Ah, Brasil, esse teatro de sombras onde o enredo é sempre uma tragicomédia de interesses cruzados e coincidências suspeitas. Na última temporada, temos uma operação espetacular contra o PCC que revelou um esquema bilionário de lavagem de dinheiro na Faria Lima, envolvendo uma bagatela de R$ 52 bilhões — isso mesmo, 52 bilhões sujos circulando no epicentro financeiro do país.
Mas a cereja do bolo? Pouco tempo antes dessa operação estourar, os parlamentares, esses mestres da politicagem sorrateira, decidiram no silêncio da noite forçar a aprovação da famigerada PEC da Blindagem, aquele escudo dourado contra qualquer investigação incômoda, e a PEC do fim do foro privilegiado, que — ironicamente — parece mais uma manobra para atrasar processos e garantir proteção enquanto a poeira assenta.
Coincidência? Ah, não sejamos inocentes. A pressa para cegar suas penas, no exato momento em que a batata dos políticos começa a fritar com a operação, deixa um cheiro forte no ar — cheiro de operação vazada, de informações privilegiadas, de cúmplices desconfortáveis tentando se salvar antes que o barco afunde.
Imaginemos a cena: deputados e senadores, alarmados, reunidos nos corredores escuros do Congresso, tramando como garantir que nenhum passo dado pela Polícia Federal fosse além do permitido. Afinal, é cada vez mais claro que parte desses políticos pode estar de mãos dadas com o esquema do PCC, seja diretamente ou por omissão cúmplice, lucrando enquanto o crime organizado lava dinheiro às suas custas.
A PEC da Blindagem, antes tachada de exagero por alguns, agora ganha contornos de uma capa de invisibilidade legislativa, criada para proteger os já suspeitos, bloqueando investigações e dando ao Congresso o poder de engavetar qualquer denúncia inconveniente. Já a PEC do fim do foro, aos olhos do público, é como uma promessa de justiça igual para todos, mas no tabuleiro político serve como um dispositivo para jogos de atraso e proteção seletiva.
O fato é que, enquanto a PF massacrava o PCC na Faria Lima, os políticos corriam para blindar não só a si mesmos, mas o próprio sistema que permite que bilhões sujos circulem livres nas veias do capitalismo tupiniquim. A operação mostra o iceberg do crime, mas a blindagem legislativa garante que o que está abaixo da superfície — e, aparentemente, dentro do Congresso — seja protegido de qualquer luz incômoda.
Se essa não é uma sinfonia maluca de proteção mútua, é difícil saber o que é. Entre esquemas bilionários de crime organizado e artimanhas legais para enterrar suspeitas, o Brasil mais uma vez mostra que o verdadeiro jogo do poder não está na transparência, mas no silêncio abafado das noites parlamentares em que se promete justiça para todos — exceto para os próprios.
Bem-vindos ao espetáculo em que políticos e criminosos parecem parceiros de palco, cada um garantindo que a batata quente não caia nas mãos erradas enquanto o circo continua rodando.