
Conversa de Bar
— Toma mais uma cerveja?
— Claro que sim. Só tomamos uma dúzia até agora, não vai fazer diferença.
— Garçom, por favor, traz uma estupidamente gelada e renova nossos copos.
A conversa, nesse canto de bar, sempre encontra atalhos curiosos. Entre um gole e outro, amigo, me diga: se pudesse falar diretamente com Deus, o que pediria?
— Eu? Fácil. Pediria para acertar na loteria e ficar rico de verdade. E você?
— Eu pediria apenas sabedoria.
— Tá de brincadeira! Sabedoria não engorda conta bancária, não compra carro, relógio, casa nem apartamento. Duvido que só pediria isso.
— Pode acreditar. Vivo com o essencial porque o extraordinário, aprendi, só traz complicação. Quanto mais se tem, mais se teme perder.
— Garçom, traz mais uma pra nós.
— Amigo, deixa eu te explicar por que só quero sabedoria. Veja: não tenho carro, logo não me estresso no trânsito, não me preocupo com multas, nem com prestações. O Leão não me assombra, porque não preciso declarar imposto de renda. Vivo em paz.
— Só preciso de uma roupa limpa, comida na mesa e dinheiro pra pagar a cerveja do amigo. Saúde? Uso o que a vida oferece. Parabenizo o SUS, que cuida de mim.
— Garçom, a saideira!
— Agora, veja você. Trabalha feito louco pra pagar o luxo do status, vive gastando com multas, prestações, IPTU, juros. É difícil ter sossego assim. Vive correndo atrás de dinheiro, reclamando de dor de cabeça, de gastrite. Mesmo que Deus lhe desse a felicidade de ganhar na loteria, não teria paz. Pra manter riqueza, o preço costuma ser a própria saúde.
— Deus me livre de ser rico. Prefiro encostar a cabeça no travesseiro e dormir em paz, acordar de manhã para viver esse paraíso terreno sem estresse.
— Garçom, traz a conta. Hoje eu pago!