A inovação vem se destacando cada vez mais como um dos pilares para o desenvolvimento econômico e social no Brasil. Porém, desafios estruturais ainda são fatores limitantes para a exploração de todo potencial de expansão que ela proporciona. Na região Sul do Brasil, marcada por solidez econômica e indicadores sociais positivos, como alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e sistema educacional avançado, existem três ferramentas que se destacam para fomentar os ecossistemas de inovação: incentivos fiscais, créditos públicos e programas estaduais.
Apesar dos avanços significativos nos indicadores de inovação, os ecossistemas da região Sul enfrentam questões como deficiências logísticas, por conta de baixa integração ferroviária, portos saturados e dependência do modal rodoviário, o que eleva os custos e dificulta a competitividade global das empresas inovadoras. Soma-se a isso a escassez de mão de obra altamente qualificada em áreas técnicas e científicas, o que compromete a execução de projetos complexos e o desenvolvimento de soluções de base tecnológica.
Além disso, a burocracia para acesso a incentivos fiscais e financiamentos públicos permanece como um entrave, principalmente para pequenas e médias empresas, que enfrentam dificuldades na compreensão e na gestão dos requisitos legais.
Nesse contexto, as ferramentas de estímulo à inovação desempenham papel fundamental. Os incentivos fiscais permitem que empresas reduzam seus custos tributários ao investir em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I), tornando seus projetos mais viáveis financeiramente. Os programas estaduais atuam na articulação entre academia, setor produtivo e governo, promovendo sinergia local e regional. Já os financiamentos viabilizam projetos de alto risco tecnológico com linhas de crédito acessíveis e acompanhamento técnico especializado.
Confira a seguir um guia detalhando cada um desses recursos de fomento a ecossistemas de inovação.
Incentivos fiscais
Este é um dos mais importantes pilares de estímulo à inovação empresarial na atualidade, o que pode ser visto a partir dos resultados de 2023 da Lei do Bem, um dos principais mecanismos legais para esse propósito. No ano, foram investidos R$ 41,93 bilhões em projetos PD&I, um crescimento de 17% em relação a 2022. A renúncia fiscal total no país foi de R$ 9,82 bilhões no período.
Além disso, o número de empresas beneficiadas chegou a 3.878, com a região Sul responsável por 31,2% desse valor, atrás apenas do Sudeste, segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Esse desempenho reflete o engajamento das empresas sulistas, especialmente nos setores de software, eletroeletrônico, automotivo, alimentos e química, que lideram o uso da Lei do Bem na região. O setor de software, por exemplo, mais que dobrou o número de empresas beneficiadas entre 2019 e 2023 e quase triplicou os investimentos em PD&I no mesmo período, de acordo com o MCTI.
Além disso, os créditos de PIS e COFINS vêm sendo aproveitados de forma estratégica por empresas da região, especialmente em projetos que envolvem insumos tecnológicos, energia elétrica em centros de inovação, softwares e serviços técnicos especializados. Com a transição prevista para a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) até 2027, muitas empresas têm intensificado a recuperação desses créditos antes que o modelo atual seja substituído.
A Lei de TICs e o Programa Mover também têm sido aplicados com sucesso em polos industriais do Paraná e Rio Grande do Sul, especialmente em projetos voltados à automação, eletrônica embarcada e mobilidade sustentável. Esses mecanismos têm permitido que empresas locais reduzam custos com tributos e acelerem o desenvolvimento de tecnologias aplicadas à indústria automotiva e eletroeletrônica.
Financiamentos
Outra ferramenta importante de fomento aos ecossistemas de inovação são os créditos públicos, que têm sido essenciais para viabilizar projetos inovadores. O Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) se consolidou como a principal instituição da região que apoia a inovação, com ampla atuação no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Já a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) investe em projetos de alto risco tecnológico, inclusive em parcerias com universidades e institutos de pesquisa. Enquanto isso, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) oferece linhas específicas para inovação industrial, com condições diferenciadas.
Esses financiamentos ampliam a capacidade das empresas de executar soluções tecnológicas com segurança e escalabilidade, sendo essenciais para a transformação produtiva da região.
Programas estaduais
Como terceiro recurso, a região conta com programas estaduais criados para viabilizar a formação e manutenção dos ecossistemas de inovação. É o caso do SC Mais Inovação, lançado em 2024 e com atuação em 21 microrregiões de Santa Catarina. Ele prevê a expansão dos centros de inovação locais, além de parcerias estratégicas com universidades e agentes regionais para geração de impactos positivos à sociedade.
No Paraná, o Vale do Pinhão permanece como referência municipal em Curitiba, enquanto o novo Paraná Inovador amplia o suporte à transformação digital e ao setor de tecnologia mediante parcerias com o setor produtivo, instituições de ensino superior, instituições de pesquisa, organizações não governamentais e governos municipais, estadual e federal.
Já no Rio Grande do Sul, o Inova RS fortalece a articulação regional entre academia, setor produtivo e governo, e o RS Innovation Hub consolida Porto Alegre como ambiente de aceleração de startups e inovação internacional. Esses programas reforçam a competitividade regional e criam um ambiente propício ao desenvolvimento tecnológico e ao empreendedorismo local.
Tendências para ecossistemas de inovação no Sul
Com o auxílio das ferramentas detalhadas anteriormente, nos próximos anos, a região Sul deve assistir a um avanço em relação aos projetos inovadores. A expansão de setores estratégicos, como biotecnologia, inteligência artificial, energia limpa e mobilidade sustentável, está no radar, bem como a internacionalização de startups, com atração de capital estrangeiro, e a integração regional dos ecossistemas de inovação, promovendo sinergia entre polos como Florianópolis, Curitiba e Porto Alegre.
Entre as principais tendências, também constam o aumento da participação em exportações de alto valor agregado, com destaque para produtos intensivos em tecnologia e do setor automotivo, além do fortalecimento de políticas públicas e editais regionais, como o novo programa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS), que destina R$ 20 milhões para ecossistemas de inovação no estado.
Apoio especializado
Para que essas projeções se concretizem, o suporte oferecido por consultorias especializadas em incentivos fiscais e financiamento para PD&I é um vetor estratégico para empresas que desejam crescer com inovação e manter sua competitividade em um mercado cada vez mais exigente.
Ao identificar oportunidades, estruturar projetos e garantir conformidade legal, uma consultoria permite que as organizações financiem seus próprios avanços tecnológicos com recursos que, muitas vezes, seriam subutilizados. Isso reduz o risco financeiro da inovação, melhora a previsibilidade orçamentária e acelera o desenvolvimento de soluções competitivas.
Com esse tipo de respaldo, negócios do Sul podem ter maior aproveitamento dos incentivos fiscais disponíveis, com segurança jurídica e conformidade técnica; agilidade na estruturação de projetos de PD&I, com suporte desde a concepção até a prestação de contas; acesso facilitado a financiamentos públicos e privados, por meio de mapeamento de editais e linhas de crédito; fortalecimento da cultura de inovação, com apoio na governança e na estratégia de médio e longo prazo; e integração com ecossistemas locais, como hubs, universidades e eventos regionais de inovação.
Em meio aos desafios e oportunidades que permeiam o cenário dos ecossistemas de inovação do Sul, conhecer as estratégias disponíveis de fomento ao desenvolvimento local é essencial para que a região se consolide como um dos principais polos de inovação do Brasil e que os empreendimentos se tornem cada vez mais competitivos e disruptivos, proporcionando ganhos à sociedade como um todo.

Autora:
Kelin Bontorin é Gerente de Negócios do FI Group, consultoria especializada na gestão de incentivos fiscais e financiamento à Pesquisa & Desenvolvimento (P&D).