos” do poder ou mostrar poder .
Some coisas dentro de casa, chega sempre com os olhos vermelhos, nariz fungando, camisa de manga comprida mesmo no calor, vive com medo, assustado, fica horas olhando para o nada, vive eufórico demais, necessidade de sempre se achar o máximo ou o coitadinho, violento, sádico, cinismo exagerado, não mostra empatia de jeito nenhum, vive cobrando das pessoas coisas materiais, atenção… sinais que merecem serem observados.
Existem más companhias?
Não.
Existem afinidades e tendências inatas ao ser humano que se afinizam com o outro ou não e, na maioria das vezes, na adolescência se externizam, uma vez que é o momento em que o jovem tenta se encaixar nos grupos familiares, trabalho, sociais,… Nesse momento existe o confronto entre essas afinidades e tendências que possui e a realidade em que vive suas necessidades em todos os níveis e ai se depara com as escolhas , muitas vezes, não se importando com as consequências, apenas com o resultado satisfatório momentâneo.
Palavras, conselhos, são extremamente importantes, mas são os exemplos que pesam mais.
Pais adolescentes , pais ou responsáveis omissos, debochados, violentos, usuários de remédios, drogas, cigarros, álcool, mimos demais ou de menos, não apresentam um caminho religioso para o jovem, sempre o denigrem, fazendo comparações com personagens degradantes, não valorizam o trabalho digno independente do valor da remuneração, sempre reclamando, querendo mais.
Pais ou responsáveis de classe social abastada, não mostram a importância de conservá-la, de mostrar o quanto é afortunado por ter regalias e que não deve humilhar, usar as pessoas e sim ajudá-las nos momentos que precisam.
A criança desde o berço é uma excelente observadora e sabe cobrar, impor os seus desejos, tem impulsos, tendências e afinidades. Cabe aos pais, responsáveis por ela, observá-la no todo, sem comparações, apelidos, cada uma é única e deve ser tratada como tal. Ajudar esta criança a se tornar alguém responsável e cumpridora dos seus deveres em todos os sentidos, que ela não é uma ilha mostrando o que é erro-punição e o erro-consequência, punir não é bater, rejeitar, desistir dela é mostrar os valores do bem e do mal e que toda consequência arrasta alguém junto.
Ouvimos dizer o meu filho não tem mais jeito!
Tem sim, se não foram observados os sinais quando bebê, criança, podem serem no momento atual, sempre se tem jeito, algum familiar , amigo, alguém do seu convívio que ele respeite e que tenha influência positiva sobre ele, alguma atividade que o atraia, sentimentos positivos que ainda possua.
Pais independentes da idade, da concepção familiar que estejam inseridos, da maneira que foram concebidos, planejados ou não, pela ajuda da medicina, da classe social, a partir do momento que um ser é concebido, deve ser cuidado , está no mundo e o mundo não é responsável por ele e sim quem permitiu que eles nascessem.
Não precisa desespero, afundar junto usando ajuda momentânea, remédios, drogas, álcool, cigarro, nunca desistir deste ser, lembrando que somos o que somos hoje, úteis, bons ou nocivos para o nosso núcleo familiar, trabalho, sociedade, porque alguém investiu em nós e nos ajudaram ou não , a direcionarmos as nossas tendências e aptidões para o bem ou para o mal.
Autora:
Teresa Armando Elios da Silva, assistente social e gestora do terceiro setor.