Mas nem tudo é calmaria. Há uma Praia Grande que brilha na orla, a “Miami Brasileira” e outra que sofre com o descaso, como a Zona 3, marcada por esgoto a céu aberto e ruas sem asfalto. Quase outra cidade, esquecida por quem deveria cuidar dela.
Conheci a Praia Grande em SP, essa crônica é baseada nela mas pode ser um espelho para qualquer cidade litorânea.
Ela é um refúgio de belezas, quase um SPA natural, onde a alma relaxa e as energias se renovam.
Morar no litoral é um privilégio. Quem aproveita as caminhadas ao amanhecer, os exercícios físicos à beira-mar e os programas voltados para a terceira idade, encontra uma qualidade de vida que muitos sonham em ter.
Entre coqueiros, areia e mar, a vida corre em direções opostas: de um lado, carros de luxo desfilam pela avenida da praia; de outro, ônibus lotados de trabalhadores, bicicletas rumo à labuta e a realidade dura de quem vive do comércio formal e informal, na rotina quase covarde do 6×1.
Há também a Praia Grande dos turistas, que celebram no paraíso: caixas de som, bebidas, fumaça no ar. No mesmo espaço, ambulantes sonham em fechar o dia com o sustento para suas famílias. Esses sim são heróis. Com seus carrinhos pesados, enfrentam sol, chuva, feriados ou dias comuns. Alguns se vestem de super-heróis para encantar crianças, mas já são super-heróis em suas casas, porque desistir não é opção.
No fim, a praia é o território mais democrático que existe. Na areia, ricos e pobres se confundem. Ali, todo mundo é igual, aproveitando o presente que Deus ofereceu: o mar.
E mesmo quando falta dinheiro, sobra o privilégio de morar onde o pôr do sol é uma tela viva, pintada todos os dias, em cores que nenhum artista conseguiria reproduzir. No balanço da vida, apesar dos apertos e do esquecimento das autoridades, seguimos privilegiados. Temos o mar, o céu e a areia. Como já disse um visitante: “Antes sofrer na praia, do que em um metrô lotado às 18h, na estação da Sé.”