Silas Malafaia sempre gostou de se vender como pastor de almas, mas os áudios do seu celular revelaram outra vocação: ser pastor de crises políticas. Não dava para inventar o melhor. O homem que prega contra palavrões no púlpito foi flagrado xingando ninguém menos que… Eduardo Bolsonaro. O “03 do mito”, ridicularizado pelo conselheiro espiritual preferido do pai. Nem Freud explica. Aqui, só mesmo a PF.
E não para por aí. Entre um insulto e outro, Malafaia aparece “aconselhando” Jair Bolsonaro sobre como resistir às investigações, evocando, pasmem, o exemplo americano da anistia de Nixon. Sua tese: é preciso “pressionar o Supremo”, pois só sob coação os ministros dariam uma saída honrosa ao ex-presidente. Eis o evangelho segundo Silas: quando a graça não salva, vale gritar, xingar e intimidar.
Não se trata mais de pregação, mas de consultoria golpista: um pacote completo incluindo metáforas bíblicas, grosserias familiares e uma pitada de geopolítica de botequim. Malafaia virou o gospel de Frank Underwood (da série House Of Cards), mas sem a sofisticação: apenas berrando nos áudios como quem vê no volume a chance de substituir a inteligência.
E, claro, na hora de posar diante das câmeras, ele recitou seu mantra habitual: “Isso é perseguição! É contra o povo de Deus!”. O truque é velho: tudo o que toca em Malafaia não é um problema pessoal, é uma perseguição do Estado contra milhões de fidelidade. O detalhe é que Deus, até aqui, não foi citado nos autos. Quem foi citado mesmo é ele, com orientações explícitas para que um ex-presidente pressione um tribunal inteiro.
O cúmulo da ironia está justamente nos alvos da fúria malafaica. Palavrões contra um Bolsonaro. E instruções para amedrontar ministros do Supremo. Isso não é defesa da democracia. Isso não é fé. Isso é, simplesmente, travestido de grife religiosa.
Malafaia insiste que “não tem medo”. Natural: quem passa a vida inteira gritando no microfone provavelmente já perdeu a sensibilidade auditiva — inclusive a própria. Mas agora o problema não é volume, é conteúdo. O que ele gritou em privado virou prova pública: coação no curso do processo, devidamente traduzida em áudios de WhatsApp.
É simbólico. O pastor que sempre vendeu sua fala como inspirado pelo Alto foi desmascarado pelo baú de áudios do seu próprio bolso. Nada de pregação, nada de consolo, nada de palavra divina. Só indignação histórica, grosseria contra aliados e instruções para que Bolsonaro tratasse a Justiça como trataria um obreiro teimoso: na base do grito e da pressão.
No fim, se os evangélicos brasileiros procurarem naquele celular algum sinal de Deus, só vão encontrar o eco do próprio Malafaia, falastrão, colérico, conspirador, empurrando xingamentos contra um filho do “mito” e indicando que um presidente lidasse com o Supremo como Nixon lidaria com Watergate.
Pois é. Quando o homem de fé vira homem de pressão, o evangelho se transforma em ato de conspiração. E o Silas “Mala-fala”, que jurou ser mensageiro divino, revelou-se apenas o correio de voz de um projeto golpista.