O Dia do Profissional de TI, celebrado em 19 de outubro, chega em um momento estratégico para o mercado brasileiro. Em meio à aceleração da transformação digital e à popularização da inteligência artificial, cresce a demanda por especialistas qualificados enquanto o país ainda enfrenta dificuldades para suprir essa necessidade, mesmo com o setor de tecnologia entre os que mais crescem no Brasil.
Segundo levantamento da Gartner, os investimentos globais em novas tecnologias cresceram cerca de 8% em 2024, alcançando US$ 5,1 trilhões. No Brasil, companhias de médio porte também ampliaram significativamente seus aportes em TI no último ano. Ainda assim, o país enfrenta um déficit crescente de profissionais qualificados: de acordo com a Brasscom, terão sido abertas quase 800 mil vagas até o fim de 2025, mas apenas 53 mil especialistas se formam anualmente — o que deve gerar uma lacuna de mais de 500 mil profissionais, cenário igualmente apontado por um relatório da Google for Startups.
“A transformação digital avançou em um ritmo que a formação profissional no Brasil não conseguiu acompanhar. Há mais vagas do que pessoas qualificadas, o que cria um verdadeiro leilão de talentos, especialmente em áreas como cibersegurança, ciência de dados e engenharia de software. A inteligência artificial deixou de ser apenas uma ferramenta de apoio e passou a ser estratégica para qualquer negócio”, destaca o especialista em tecnologia e CEO da Impulso, people tech especializada em outsourcing para times de tecnologia, Sylvestre Mergulhão.
Da dúvida à realização: a jornada de quem escolheu a tecnologia
A trajetória de Caio Costa, formando em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e pós-graduando em Perícia Forense e Cybersegurança, ilustra o caminho de muitos que hoje encontram na tecnologia uma oportunidade de transformação pessoal e profissional. “Comecei com TI por volta dos meus 14 anos, quando tive meu primeiro PC Gamer. Por entender que seria necessário ter muito cuidado com ele, comecei a assistir muitos vídeos sobre manutenção e montagem de computador. Aprendi muita coisa com os vídeos do Ronaldo Buassali, que é um dos maiores overclockers brasileiros, e com um tio meu que já atuava na área de TI desde quando eu era bem novo”, conta Caio.
Esse caminho reflete uma realidade cada vez mais comum no setor: a tecnologia está acessível para quem tem disposição para aprender, independentemente da formação acadêmica inicial. Segundo Sylvestre Mergulhão, CEO da Impulso, esse cenário representa uma mudança importante no mercado brasileiro. “Hoje, qualquer pessoa com acesso à internet pode aprender programação, análise de dados ou design de produtos digitais. Bootcamps intensivos, cursos online e comunidades de tecnologia oferecem caminhos acelerados para quem quer fazer a transição de carreira. O que falta, muitas vezes, não é acesso ao conhecimento, mas orientação sobre como e onde começar”, afirma.
Para quem está iniciando uma carreira em tecnologia, Caio compartilha sua visão sobre os primeiros passos. “Na minha opinião, é importante começar a pesquisar sobre as áreas que existem dentro do TI no geral. Hoje temos muitos vídeos com profissionais mostrando um pouco da sua rotina. Mas, sem dúvidas, um divisor de águas no início da minha carreira foi meu estágio, pois nele tive a oportunidade de conhecer de perto as áreas de suporte, infraestrutura, desenvolvimento, cibersegurança e conversar com esses profissionais para entender o que é feito no dia a dia. Então, procurem um bom estágio onde tenham oportunidade de transitar um pouco nessas áreas”, orienta.
Cinco passos estratégicos para iniciar na área
Com base em mais de uma década gerenciando times de tecnologia na Impulso, Sylvestre Mergulhão desenvolveu um roteiro prático para quem deseja ingressar no setor de TI. “Esses passos funcionam tanto para quem está começando do zero quanto para quem já tem alguma experiência e quer se reposicionar no mercado”, destaca o especialista.
1. Defina qual área de TI faz mais sentido para o seu perfil
O primeiro passo, segundo Mergulhão, é entender que TI não é uma área única, mas um ecossistema diverso de especialidades. “Muita gente acha que precisa ser um gênio da programação para trabalhar com tecnologia, mas existem dezenas de carreiras diferentes dentro do setor: desenvolvimento front-end, back-end, análise de dados, UX/UI design, product management, qualidade de software, cybersecurity, entre outras”, explica o CEO.
Caio Costa reforça essa visão com base em sua própria experiência. “A TI é bem amplo, mas com certeza vai ter alguma área que você vai se identificar mais. A área de suporte costumamos dizer que é a porta de entrada para todos. Nela tive a oportunidade de conhecer de forma prática várias áreas e isso me ajudou a descobrir meu caminho. Adquira o máximo de conhecimento possível, principalmente estudando. Confesso que, desde os meus 16 anos, a área de cibersegurança sempre me chamou muita atenção e é nessa direção que estou seguindo hoje”, compartilha.
Sylvestre recomenda que o profissional explore suas habilidades e interesses antes de escolher um caminho. “Se você gosta de resolver problemas complexos e trabalhar com lógica, desenvolvimento pode ser uma boa escolha. Se tem perfil mais criativo e centrado no usuário, UX pode fazer mais sentido. Se gosta de gestão e estratégia, product management é uma excelente opção. O importante é alinhar suas aptidões naturais com as demandas do mercado”, orienta.
2. Invista em formação prática, não apenas teórica
Ao contrário de carreiras tradicionais, a área de TI valoriza mais a capacidade de entrega do que diplomas ou certificados isolados. “O mercado de tecnologia é meritocrático no melhor sentido: o que importa é o que você consegue fazer, não onde você estudou”, afirma Mergulhão.
Por isso, ele recomenda uma abordagem “hands-on”, que sabe resolver problemas de forma prática e aprender fazendo desde o início. “Faça cursos online, participe de bootcamps, assista tutoriais no YouTube, mas, principalmente, coloque a mão na massa. Crie projetos pessoais, contribua com repositórios open source, monte um portfólio no GitHub. Isso vale muito mais do que apenas assistir aulas. Lembre-se, o conhecimento está disponível e, muitas vezes, gratuito. O diferencial está na disciplina e na consistência de quem estuda “, sugere o especialista.
3. Construa uma rede de contatos e aprenda com a comunidade
A tecnologia é uma das áreas mais colaborativas do mercado. Eventos, meetups, comunidades online e grupos de estudo são fundamentais para quem está começando. “Networking não é sobre pedir emprego; é sobre trocar experiências, aprender com quem já está na estrada e se manter atualizado sobre as tendências do setor”, explica o CEO da Impulso.
Ele destaca a importância de plataformas como LinkedIn, Discord, Slack e até X para acompanhar profissionais de referência, participar de discussões técnicas e se conectar com recrutadores. Hoje, por exemplo, a Impulso conta com uma comunidade que conecta mais de 160 mil profissionais de tecnologia para transformar o futuro do trabalho. A rede possui mais de 40 canais de interação e milhões de mensagens trocadas entre os participantes. Seja qual for o nível de experiência, os profissionais encontram um espaço para se conectar, compartilhar conhecimentos e avançar na carreira.
4. Desenvolva soft skills e entenda o contexto de negócio
Um erro comum de quem está entrando em TI é focar exclusivamente em habilidades técnicas. “Saber programar é essencial, mas não é suficiente. As empresas buscam profissionais que saibam se comunicar bem, trabalhar em equipe, entender o problema do cliente e propor soluções que gerem valor de verdade”, afirma.
Para Sylvestre, competências como comunicação, pensamento crítico, resolução de problemas e adaptabilidade são tão importantes quanto dominar uma linguagem de programação. “Um profissional que consegue traduzir tecnologia em benefícios para o negócio tem muito mais chances de crescer e se destacar no mercado”, reforça.
Ele também recomenda que os profissionais busquem entender o contexto das empresas onde atuam. “Não basta entregar código limpo; é preciso entender por que aquele código está sendo escrito, qual problema ele resolve e qual impacto ele gera. Essa visão estratégica diferencia profissionais”, completa.
5. Esteja preparado para uma carreira de aprendizado contínuo
O último passo, e talvez o mais importante, é cultivar uma mentalidade de aprendizado constante. “A tecnologia muda rápido. Ferramentas que são tendências hoje podem estar obsoletas em um ou dois anos. O que garante longevidade na carreira não é dominar uma tecnologia específica, mas ter a capacidade de aprender continuamente”, destaca Mergulhão.
Também é recomendado que profissionais reservem tempo regular para estudos, mesmo depois de empregados. “Dedique pelo menos algumas horas por semana para explorar novas linguagens, frameworks, metodologias. Acompanhe blogs técnicos, participe de webinars, faça cursos. Essa disciplina é o que separa quem constrói uma carreira sólida de quem fica estagnado”, aconselha.
O futuro pertence aos que se adaptam
De acordo com Sylvestre, o momento para ingressar em TI nunca foi tão favorável. “Estamos vivendo uma transformação profunda na forma como as empresas operam. Tecnologia deixou de ser um departamento e passou a ser o core business de praticamente todas as organizações. Isso significa oportunidades para profissionais de todos os perfis e formações”, analisa.
Ele também destaca o valor de profissionais que demonstram autonomia, proatividade e paixão por tecnologia. “Não importa se você tem 20 ou 40 anos, o que importa é a sua capacidade de entregar resultados, aprender rápido e se adaptar às mudanças. O mercado está aberto para quem está disposto a se desenvolver”, finaliza o CEO.
Com a crescente demanda por profissionais qualificados e a diversidade de carreiras disponíveis, o setor de TI se consolida como uma das escolhas mais estratégicas para quem busca estabilidade, crescimento e oportunidades de inovação. O primeiro passo está ao alcance de todos: basta começar.

