
Frequento uma academia de ginástica há bastante tempo. Lá, convivo com homens e mulheres de todas as idades. São pessoas alegres, que me proporcionam diversos tipos de bate-papo. Na maioria das vezes, as conversas são amenas, aquelas que servem apenas para ajudar o tempo a passar. Mas, entre todas, uma se destacou: foi quando me aproximei mais intensamente de um dos frequentadores.
Caro leitor, falo do meu novo amigo Dario, arquiteto aposentado, mais velho que eu em idade e mais jovem na disposição física. Vê-lo nos aparelhos — especialmente na esteira — é um exemplo de determinação. Ele corre por meia hora seguida, e o suor que escorre pelo seu rosto revela esforço e persistência.
Durante as pausas, conversamos bastante, e não apenas sobre amenidades, como acontece com os demais colegas. Falamos sobre política, educação, saúde e os obstáculos que a vida nos impõe. Dario me contou que passou por uma cirurgia em que os médicos tiveram de abrir seu peito. Deve ter sido uma daquelas operações extremamente arriscadas. Mas ele sobreviveu, graças a Deus, e hoje, para manter a forma, faz todos os exercícios com máxima dedicação.
Dario carrega no pulso um relógio que lhe permite controlar os exercícios e, principalmente, as batidas do coração. É um homem extremamente interessante, tanto por sua cultura quanto por sua determinação. Mas o que quero realmente destacar é sua prova de amizade: um amigo de verdade, que não se furta a dizer as verdades — doloridas ou não.
Certa vez, confidenciei a ele sobre minha condição de tabagista e o que o médico me recomendou: “Você está com enfisema pulmonar e precisa parar de fumar imediatamente.” Dario não apenas se preocupou, como iniciou uma batalha quase semanal, insistindo para que eu parasse. Toda semana, conversava comigo, relembrando o alerta do médico. Até que, um dia, trouxe um argumento irrefutável.
Ele disse: “Meu amigo, sou mais velho que você e não admito que você fure a fila. Respeite nossa idade. Eu sou mais velho e não abro mão do direito natural; ou seja, tenho o direito de morrer antes de você. Então, faça-me o favor de jogar essa porcaria no lixo, senão não falo mais com você!” Essa foi nossa última conversa, para minha infelicidade.