Flávio Bolsonaro, o senador que vive em eterna performance de subserviência, ultrapassou todos os limites do ridículo patriótico ao sugerir que os Estados Unidos – sim, o mesmo império que derrota países sob pretexto humanitário – bombardeiem embarques na Baía de Guanabara. Não se trata de uma piada do Sensacionalista, mas de um político eleito pedindo um ataque militar estrangeiro em território brasileiro. O delírio colonial ganhou forma de tweet.
A operação que contratou o primogênito de Jair Bolsonaro foi uma ação norte-americana no Pacífico, onde três pessoas foram mortas após o bombardeio de um barco “suspeito” de narcotráfico. O secretário de Defesa de Trump comemorou o feito com a empolgação de quem joga um videogame de guerra. Flávio, tomado por um impulso messiânico de bajulação, respondeu na mesma língua: “Que inveja! Ouvi dizer que há barcos como esse aqui na Baía de Guanabara. Você não gostaria de passar alguns meses aqui nos ajudando?”. Eis o nacionalismo de boutique: o sonho de ver aviões estrangeiros cruzando o céu do Rio para jogar bombas em brasileiros.
Mas o que mais espanta é a naturalidade da barbárie. Estamos falando de uma baía onde os pescadores lutam para sobreviver com redes furadas e barcos de madeira. Gente que mal tem gasolina para sair ao mar — agora, segundo o senador, poderia virar “dano colateral” na cruzada norte-americana pela pureza do hemisfério. Quem garante que as embarcações “inundando o Brasil de drogas” não sejam simples trabalhadores tentando vender o almoço para comprar o jantar? A mentalidade bélica de Flávio e sua turma ignoram que o Brasil não precisa de bombas: precisão de dignidade, de emprego, de soberania.
É curioso: o patriota que enche o peito para falar em “verde e amarelo” clama por estrangeiros. O moralista que se diz “contra o tráfico” esqueceu o avião presidencial com 39 quilos de cocaína e as relações promíscuas entre seu clã e o submundo das rachadinhas. A lógica é simples e perversa: se não der para mandar prender o pobre, manda bombardear de uma vez.
O gesto revela o que há de mais doente no bolsonarismo: o desejo profundo de submissão. É o “vira-latismo kamikaze” – como disse certa coluna – de quem confunde patriotismo com se ajoelhar diante de potências. Essa gente não ama o Brasil, ama o chicote. Quer mísseis no lugar de diálogo, guerra no lugar de política, destruição no lugar de justiça.
Enquanto isso, o pescador permanece. Rema com medo das drogas que nunca viu, da fome que conhece demais e, agora, das bombas que o senador sonha no mandar.

