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sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Casa colonial renasce como lar contemporâneo em meio ao verde da serra

Casa colonial renasce como lar contemporâneo em meio ao verde da serraCom 420 m², a casa de veraneio ganhou soluções sustentáveis, vãos generosos que valorizam a conexão com a natureza e um novo estilo respeitando à identidade do local

Um platô no alto da serra de Itaipava, com vista generosa para as montanhas de Petrópolis, foi o ponto de partida para a criação do refúgio afetivo e funcional de um casal cosmopolita e seus dois filhos pequenos. Viajantes assíduos e acostumados a encarar o mundo em família, os moradores delegaram ao arquiteto Felipe Rohen —com quem já desenvolveram projetos anteriores — a missão de transformar uma antiga construção colonial em uma casa contemporânea de 420 m², confortável e cheia de identidade para construir memórias em família, descansar e se conectar com a natureza na serra fluminense.

Um dos principais desafios do projeto foi a falta de informações técnicas sobre a construção existente, que resultaram em adequações durante a obra. Apesar de pequena, a casa possuía muitos pilares e vigas com alturas diferentes, o que acentuou o desafio, já que o planejamento envolvia grandes vãos para as janelas. A construção antiga também dificultou o processo criativo. “A casa começava no nível da rua interna e sem recuo. Do ponto de vista arquitetônico isso não é muito bom, pois inviabiliza um possível percurso de entrada, uma escada, rampa ou mesmo um jardim frontal, integrando a casa com o entorno” explica o arquiteto. Para resolver o impasse, Felipe reposicionou o acesso principal para a lateral do terreno. O novo caminho, marcado por uma escada de dormentes, mantém a entrada da casa afastada da rua e conectada ao nível da sala de estar.

 


(antes da reforma)

Da antiga fachada colonial, de tijolinhos aparentes, só restaram fotos. A nova fachada segue o estilo contemporâneo, marcado por linhas retas e um telhado oculto por platibandas. “Não conseguia imaginar uma casa branca minimalista ou com materiais muito chamativos na fachada. Encontramos um equilíbrio entre forma e acabamentos, com traços retilíneos e grandes esquadrias, porém revestidas com pedras, tons terrosos discretos e algumas esquadrias mimetizadas, como o portão da garagem e o social”, diz Felipe Rohen. As jardineiras que contornam as esquadrias e o tom azul vibrante das portas não são apenas escolhas estéticas, e sim, acenos delicados à paisagem construída ao redor. Em meio às casas antigas da região, pontuadas por janelas e portas coloridas em tons de azul, verde e amarelo, esses elementos funcionam como um gesto de pertencimento. Uma forma sutil e afetiva de dialogar com a memória local, sem abrir mão da linguagem contemporânea da nova morada.


Como a casa é utilizada em fins de semana, foi preciso pensar, sobretudo, na manutenção dos acabamentos. “Queríamos muito a presença da madeira, porém, além dos custos altos, o material demanda reparos com frequência”, pondera o arquitetol. Para atender as expectativas dos moradores e vencer a questão da manutenção, Felipe lançou mão de estruturas de alumínio com textura que remete ao material natural, para os painéis ripados da fachada, pergolados e brises. Entre as soluções de baixa manutenção, o profissional ainda traz sustentabilidade para a casa nova, com lanternins que permitem a incidência de luz natural durante todo o dia e a instalação de painéis solares, para atender a piscina e os banheiros.
Seguindo o estilo contemporâneo desejado pela família, Felipe manteve a paleta de cores e acabamentos neutra e praticamente única, a não ser pelo contraste com o azul das portas. O arquiteto explorou ao máximo os materiais vinílicos, por seu conforto térmico e praticidade para instalação e manutenção. Escadas, pisos e tetos foram revestidos com modelos diferentes do revestimento, sendo um com aparência de cimento queimado e peças quadradas, e o outro com visual que reproduz madeira em réguas. “Com isso, evitamos as trincas do cimento natural que surgem com o tempo no piso e reduzimos drasticamente os custos com lambris nos tetos — uma escolha que equilibra custo e benefício, sem abrir mão do visual acolhedor da madeira”, destaca Felipe.

A escolha da propriedade foi estratégica. Ainda que a construção existente fosse simples e sem grandes atributos, o terreno oferecia uma posição privilegiada, com desnível natural que favorece a vista e a ventilação cruzada. “O único ponto interessante da casa original era o pé-direito duplo da sala, que resolvemos manter e transformar em sala de jantar. No mais, repensamos tudo”, explica Rohen. No segundo pavimento da casa, as áreas sociais são integradas, não apenas pela ausência de alvenarias divisórias, mas pelos revestimentos que seguem em harmonia e sem grandes variações. A estrutura básica foi mantida, mas toda a planta foi redesenhada para ampliar ambientes como a suíte do casal, que junto aos outros dois quartos ficam isolados em uma área elevada, trazendo mais privacidade à família.


As janelas amplas, de peitoris baixos, colocam o verde da serra ao deleite dos observadores, enquanto as generosas jardineiras, repletas de Filodendros (Philodendron), conectam o jardim ao interior da casa. “O casal queria os maiores vãos possíveis para valorizar a vista e trazer mais luz natural para dentro de casa”, explica Felipe Rohen. Como a extensão completa de vidro na fachada não seria possível, devido a estrutura, o arquiteto camuflou os pilares, criando um requadro que emoldura a paisagem. “Incluímos um banco baú a 45 cm do chão, onde os moradores podem apreciar a vista através da janela.  









O quarto do casal ganhou a atmosfera de suíte de hotel, com um layout que integra o banheiro ao ambiente. A área de banho, revestida com o porcelanato Roca Olaria Blue, se conecta ao lavatório, marcado por um delicado canteiro de seixos de rio — mais um gesto de aproximação com a natureza, presente em toda a casa. Brises móveis garantem a integração visual entre os espaços e favorecem a ventilação cruzada, essencial em uma residência que permanece fechada durante a semana.


A marcenaria, de linhas simples e distribuição estratégica, reforça a estética leve e funcional da casa de veraneio. Na sala de jantar e na suíte, as boiseries assumem o papel de ponto focal, adicionando um toque de sofisticação ao projeto. Já os brises móveis, além de compor a linguagem visual, cumprem a função de favorecer a ventilação cruzada, surgindo como elementos de conexão entre os ambientes sociais. A cozinha interna, compacta, revela sua personalidade nos detalhes: bancadas enxutas, armários em laca verde-menta com ares provençais e uma charmosa parede de tijolinhos cimentícios completam a composição.

O protagonismo da nova morada está na área gourmet externa, pensada para receber amigos e familiares em meio a um cenário de tirar o fôlego. Foram sete meses de obra, conduzidos com criatividade e precisão técnica, que contornaram as limitações da estrutura original. Para integrar a arquitetura à paisagem exuberante, Felipe apostou na leveza da estrutura metálica, que permitiu a criação de grandes vãos envidraçados e trouxe fluidez ao desenho. O anexo, concebido como um volume leve e despojado, exibe a estrutura metálica aparente e telhas sanduíche pintadas em tom terroso, em harmonia com o entorno natural. Ao lado, a piscina compacta com borda infinita e aquecimento solar remete mais a um spa do que a uma área de lazer tradicional, cercada por árvores frondosas que parecem proteger e abraçar a casa.



No interior do anexo, o que poderia ser um espaço rústico convencional surpreende com uma atmosfera moderna e inesperada. Fogão à lenha, forno de pizza e churrasqueira aparecem em versões inox com design industrial, contrastando de forma elegante com a marcenaria em MDF freijó e a robusta mesa de tronco natural. “É como um celeiro envidraçado contemporâneo, com uma estética mais solta, despretensiosa e autêntica”, define o arquiteto.

Em tempos em que muitos projetos parecem seguir fórmulas prontas, Felipe Rohen defende o valor da escuta e da sensibilidade. “Com a popularização dos telhados embutidos e das linhas retas, vemos muitas casas com uma estética genérica, sem alma. Aqui, mesmo partindo de uma construção preexistente e com volumetria limitada, conseguimos criar uma narrativa com textura, cor e propósito. Foram os materiais, os detalhes e as escolhas afetivas que deram vida à casa”, completa Felipe Rohen.

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