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terça-feira, 23 de julho de 2024

Perdemos um meme

Meme é um termo de origem grega, como aproximadamente um terço do nosso vocabulário, que significa imitação e muito utilizado no universo da internet, referindo-se ao fenômeno da viralização. Ele traduz alguma informação, que pode ter as mais variadas formas (vídeo, imagem, música, frase), que se espalha rapidamente e que alcança grande popularidade. Em muitos casos, relaciona-se também ao humor.

O seu conceito foi criado, ainda em 1976, pelo zoólogo e escritor Richard Dawkins. Em “O Gene Egoísta”, o estudioso comparou o “meme” como o equivalente cultural do “gene”. Segundo sua teoria, ele seria uma unidade de informação com capacidade de se multiplicar, através das ideias e informações que se propagam de pessoa para pessoa. Acredita-se que sua estreia na internet ocorreu em 1998, nos trabalhos desenvolvidos por Joshua Schachter.

Atualmente, os “memes” são importantes na medida em que eles fomentam os comentários das pessoas e os compartilhamentos. Comercialmente, eles também podem criar uma aproximação entre o cliente e a marca. No futebol, dentre outras funções, eles também servem para provocar as gozações com os clubes rivais.

Desde a longínqua criação da Copa São Paulo de Futebol Júnior, a Copinha, em 1969, o Palmeiras não a havia conquistado. Por isto mesmo, a cada novo fracasso, os memes, sempre criativos, se multiplicavam na internet e rendiam, para todos os outros torcedores, boas risadas. Acabou! O dia 25 de janeiro de 2022 passará para a história do futebol como a morte dos memes do Palmeiras sem a copinha.

O alviverde tornou-se exemplo de como a organização e o profissionalismo no futebol podem render bons frutos. No final de 2012, o clube estava endividado e amargava um novo rebaixamento para a Série B. A situação era tão grotesca que o Grêmio, querendo contar com o atacante argentino Hernán Barcos, conhecido como Pirata, ídolo do alviverde, propôs sua troca por cinco atletas do tricolor e ainda um retorno financeiro. Um dos jogadores envolvidos na troca era o atacante Marcelo Moreno, que estava na reserva do tricolor gaúcho. O pai do atleta, publicamente, afirmou que o jogador preferia continuar na reserva do Grêmio do que atuar em um clube pequeno.

Paulo Nobre, o bilionário que havia recém assumido a presidência do Palmeiras, enfrentou grandes dificuldades no seu primeiro mandato, mas conseguiu organizar a casa e, a partir de 2015, o alviverde engatou vários títulos importantes em sequência. Apesar das conquistas no profissional, ainda faltava o título mais tradicional da base do futebol brasileiro.

De forma inteligente, os dirigentes palmeirenses não investiram apenas na contratação de jogadores renomados ou no futebol profissional, mas também acreditaram na base e até subverteram sua própria história. Quem a conhece, sabe que são poucos os casos de sucesso entre os garotos que começaram nas categorias de base do alviverde. O clube sempre foi conhecido por ter uma boa escola de goleiros, mas revelava poucos jogadores de linha. No entanto, desde janeiro de 2015, o clube investe, em média, na formação de novos talentos, mais de R$ 1,5 milhão por mês.

O resultado para os cofres do clube não tardou. Além de vários talentos reforçarem o grupo principal do Palmeiras, até setembro de 2020, o clube já havia arrecadado R$ 385 milhões só com a venda de atletas criados em casa. Nos gramados, o saldo também foi muito positivo, a base em 2017 conquistou 17 títulos, no ano seguinte foram 23 e em 2019 alcançou 34 taças. Faltava a cereja do bolo, a Copinha.

O Palmeiras montou um elenco muito forte para a disputa da competição em 2022. Diversos atletas do grupo computavam minutagens no futebol profissional. Além disso, conta com um jovem, Endrick, de apenas 15 anos, que poderá ser um jogador fora de série. O atacante palmeirense é fisicamente forte, jogou contra defensores mais velhos e não se intimidou, é extremamente habilidoso e sabe atacar os espaços vazios deixados pelos marcadores, dando aquela deliciosa sensação de que é a bola que o procura, como somente os gênios – Romário, Ronaldo – sabem fazer.

A consagração alviverde valorizou-se também pelo bom nível técnico de diversas equipes que disputaram a competição. São Paulo, Santos, Cruzeiro, Vasco, Internacional e Fluminense apresentaram times fortes e extremamente competitivos. Taticamente, os clubes aqui destacados, além de outros, valorizaram a posse de bola, jogaram com marcação alta, buscaram sufocar o adversário. Espero que no processo de lapidação desses jogadores tais características não sejam relegadas ou abandonadas.

Como pontos negativos da competição destaco, em primeiro lugar, algo que é histórico: o péssimo estado de vários gramados que sediaram a competição. Isto prejudica a qualidade do espetáculo, nivela as equipes tecnicamente e ainda pode gerar contusões sérias nos atletas.

O segundo ponto negativo pode ser exemplificado por dois fatos que, inclusive, demonstram a falência de toda a sociedade brasileira. A semifinal entre Palmeiras e São Paulo, disputada em Barueri, teve torcida única, no caso, são-paulina. A incapacidade das forças de segurança paulistas de organizarem um evento que possa contar com torcedores de dois grandes clubes rivais é simplesmente um achincalhe ao país. Se o organismo que representa o aparato legal repressivo atesta sua incapacidade em lidar com os torcedores, como podemos confiar em sua atuação contra outros grupos que desorganizam o tecido social? Como eles podem combater o crime organizado? Não será armando a população, como tolamente alguns acreditam, que a violência brasileira será equacionada.

Vamos ao segundo fato que manchou a Copinha. Trato da invasão de campo, já nos descontos, ocorrida na semifinal entre São Paulo e Palmeiras que se agravou com a faca encontrada no gramado. Segundo o delegado do DRADE (Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva), a faca foi arremessada para o campo. Mesmo que os invasores e a faca não possam ser relacionados, é lamentável que um jogo tão bem disputado tenha sido de tal forma maculado. Onde estavam os seguranças e a polícia? A faca, para ser atirada para dentro do campo, precisou entrar no estádio. Como isto aconteceu? Por que a revista falhou? Absurdo!

Absurdo também foi a continuação do jogo, que poderia, como quase ocorreu, beneficiar o infrator, não se esqueça que só havia torcedores do São Paulo. O tricolor esteve próximo do empate. O confronto deveria ter sido finalizado quando os marginais invadiram o gramado. O torcedor precisa ter a certeza de que os seus atos de vandalismo terão duras consequências e que prejudicarão o clube para o qual ele torce.

Autor:

Luiz Henrique Borges

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