
Os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora participam de três exposições simultâneas em importantes instituições do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde apresentam obras de naturezas diversas, todas atravessadas pelo carnaval. No Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro, eles integram a recém-inaugurada “Manguezal”, com curadoria de Marcelo Campos. No Paço Imperial, participam da mostra que apresenta os premiados da 16ª edição do PIPA, um dos mais importantes prêmios da arte contemporânea brasileira, sendo os primeiros artistas do carnaval a vencerem o prêmio. Em São Paulo, desenhos da dupla compõem a exposição “Trabalho de Carnaval”, com curadoria de Ana Maria Maia e Renato Menezes. Paralelamente às exposições, eles assinam o projeto artístico da Unidos de Vila Isabel para o desfile de 2026, com enredo sobre o sambista e multiartista Heitor dos Prazeres, intitulado “Macumbembê, Samborembá: Sonhei que um Sambista Sonhou a África.”
No Paço Imperial, até o dia 16 de novembro de 2025, Haddad e Bora apresentam a instalação inédita “Rebordar”, composta por 12 quilômetros de fios de malha, cordas, cordões, cabos de luz e tubos de plástico, utilizados para “costurar” um globo de ferro a um manto de tecido. A instalação também utiliza materiais como rendas, pastilhas, galões, franjas, espelhos, paetês, botões, fuxicos e placas de acetato, comumente utilizados no dia a dia dos ateliês que produzem o “maior espetáculo da Terra”. Juntamente com a instalação, os artistas também apresentam um conjunto de desenhos de projetos de fantasias e carros alegóricos dos desfiles de 2018 e 2022. A exposição coletiva também reúne trabalhos de Andréa Hygino, Flávia Ventura e Darks Miranda e para marcar o encerramento, no dia 15 de novembro, às 14h, serão realizadas conversas na Sala dos Archeiros, onde também será lançado o catálogo do prêmio deste ano, com distribuição gratuita (quantidade limitada), que conta com imagens da mostra, e uma entrevista de Haddad e Bora com o curador Luiz Camillo Osorio.
“Rebordar” sintetiza vivências, memórias e materialidades carnavalescas: “A nossa estreia na Marquês de Sapucaí ocorreu em 2018, quando desenvolvemos para a Acadêmicos do Cubango um enredo que era encerrado com uma interpretação carnavalizada do Manto da Apresentação de Arthur Bispo do Rosario, veste ritual e obra de arte que literalmente norteou todo o processo criativo. As pessoas perguntavam se aquilo era uma escultura ou uma fantasia gigante e passavam horas nos ajudando a colar retalhos. Também escreviam os seus próprios nomes e anotavam pedidos diversos, ou seja, o manto passou a ser uma obra coletiva, um arquipélago de memórias. Agora, em 2025, conectamos os vestígios de 2018 a um globo de ferro que sintetiza a abertura do desfile que concebemos artisticamente para a Acadêmicos do Grande Rio, em 2022. A releitura do globo de Exu pode gerar múltiplas interpretações poéticas, o que nos reanima e dá novos significados às memórias que bordamos”, contam os artistas, que adiantam que a obra também recebeu materiais que sobraram do processo de feitura dos protótipos das fantasias idealizadas para o desfile de 2026 da Unidos de Vila Isabel.
No CCBB RJ, Haddad e Bora apresentam, na exposição “Manguezal”, uma instalação site-specific chamada “Vermelho-Mangue”, que reinterpreta um conjunto de peças escultóricas originalmente concebidas para a cenografia do segundo carro alegórico do desfile de 2025 da Grande Rio. Inserida em um enredo que celebrava a encruzilhada cultural do Tambor de Mina paraense, a alegoria, intitulada “Quem é de barro, no igapó, é Caruana”, representava os seres encantados que habitam os manguezais marajoaras, os Caruanas, e a arte em cerâmica que expressa milênios de saberes e hibridações. Na visão dos autores, “Vermelho-Mangue” amplia o imaginário do manguezal como espaço de encantamento, oralidade e criação coletiva.
A centelha criativa da obra é a observação de espécimes vegetais e animais existentes nos manguezais brasileiros, com ênfase na árvore Mangue Vermelho e na coloração de crustáceos, como o caranguejo Aratu. “O jogo lexical evoca o tom vermelho-sangue. O emaranhado de raízes e galhos (veias e artérias) confeccionados com espuma, tecidos e materiais que oriundos de diferentes criações carnavalescas (reprocessamento e ressignificação), convida o público a um mergulho no ‘útero do mundo’, reflexão acerca do fervilhar da vida observado no ecossistema em questão”, dizem Haddad e Bora. A obra traz, ainda, luzes e fios elétricos que dão ritmo ao conjunto visual. As peças que, na Marquês de Sapucaí, deram contornos a uma visão onírica dos manguezais da Amazônia, agora se misturam a uma instalação inédita, enredando memórias, sons, resquícios, sensações: “Trata-se de uma instalação produzida no barracão da Vila Isabel, com esculturas da Grande Rio. Ou seja: as ideias de fluxo, mistura e cruzamento já estão aí.” – sintetiza a dupla.
Na Pinacoteca de São Paulo, Bora e Haddad estão elencados entre os 70 artistas que compõem a exposição “Trabalho de Carnaval”, mosaico do qual fazem parte nomes como Alberto Pitta, Bajado, Bárbara Wagner, Heitor dos Prazeres, Rosa Magalhães, Joãosinho Trinta, Maria Augusta Rodrigues e Rafa Bqueer. Três estudos realizados pela dupla para elementos alegóricos do desfile de 2019 da Acadêmicos do Cubango são apresentados aos visitantes. Na expografia, os desenhos dialogam com o filme “A Alma das Coisas”, de Douglas Soares e Felipe Herzog, que poeticamente narra o nascimento e a morte de uma escultura de isopor, justamente o boneco Babalotim do carro abre-alas do desfile em questão, intitulado “Igbá Cubango: a alma das coisas e a arte dos milagres”. “A feitura de estudos, esboços, croquis, trabalhos parcialmente pintados, riscados a grafite, é o nosso cotidiano. Para nós, é muito interessante expor esses desenhos “miúdos”, inacabados, e revisitar um processo de criação que nos levou a refletir sobre os ex-votos e as religiosidades populares do Brasil. E mais interessante ainda é perceber que esses trabalhos estão em uma exposição que também conta com estudos de Marina Vergara para esculturasdos carnavais de 2024 e 2025 da Grande Rio,e com a pintura de Heitor dos Prazeres, o enredo que estamos desenvolvendo para o carnaval da Vila Isabel de 2026. O passado e o futuro se conectam, sempre girando.” – finalizam os artistas.
SOBRE OS ARTISTAS
Gabriel Haddad e Leonardo Bora são multiartistas e professores brasileiros que encontram nas linguagens das escolas de samba a sua principal encruzilhada criativa. Enquanto carnavalescos, desenvolveram narrativas escritas e visuais para agremiações como Mocidade Unida do Santa Marta, Acadêmicos do Sossego, Acadêmicos do Cubango, Acadêmicos do Grande Rio e Unidos de Vila Isabel. Na Grande Rio, merece destaque o cortejo de 2022, “Fala, Majeté! Sete Chaves de Exu”, campeão do Grupo Especial carioca ao celebrar as potências de Exu. Misturando vozes e materialidades, expuseram trabalhos em instituições como o Museu de Arte do Rio, o CCBB-RJ, o Centre National du Costume (Moulins), o Grand Palais (Paris), o Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, o Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, o SESC Pinheiros, o Museu do Samba e o MUHCAB. Os enredos que desfiam em palavras, fantasias e alegorias propõem reflexões acerca de temas como religiosidade, fantasmagoria, metalinguagem e memória.
Serviço: Gabriel Haddad e Leonardo Bora no CCBB RJ, no Paço Imperial e na Pinacoteca de São Paulo
· Exposição 16ª edição do Prêmio PIPA – Paço Imperial
Até 16 de novembro de 2025
Centro Cultural do Patrimônio Paço Imperial
Praça XV de Novembro, 48 – Centro – Rio de Janeiro – RJ
Terça a domingo e feriados, das 12h às 18h.
Entrada gratuita
· Exposição Manguezal – CCBB RJ
Até 02 de fevereiro de 2026
Entrada gratuita – De quarta a segunda, das 9h às 20h (fecha às terças-feiras)
*Aos domingos, das 8h às 9h, atendimento exclusivo para visitação de pessoas com deficiências intelectuais e/ou mentais e seus acompanhantes, conforme determinação legal (Lei Municipal nº 6.278/2017).
Classificação indicativa: Livre
Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB RJ)
Rua Primeiro de Março, 66 – 2º andar – Centro – Rio de Janeiro / RJ
Contato: (21) 3808-2020 | ccbbrio@bb.com.br
Mais informações em bb.com.br/cultura
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· Exposição Trabalho de Carnaval – Pinacoteca de São Paulo
Abertura 08 de novembro de 2025, às 11 horas, com entrada gratuita
Até 12 de abril de 2026
Aberto todos os dias, exceto terças
Entrada gratuita aos sábados e no segundo domingo de cada mês
Edifício Pina Contemporânea, Grande Galeria – Avenida Tiradentes, 273 – Luz – São Paulo – SP

