25.2 C
São Paulo
quarta-feira, 24 de julho de 2024

Vivendo no contra censo

Outra noite, acordei de madrugada, como tenho feito há muito tempo, abro a janela e procuro o meu amigo de noitadas, um sabiá laranjeira, que começa a cantar quando a cidade se aquieta, e encerra quando a cidade volta às suas corridas matinais. Torna-se uma conversa amigável, em que ele me conta as coisas que encontrou no decorrer do dia e eu conto as vitórias conquistadas.

Outro dia me contou que próximo ao prédio azul (do INSS) haviam mangas quase maduras, pronto para desfrutar, também contou onde encontrava framboesa, que as pessoas pegavam, mas as mais altas ficavam para ele e os amigos.

Apesar de já ter lido a respeito, perguntei por que ele cantava em um horário tão diferente dos demais pássaros, ele me respondeu que a cidade é barulhenta demais, seu canto não atinge as fêmeas, então, não muito tempo atrás, mudou seu hábito para a noite, que era muito mais produtivo, mesmo que alguns lugares em certos dias da semana toram-se totalmente inapropriados. Havia menos caçadores, com exceção dos gatos, que fogem de seus lares durante a noite para se divertir em grupo.

Nessas conversas, vi que minha vida estava mais para os habitantes diurnos, com suas correrias, já havia passado dezenas de vezes pela mangueira e pela pitangueira, sem as notar, percebi que muito da minha vida é um contra censo do que deveria ser, descobri que há muito mais prazer em sair com os amigos do que ficar trancafiado em minha própria jaula de vidro e concreto.

Resolvi viver de uma forma diferente, não preciso de rios de dinheiro, apenas o suficiente para pagar minhas contas e uma comida diferenciada ocasionalmente, ter inimigos não é um modo de vida saudável, se há caçadores nas redondezas, manter-se longe deles é uma forma saudável de viver, se há amigos, conviver com eles é o melhor que se pode esperar de uma sociedade saudável, se os amigos não forem bons, manter uma conversa saudável e respeitosa.

Parece que tudo o que aprendi nestes cinquenta anos estavam, pelo menos parcialmente, equivocados, trabalhei até ficar doente, me cuidei e fiz de novo e novamente. Para ter pessoas ao meu redor, aturava ou até mesmo praticava falas e gestos que não condizem, não fazem bem e nem me tornam mais querido ou desejado. Resolvi mudar a minha vida, procurar as coisas mais interessantes e saudáveis. Ser inteligente não é algo bem quisto nesta sociedade, portanto cuido de meu cérebro como quem possui um vinho antigo, para ser desfrutado com quem realmente merece.

Meu desejo a você é saúde, paz, sabedoria e harmonia.

Autor:

Márcio de Souza Almeida

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Leia mais

Patrocínio