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segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Da gestão escolar à sala de aula: inovação digital pode reduzir desigualdades na educação

Um estudo de 2023 do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic) revela que apenas 44% dos jovens e adolescentes entre 9 e 17 anos têm acesso à internet na escola. O dado evidencia uma forma de desigualdade social que interfere diretamente na formação acadêmica e amplia a distância no acesso à universidade e ao mercado de trabalho. Entre estudantes das classes A e B, o acesso sobe para 56%, mostrando que o recorte socioeconômico ainda determina oportunidades educacionais. Diante desse cenário, a integração de Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) na gestão escolar surge como estratégia promissora para reduzir desigualdades. Ferramentas digitais permitem que gestores monitorem desempenho, frequência e engajamento dos alunos, oferecendo intervenções mais rápidas e direcionadas. A gestão escolar inteligente, portanto, não se limita à administração: é um instrumento de equidade.

Modelos híbridos e parcerias público-privadas têm ampliado a conectividade e o alcance de conteúdos em regiões menos favorecidas. Startups de educação digital desempenham papel relevante nesse contexto, oferecendo plataformas de aprendizado adaptativo, gamificação e recursos interativos que respeitam o ritmo de cada aluno. Essas soluções permitem personalização do ensino, engajamento e inclusão de estudantes com deficiência, mesmo em escolas com infraestrutura limitada. Além disso, as startups têm desenvolvido metodologias inovadoras que vão além da tecnologia em si. Programas de microlearning, trilhas personalizadas e ensino baseado em projetos tornam o aprendizado mais dinâmico e centrado no estudante, enquanto plataformas de análise de dados ajudam professores a identificar lacunas de conhecimento e planejar intervenções mais eficientes.

Entretanto, a inovação digital só gera equidade quando caminha junto com currículos que desenvolvem pensamento crítico, criatividade e habilidades socioemocionais. Dados mostram que a maior parte dos brasileiros apresenta déficits em inteligência emocional. Além disso, um levantamento realizado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) para o 6º Observatório de Carreiras e Mercado de Trabalho revelou que 50% das demissões em 2024 foram causadas por questões comportamentais. As habilidades socioemocionais são um imperativo para o desenvolvimento saudável e adaptável ao mundo conectado. Elas ajudam jovens a enfrentar pressões do ambiente digital e a se manterem motivados e resilientes, prevenindo evasão escolar e sofrimento emocional.

Outro ponto importante é a capacitação docente. A formação continuada em tecnologias educacionais é essencial para tornar a inovação sustentável. Professores conectados a comunidades de prática online podem trocar experiências e adotar boas práticas, garantindo que a tecnologia seja usada de forma estratégica e pedagógica. É importante lembrar: o que está sendo proposto não é que a tecnologia substitua o professor, mas sim que ela o desafie a assumir um novo papel. Em vez de mero transmissor de conteúdos, ele torna-se um mediador crítico, inspirando alunos, ajudando-os a priorizar informações e estimulando a leitura profunda e a reflexão. O currículo do século XXI precisa ser dinâmico e relevante, aproximando o aprendizado de problemas reais. Como propõe Sugata Mitra, devemos migrar do modelo “just in case” (ensinar tudo preventivamente) para o “just in time” (ensinar a aprender e a resolver), valorizando a autonomia e a capacidade de interpretar e usar informações. Esse processo também exige cuidado com o bem-estar emocional do educador, que enfrenta sobrecargas e precisa de suporte para exercer seu papel de inspirador e guia.

A adoção das TDICs, combinada a metodologias inovadoras e à capacitação docente, transforma escolas em ambientes mais inclusivos e preparados para os desafios atuais. Startups e soluções digitais têm potencial de democratizar o acesso à educação de qualidade, reduzir desigualdades regionais e socioeconômicas e preparar os alunos para o mercado de trabalho e a vida acadêmica. A tecnologia mais transformadora é a que alia dados acadêmicos e indicadores de bem-estar socioemocional para apoiar decisões pedagógicas e políticas públicas. Plataformas adaptativas e dashboards integrados podem ajudar gestores a identificar riscos de evasão e problemas emocionais precocemente, permitindo intervenções ágeis e humanas.

Mas a inovação precisa ser ética. O uso de dados deve proteger a privacidade de estudantes e professores, e a escola deve ensinar não só a usar a tecnologia, como também a compreender seus riscos e impactos, da desinformação às decisões automatizadas. Segundo Edgar Morin, educar para o futuro exige ensinar a condição humana, a compreensão do outro e a capacidade de enfrentar incertezas. A tecnologia deve estar a serviço de formar cidadãos críticos, resilientes e capazes de aprender continuamente.

A tecnologia na educação, aliada à gestão estratégica e à inovação pedagógica, não é apenas uma ferramenta, é um caminho para equidade educacional. Investir em acesso digital, plataformas adaptativas e capacitação docente permite transformar o ensino em uma experiência mais justa, inclusiva e eficaz para todos os estudantes.

Autores:

*Diogo Catão é CEO da Dome Ventures, uma Venture Builder GovTech que tem o propósito de transformar o futuro das instituições públicas no Brasil– e-mail: domeventures@nbpress.com.br

*Mariana Vasconcelos é CEO da PrimeDialog, uma Startup Nordestina que tem propósito de promover saúde mental e desenvolvimento humano com embasamento científico, linguagem acessível e impacto social nas escolas – e-mail: mariana@primedialog.com.br

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