AUTOR(A)GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ
A obra Cem Anos de Solidão é considerada um marco do realismo mágico latino
americano, gênero no qual o cotidiano se mistura com o fantástico de forma natural, sem
espanto por parte dos personagens. Publicado em 1967, o romance narra a história da
família Buendía, ao longo de sete gerações, na fictícia cidade de Macondo, que simboliza
a América Latina e suas contradições sociais, históricas e culturais.O enredo inicia-se com
a fundação de Macondo por José Arcadio Buendía e Úrsula Iguarán, casal que, entre
obsessões e paixões, inaugura uma linhagem marcada pela repetição de nomes, destinos
e erros. A narrativa atravessa guerras civis, surtos de peste, ascensões políticas e
decadências familiares, em um ciclo que reforça a ideia de que o tempo é circular, e não
linear.O estilo de García Márquez é notável pela fusão entre história e mito, criando uma
atmosfera em que acontecimentos sobrenaturais (como ascensões aos céus, chuvas
intermináveis e ressuscitações) convivem com fatos históricos, como as guerras de
independência e a exploração colonial. O romance é constantemente enquadrado nesse
movimento, em que o “extraordinário” se apresenta como parte intrínseca da realidade
(Carpentier, 1949).
Para críticos como Ángel Rama, Macondo representa a América Latina, com sua
herança colonial, violência política e desigualdade social. A repetição dos nomes e
destinos familiares evoca a noção de eterno retorno (Mircea Eliade), sugerindo que a
história latino-americana está condenada a repetir ciclos de glória e tragédia. A estrutura
do romance desafia a linearidade temporal, aproximando-se das reflexões de Bakhtin
sobre o “cronotopo”, em que espaço e tempo são indissociáveis na constituição do sentido
literário. Cem Anos de Solidão é mais do que a saga de uma família; é uma metáfora da
própria América Latina, com suas esperanças, fracassos e utopias. A riqueza narrativa de
García Márquez, aliada a sua crítica social e política, faz da obra um clássico universal,
capaz de dialogar com leitores de diferentes contextos.
REFERÊNCIAS
García Márquez, G. Cem Anos de Solidão. Rio de Janeiro: Record, 1967.
Carpentier, A. El reino de este mundo. México: Fondo de Cultura Económica, 1949.
Rama, Á. A cidade das letras. São Paulo: Brasiliense, 1985.
Eliade, M. O mito do eterno retorno. Lisboa: Edições 70, 1971.
Bakhtin, M. Formas de tempo e de cronotopo no romance. São Paulo: HUCITEC, 1988.
Autor:
Professor Dr. José Rinaldo Domingos de Melo