“Coração de Ferro” foi a aposta quente da Marvel Studios para 2025, exibida exclusivamente no Disney+, e marca não apenas o encerramento oficial da Fase Cinco do MCU, mas uma reformulação inesperada do conceito de legado super-heroico. O corte do diretor chega à plataforma com seis episódios bem produzidos, cada um com cerca de uma hora, e finalmente faz justiça à personagem de Riri Williams – prodígio do MIT, gênio em engenharia e legítima sucessora de Tony Stark, sem precisar da sombra grandiosa do Homem de Ferro pairando sobre sua cabeça.
A minissérie transita entre a Chicago pulsante e os laboratórios do MIT, com Dominique Thorne dando corpo e alma à jovem Riri. Ela retorna para casa logo após “Wakanda Para Sempre”, enfrentando tragédias pessoais e uma batalha que coloca ciência e magia em conflito, graças ao vilão Capuz, interpretado por Anthony Ramos, que manipula magia negra e desafia diretamente a lógica dos circuitos e placas. A narrativa, nas mãos de Chinaka Hodge e dos diretores Sam Bailey e Angela Barnes, desvia do formato engessado típico do MCU e aposta em conflitos éticos, afetivos e tecnológicos. A discussão entre o velho e o novo – literalizada na relação entre tecnologia versus magia – traz para a mesa o verdadeiro dilema geracional da Marvel: como inovar sob o peso de um legado tão icônico sem cair na tentação do mero pastiche?
Visualmente, “Coração de Ferro” é vibrante e colorida, sem recorrer ao excesso de CGI padrão que esvaziou outras produções recentes do estúdio. A direção de arte valoriza os limites entre o urbano concreto e o fantástico digital, tornando a armadura de Riri um símbolo palpável de resistência social – com direito a IA inspirada em sua melhor amiga falecida, uma solução narrativa que emociona sem apelar ao sentimentalismo barato. Espíritos do passado, tensões familiares e aspirações adolescentes lutam por espaço em cada plano, e o corte do diretor intensifica esses embates internos.
A grande reflexão que “Coração de Ferro” deixa é sobre as novas formas de heroísmo e pertencimento: se Tony Stark era egocêntrico e visionário, Riri Williams representa um heroísmo plugado na comunidade, nos afetos e no trauma – prova de que, sim, a Marvel ainda pode contar boas histórias de origem que brilham em seus próprios méritos. Em tempos de saturação de conteúdo e franquias gastas, a série é um convite para olhar de novo para o futuro, mas sem perder o calor e a aspereza dos corações que sustentam a armadura.
Nota: 8/10

