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sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Fotografia artística, amor e beleza interior

Dizem que o lado bom de ser feio e pobre é que sua namorada te ama de verdade. O lado ruim é que quem éfeio e pobre não tem namorada. É por isso que Alan Bike bebe. O nome é Alamberto, mas bebe tanto que o chamam de Alan Bike. Ele bebe de tudo, menos Acetona, para não tirar o esmalte dos dentes.

Na adolescência, Alamberto se esforçava, mas era o último a ser escolhido no futebol, mesmo quando se oferecia para jogar no gol. Cantava tão mal que a professora de música do colégio o escalava para reger o coro. Ele não sabia reger, mas isso não era problema porque os alunos também não entendiam seus gestos.

Tentou dança de salão para se dar bem nos bailinhos da turma, mas quem o via dançar pensava que tinha dois pés esquerdos. Era desengonçado dançando em par ou sozinho. Foi afastado das coreografias, até da dança de quadrilha junina, após quebrar o nariz de duas colegas com movimento de braços bruscos e sempre na contramão.

Diziam que sua beleza interior era incrível e ele respondia que ninguém anda por aí com aparelho de ultrassom para ver a beleza interior. Quando esboçava o livro “Como fracassar na vida e ser infeliz no amor”, aconteceu algo que mudaria sua vida. 

O renomado fotógrafo Niko Dak alugou um cômodo na casa da sua família para instalar seu estúdio. Em troca de atender telefone e anotar recados, ensinou o rapaz a fotografar, imprimir, revelar, ampliar fotos com filme preto e branco e deu-lhe duas câmeras de presente. Ele aprendeu rápido e fez sucesso produzindo books para as colegas. Niko Dak enfartou e Alamberto herdou o Estúdio.

Ninguém mais usa câmera com filme, mas as exóticas fotos em P&B, como gosta de dizer, conquistaram admiração e respeito. Os clientes de Niko Dak eram agora atendidos por Alamberto, que recusa fotografar casamentos, batizados, eventos etc. O gênio da fotografia só aceita encomendas artísticas e fotos publicitárias. 

A fama meteórica o levou fotografar para grandes Agências, ele ganhou muito dinheiro e importantes prêmios internacionais com fotos digitais criativas e maravilhosas, mas seus melhores trabalhos eram em P&B e Sépia. 

Alamberto alugou um imóvel maior e contratou Renata Vella, como secretária. Ela é muito bonita, desde que sem os óculos tipo fundo de garrafa com grau próximo à cegueira. É inteligente, ótima negociadora, sabe tudo de finanças e impulsionou os negócios. O faturamento cresceu tanto que o estúdio precisou se mudar para uma suntuosa casa num bairro nobre, onde Rê Wella comanda 8 empregados.

Alamberto trabalha muito e precisa de férias. Rê Wella o convenceu a fazerem um Cruzeiro marítimo de fim de ano. Ele ficou surpreso com a proposta, mas acabou gostando e topou. Ao retornarem, estavam noivos. Ela tomou a iniciativa e cuidou de tudo.

– Como você foi gostar de mim se nem consegue me ver direito?

– Meus outros sentidos são ótimos e seu cheiro é muito bom!

Em poucos meses, Rê Wella tornou-se sócia do mais importante estúdio do país, fez cirurgia na China e recuperou a plena visão. Ela sempre quis ser fotógrafa, mas a vista ruim impedia o sonho. Quando finalmente pode se dedicar à fotografia, ganhou muitos prêmios internacionais. Quando finalmente viu bem o marido, o achou feio.

Alamberto não entendeu como, de artista premiado e dono do mais importante estúdio do país, tornou-se empregado, fotógrafo de casamentos, batizados e eventos no Rê Wella Photo Art Studios. Alamberto teve saudades do tempo que ninguém o amava. Era feliz e não sabia! Vida que segue.

Laerte Temple
Laerte Temple
Administrador, advogado, mestre, doutor, professor universitário. Autor de Humor na Quarentena (Kindle) e Todos a Bordo (Kindle). Crônicas de humor toda sexta-feira, às 10h.

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