Continuando nossa série de matérias sobre a franquia “Missão Impossível”, posso dizer que há algo de visceral, frenético e quase desesperado no universo de Missão Impossível – Efeito Fallout, lançado em 2018, que já anuncia sua natureza logo nos primeiros minutos: Ethan Hunt (Tom Cruise), outra vez amaldiçoado pelos fantasmas das missões antigas e escolhas tortuosas, se joga sobre o abismo, tanto literal quanto existencial, numa corrida desenfreada para impedir apocalipses e sabotagens globais. Nesta sexta jornada, dirigida por Christopher McQuarrie, a alma da franquia permanece intacta — mas ganha contornos grandiosos em cada cena, balanço narrativo e coreografia de explosões e perseguições.
O filme vale-se do melhor que o gênero ação pode oferecer ao público brasileiro ávido por entretenimento: um roteiro intrincado, que mistura espionagem, traição, duplas reviravoltas e uma cacofonia de egos entre agências rivais. Tom Cruise, como de costume, dispensa dublês e desafia a própria anatomia, saltando entre prédios e pilotando helicópteros como quem tenta fugir da própria mortalidade. Henry Cavill, o “Super-Homem” do elenco, surge como o agente da CIA August Walker, impondo presença e rivalidade genuína dentro do caos orquestrado por vilões em busca de plutônio. Rebecca Ferguson, Angela Bassett e Simon Pegg compõem o tempo em que o cansaço e a má consciência convivem com a necessidade de salvar o mundo – de novo.
O filme está disponível em plataformas como Globoplay, Paramount+ e Prime Video, tornando o acesso à insanidade e à genialidade do roteiro uma missão bem menos impossível para o público brasileiro, especialmente em 2025. A experiência ganha intensidade nas cenas de ação, explosões e perseguições, embaladas por uma trilha sonora que amplifica o ritmo cardíaco e uma fotografia que transita entre o monumental e o íntimo, sem perder a sofisticação.
Refletir sobre Fallout é abrir espaço para perguntas sobre lealdade, paranóia institucional e o eterno dilema dos heróis condenados a sacrificar tudo e todos. Ethan Hunt, com sua teimosia quase irritante em nunca abandonar um amigo — ou o mundo —, nos lembra da paranóia pública e burocrática, de como as estruturas de poder podem ser tanto ferramentas de salvação quanto prisões turvas. O roteiro consegue aliar o jogo de gato e rato com discussão sobre responsabilidade, confiança e riscos absurdos em uma sociedade intoxicada por interesses próprios. É entretenimento que, de fato, desafia a rotina insossa do cotidiano brasileiro, oferecendo fuga, catarse e espetáculo sem pedir licença à lógica.
Para quem busca ação, filosofia de balcão e adrenalina sem moderação — Missão Impossível – Efeito Fallout é o abismo iluminado pelo qual vale a pena se lançar. Nota: 10.

