A educação brasileira atravessa uma crise profunda, marcada pela contradição entre o que se exige dos estudantes e o que o sistema realmente oferece. A escola virou um espaço de decoreba, provas e preparação para vestibulares, distante da vida real e incapaz de formar sujeitos críticos.
Faz sentido acreditar que basta citar Arendt, Foucault ou Nietzsche numa aula corrida para que jovens compreendam conceitos complexos, cheguem preparados à universidade e ainda mantenham equilíbrio emocional? Essa lógica transforma o ensino em um processo mecânico, sem conexão com o cotidiano dos alunos.
Quando chegam ao ensino superior, muitos se sentem perdidos e desesperados, sem ferramentas para lidar com a pressão acadêmica. E, em vez de reconhecer a falha do sistema, joga-se sobre eles a culpa pelo fracasso.
Esses jovens, em grande parte moradores das periferias, enfrentam desigualdade, violência e falta de oportunidades. Como esperar que absorvam conteúdos abstratos se estes não dialogam com suas vidas?
Os professores, por sua vez, também são prejudicados. Com baixos salários, pouca autonomia e currículos engessados, tornam-se reféns de metas e burocracias. Nesse cenário, é quase impossível transformar filosofia, história e sociologia em pontes reais com a realidade dos estudantes.
Não é justo culpar apenas alunos ou professores. O fracasso está no próprio modelo educacional, que não reconhece a educação como prática viva e transformadora. Ao reduzir o ensino a treinamento para provas, perpetua desigualdade e exclusão.
Se não houver mudança radical, seguiremos num ciclo de desespero, ansiedade e descrença. A escola deveria ser espaço de emancipação e autonomia; mas, do jeito que está, continua sendo reflexo cruel das injustiças estruturais do Brasil.
Autora:
Leticia Letterman